DA REDAÇÃO (com Thinkprogress) – Todos os sábados, cerca de cem cubanos, jamaicanos, mexicanos, haitianos e imigrantes de outras etnias fazem fila no estacionamento de um shopping center de Fort Lauderdale. Alguns, antecipando-se à longa espera, carregam um lanche. Todos com um só objetivo: começar a jornada para tornar-se cidadão americano.
De todo o país chegam notícias do número recorde de imigrantes legais que buscam a cidadania, motivados pela retórica anti-imigrante de Donald Trump e ansiosos para votar contra ela. No total, são cerca de nove milhões de residentes legais que se qualificam para a cidadania, mas ainda não a solicitaram.
No início do mês, grupos de apoio a imigrantes começaram uma campanha, orçada em $15 milhões, para ajudar o maior número de pessoas a tornarem-se cidadãs antes da data-limite no começo de outubro. Os esforços estão concentrados em três estados onde há imigrantes em número suficiente para influir no resultado da eleição: Nevada, Colorado e Flórida.
Segundo o governo federal, mais de 800 mil pessoas na Flórida são imigrantes que se qualificam para a cidadania, número mais que suficiente para decidir uma eleição em um estado ideologicamente indefinido (swing state), onde as eleições costumam ser disputadas até o último voto.
“Muitas pessoas não conhecem o processo. Pensam que precisam de um advogado, que custa muito dinheiro, e que não têm tempo por causa do trabalho,” diz Ivan Parra, voluntário na tarefa de ajudar imigrantes a se tornarem cidadãos, ao noticioso ThinkProgress. “E pensam que não podem arcar com a taxa de $680 para o processo, porque a maioria é de trabalhadores com salário mínimo. Não sabem nada sobre a isenção da taxa, ou são muito orgulhosos para a usarem. Alguns têm medo de expor seus dados pessoais para alguém que não conhecem. E o medo é real, porque se eles acidentalmente declararem alguma coisa que não seja verdade, isto é crime e podem ser deportados.”
Cidadão americano de origem colombiana, Parra está à frente da Florida Immigrant Coalition no esforço de esclarecer a comunidade imigrante no altamente diversificado condado de Broward, no sul da Flórida, onde está a maior concentração de brasileiros no estado. Sabendo que grande parte da comunidade imigrante não tem acesso a TV ou Internet, ele usa igrejas, líderes comunitários e pequenos negócios para informá-la.
“Eu sempre pergunto às pessoas por que elas querem requerer [a cidadania], mas este ano a pergunta parece meio estúpida, porque eles respondem, “porque quero votar, é claro!”, disse Parra ao ThinkProgress. “Há uma urgência nova. As pessoas querem realmente ser cidadãs agora. Chegaram à conclusão de que têm poder.”
Ileana Sardinas, que veio de Cuba com os pais e irmãos há mais de trinta anos, sente essa urgência.
“Não gosto de injustiça. Há muitas coisas desagradáveis acontecendo agora,” disse ela ao ThinkProgress. “O que Trump está fazendo? Está pegando o crime de alguns e os usando para punir todos os imigrantes. Se alguém faz alguma coisa de errado, tem que ser deportado. Mas se você tem só uma maçã podre no meio de cinco, é justo jogar todas as cinco fora? Não. Você joga a podre fora e guarda as outras.”
Enquanto Trump continua no caminho para ser o indicado pelo Partido Republicano para disputar a presidência, vários grupos em toda Flórida trabalham para ajudar milhares de imigrantes no processo de naturalização e para pedir que os naturalizados inscrevam-se para votar. Tomas Kennedy, do grupo New Florida Majority, disse ao ThinkProgress que eles querem registrar pelo menos 5 mil eleitores em cinco semanas.
“Estamos indo em áreas afro-americanas e latinas, onde tradicionalmente há pouco comparecimento às urnas,” explicou. “Estamos buscando essas pessoas, mostrando que elas têm poder.”
Cidadão americano de origem argentina, Kennedy disse ao ThinkProgress que a rejeição do Partido Republicano à reforma imigratória, o apoio à construção do muro e deportações em massa vão prejudicar o partido não só em novembro, mas por décadas.
“Como imigrante jovem e outros milhares iguais a mim, jamais vamos esquecer como fomos tratados [pelo GOP] e sempre votaremos contra essa gente,” concluiu.