Nunca havia chegado tão fundo na minha vida. A pressão cresceu muito conforme o tempo passou, e se eu tentasse sair de lá morreria na hora! Mas o submarino era seguro e relativamente confortável… Fui a Curaçao para participar de duas saídas com o submarino Curasub, que pode chegar a uma profundidade de 300 metros. Por fora parece meio claustrofóbico, e para entrar e sair é meio apertado – uma escotilha por onde algumas pessoas mais “cheinhas” não passariam.
Antes de começar, eles pesam os passageiros para poder balancear o equilíbrio dentro da água, caso necessário colocam dentro peças de lastro de um lado. Após entrar eles dão algumas instruções de como funciona, e quais são os procedimentos de emergência – como em aviões, tem máscara de ar comprimido caso dê algum problema na ventilação interna. Só não tem saída de emergência, afinal se você tentar sair a 300 metros de profundidade, morre na hora pela pressão. O submarino é completamente independente, não está ligado a cabo algum à superfície e caso ocorra uma emergência ele tem autonomia de até cinco dias no fundo. O problema seria usar o “banheiro” (saquinhos e garrafinhas plásticas).
O submarino pertence ao dono do resort e é usado principalmente para o turismo – cada saída custa $650.00 e dura uma hora e meia. No meu caso não cobraram, fui para poder dar algumas dicas sobre conchas. Além do turismo, ele também é utilizado em pesquisas marinhas por instituições estrangeiras, e para coleta de peixes ornamentais – sem isso, ficaria impossível custear sua caríssima manutenção e mão de obra especializada. São vários pilotos treinados para comandar o equipamento – e são extremamente profissionais, seguem à risca todos os protocolos de segurança. Qualquer erro pode ser fatal mesmo a poucos metros de profundidade. Além do preju de dois milhões de dólares que é seu valor. A manutenção é feita detalhadamente, no fim de cada dia ele é retirado do mar por um guindaste fixo na margem e mergulhado em uma piscina de água doce por alguns minutos. Após isso é secado com panos e com um soprador, e ele fica guardado em uma garagem coberta.
A minha primeira saída foi após o almoço (e claro que fiquei pensando se eu devolveria aquele sanduiche no chão do submarino…). Desci desajeitadamente segurando pelas laterais da escotilha até sentir o piso. Para minha surpresa lá dentro não era tão apertado como imaginei a princípio, mas claro que também não era o “Seaview” de Viagem ao Fundo do Mar (se você tiver menos de 40 anos, procure no Google). Além de mim e o piloto, o dono também foi. O piloto fica sentado no meio e há dois colchonetes nas laterais, com vista para a bolha de acrílico da frente. Atrás têm dois assentos que poderiam ser ocupados por outros passageiros, mas ficaram vazios. Apesar do relativo conforto, depois de três ou quatro horas deitado de bruços tudo começa a doer, os ombros, o pescoço e as costas. O ar não é refrigerado, mas abaixo de 100 metros a água é fria podendo chegar a 11 graus Celsius. Isso resfria o casco e a temperatura interna fica agradável. É só não encostar nas paredes, pois a água do ar condensa e chega a escorrer.
A descida é gradual pela encosta, e conforme a profundidade aumenta a vida marinha começa a escassear. Muitos animais marinhos dependem da luz para seu ciclo de vida, mas até uns 200 metros de profundidade ainda é possível encontrar uma quantidade razoável de peixes e outros animais. Aliás, alguns destes peixes só são encontrados a partir daquela profundidade, e por isso são raros. Eu fiquei impressionado em ver peixes-leão vivendo abaixo de 150 metros – são invasores do oceano Pacífico introduzidos por acidente no Caribe, e já infestaram um monte de lugares. Eu só não sabia que os encontraria tão fundo.
O submarino continuava descendo e o mar ficando mais escuro, as luzes tiveram que ser acendidas. Eles estavam procurando uma espécie rara de peixe-borboleta, que seria exportado para o Japão. Perto dos 300 metros de profundidade não havia praticamente movimento algum de correnteza e flutuávamos como se estivéssemos no espaço – aliás, eles já levaram astronautas americanos nessas saídas, e eles disseram que aquela sensação era o mais próximo do espaço que se poderia ter na terra. Pense bem, 300 metros são o equivalente a um edifício de 100 andares!
A habilidade do piloto era muito grande, ele ficou a cinco centímetros do paredão e não encostou sequer uma vez! Se fosse eu pilotando, provavelmente teria rachado a bolha de acrílico frontal na primeira descida.