A intenção do presidente Jair Bolsonaro de indicar o filho Eduardo para a Embaixada brasileira nos Estados Unidos gerou polêmica, e não apenas no cenário político de Brasília. Antes mesmo que o assunto saísse do terreno da especulação, a suposta nomeação encheu as mídias sociais de comentários (contrários e favoráveis) e foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. Até a imprensa internacional não se furtou de abordar o assunto. “A ideia de oferecer ao filho caçula o primeiro posto em Washington certamente vai reacender as preocupações sobre nepotismo no governo de Bolsonaro”, previu o jornal Financial Times, de Londres.
“É uma coisa que está no meu radar, sim, existe essa possibilidade. No meu entender, poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente”, disse Bolsonaro, acrescentando que um dos pontos positivos de Eduardo é ser amigo dos filhos do presidente dos EUA, Donald Trump. O filho do presidente não titubeou ao ser indagado sobre suas credenciais para o cargo: “Falo inglês, espanhol, sou o deputado mais votado da história do Brasil, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Isso me dá uma certa qualificação”, explicou o Filho 03, como é chamado nos bastidores.
Quem ocupava o cargo mais importante e estratégico do Itamaraty no exterior era o embaixador Sérgio Amaral, diplomata de carreira. Ele está desde 1971 no Ministério das Relações Exteriores, tendo servido em países como França, Alemanha, Suíça, Reino Unido. O diplomata também foi ministro de Estado e porta-voz do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Amaral foi afastado das funções pela atual administração em abril, mas seu nome ainda consta no portal do MRE como embaixador em Washington DC.
No entanto, Eduardo Bolsonaro revelou que não havia recebido qualquer convite oficial para assumir a Embaixada. “Se isso acontecer, cumprirei da melhor maneira a missão recebida pelo presidente”, acrescentou o deputado, afirmando que estaria disposto a renunciar ao mandato. Mas aliados do governo já manifestaram preocupação com a saída de Eduardo do Congresso. O deputado Capitão Augusto (PL-SP) pretende apresentar em caráter de urgência uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que resguardaria o mandato de deputados e senadores que assumirem os cargos de chefe de missão diplomática temporária ou permanente.
Por outro lado, as críticas à intenção do presidente foram muitas. No meio diplomático, a notícia caiu como uma bomba, pois a medida quebraria o protocolo do setor, já que tudo indica que não houve consultas ao país anfitrião e o nome de Eduardo ainda teria que ser submetido à Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ninguém no MRE comentou abertamente a decisão de Bolsonaro, mas é certo que muitos contavam com a indicação do embaixador Nestor Foster, amigo pessoal do ministro Ernesto Araújo, para o cargo.