O senador Marcos do Val (Podemos), envolvido em polêmica sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, disse que forneceu “informações desencontradas” para a Justiça brasileira em um plano que ele descreve como “estratégico”. A declaração foi dada em vídeo publicado pelo ativista Ronny Teles em seu canal do YouTube na noite de terça-feira (7). “Tudo é estratégico. Estou tranquilo, o resultado está dando certo”, disse. “Falaram que eu fiz essa manipulação de notícias desencontradas, mas aí um dia vocês podem entender”, disse o senador entrando no carro.
O ativista questionou também se Marcos Do Val defendia o afastamento do ministro Alexandre de Moraes da relatoria do inquérito e o senador respondeu: “Com o tempo vocês vão entender e vão ficar muito felizes”, finalizou.
Na semana passada, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, Marcos do Val declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado. Pouco depois, em entrevista à revista Veja, o senador detalhou o suposto plano de Bolsonaro e aliados para tentar comprometer o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ele disse a jornalistas que Bolsonaro esperava seu posicionamento para grampear o magistrado e afirma ter se negado a participar do plano, denunciando a irregularidade. Mais tarde, Marcos do Val mudou sua versão e passou a dizer que a ideia não foi de Bolsonaro e sim do deputado Daniel Silveira, que teria tentado manipular o ex-presidente. Depois, voltou a se pronunciar para pedir o afastamento de Moraes do inquérito que mira Bolsonaro.
Além disso, o parlamentar chegou a dizer que renunciaria ao cargo e deixaria a política brasileira, voltando para os Estados Unidos, onde ele afirma já ter ministrado treinamentos a agentes da SWAT (grupo de elite da polícia), Nasa (agência espacial), FBI (polícia federal) e Navy Seals (Marinha americana). Mais tarde, o senador recuou da decisão de renunciar ao mandato.
A inconsistência das declarações dadas fez com que Marcos do Val se tornasse alvo do STF. Atendendo a um pedido da Polícia Federal, na sexta-feira (3), Alexandre de Moraes determinou que fosse instalada uma petição autônoma e sigilosa para investigar o senador. No mesmo dia, ele teve seu celular retido para preservar provas. O aparelho foi devolvido ao senador na última terça-feira (7) depois dos dados serem extraídos, segundo divulgou a corporação.
O ministro também pede que Marcos do Val seja investigado pelo possível cometimento dos crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo. “Ouvido sobre os fatos, o Senador Marcos do Val apresentou, à Polícia Federal, uma quarta versão dos fatos por ele divulgados, todas entre si antagônicas, de modo que se verifica a pertinência e necessidade de diligências para o seu completo esclarecimento”, afirmou o ministro em sua decisão.
No mesmo despacho, Moraes determinou que os veículos de imprensa Veja, CNN e Globo News enviem ao Supremo a íntegra de entrevistas concedidas pelo senador Marcos do Val sobre a denúncia de tentativa de golpe.