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Igreja de Chicago é santuário para indocumentados

Imigrante mexicano indocumentado e pai de família de americanos refugia-se em igreja para escapar da deportação

Jose Juan Federico Moreno está desesperado com a possibilidade de ficar longe dos entes queridos. Ele é o provedor e pai de cinco crianças de 2 a 14 anos. Três delas têm asma e uma tem problemas de desenvolvimento.

Mas Jose não é um cidadão americano, como são seus filhos. Ele é um imigrante vivendo sem autorização no estado de Illinois e graças a uma condenação por dirigir embriagado há dois anos — que ele admite ter sido um erro que jamais voltará a cometer – agora está na mira do ICE (Immigration and Customs Enforcement) para ser deportado.

Enquanto a Suprema Corte avalia a possibilidade de garantir uma proteção contra deportação para milhões de imigrantes indocumentados vivendo no País, Jose é apenas mais um exemplo dos que sofrem com os rigores da lei imigratória.

No dia 15 de abril, Jose recebeu uma ordem final de deportação, sugerindo que se retirasse por espontânea vontade antes da remoção à força. Com medo de ver-se separado dos filhos, Jose refugiou-se dentro de uma ‘igreja-santuário’ para indocumentados em Chicago, contando com o respeito dos agentes federais à política de não perseguir imigrantes em espaços seguros, como escolas, igrejas e hospitais. Essa prática deu partida ao que se chama hoje de “movimento dos santuários” e um número cada vez maior de igrejas voluntariou-se para abrigar imigrantes para protegê-los do ICE.

Entenda o caso

Em 2009, Jose foi parado no trânsito e acusado de dirigir embriagado (DUI). Pior ainda, como ele não possuía a carteira de motorista – privilégio a que os imigrantes indocumentados não possuíam à época no estado – a polícia o autuou por “DUI com agravante”. Ele pagou as multas e frequentou a escolinha de trânsito. Ainda assim, o ICE usou o adjetivo “agravante” para justificar a inclusão de Jose numa lista de pessoas com prioridade para a remoção, segundo declarou o grupo pelos direitos dos imigrantes Not1More ao noticioso ThinkProgress.

“Acolhemos Jose Juan no nosso templo porque acreditamos que a nossa fé nos compele a reponder à injustiça, a receber o estrangeiro e a lutar pela preservação das famílias”, disse o pastor da University Church of Chicago, Julian De Shazier, ao ThinkProgress. “Como igreja, temos orgulho de ficar ao lado de Jose Juan e família, assim como dezenas de outras igrejas por todo País que estão abrindo suas portas, respondendo ao chamado, dizendo NINGUÉM MAIS!”

Na University Church of Chicago, Jose habita um quarto modesto, mobiliado com uma cama, um armário e um sofá, onde a família pode visitá-lo. Ele pretende permanecer na igreja até que o ICE suspenda a petição para sua deportação. Se ele for mandado de volta para o México, a família passará por “imensa dificuldade”, disse Jose ao ThinkProgress.

“As crianças serão roubadas da oportunidade de ficarem ao lado do pai, e isso vai ter um forte impacto sobre elas – além do financeiro, psicológico também.”

Numa tentativa de amenizar a política de repressão aos indocumentados, o governo Obama emitiu uma série de memorandos recomendando aos agentes do ICE para serem menos rigorosos com os pais e mães de cidadãos americanos, ou pessoas com laços profundos com os Estados Unidos. Jose acredita que ele preenche esses critérios. E os defensores dos imigrantes também.

“Uma das coisas que devem ser levadas em conta é a história das pessoas”, diz Lissette Castillo, uma ativista da Chicago Religious Leadership Network on Latin America ao ThinkProgress. “Quando você conhece a história de Juan, percebe nela uma série de fatores [diversos]: ele está aqui há bastante tempo e é pai de cinco cidadãos americanos. Mas o ICE não está levando esses fatores em conta – está olhando única e exclusivamente para o erro que ele cometeu em 2009, do qual ele já se arrependeu e tomou decisões para não repeti-lo. E o ICE quer usar isso para separá-lo da família. ”

Os agentes ainda não entraram em locais sensíveis para prender imigrantes. Mas chegaram perto disso nos últimos meses. Reynold Garcia, um imigrante indocumentado mexicano, foi atraído para fora de uma igreja por mensagens falsas no começo de janeiro. E agentes detiveram adolescentes centro-americanos a caminho da escola, causando pânico generalizado entre os imigrantes até mesmo for a das comunidades afetadas pelas batidas.

Dois anos atrás, o presidente Obama prometeu focar a atuação da polícia nos “criminosos e não nas famílias”, uma promessa que visava garantir às comunidades imigrantes que o governo se concentraria na perseguição aos que cometeram crimes mais sérios, que cruzaram a fronteira recentemente ou que tenham perdido seus casos nos tribunais. No entanto, ultimamente o ICE tem visado algumas pessoas que estão fora desse perfil. Segundo os ativistas, parece que há uma “desconexão” entre as diretrizes do governo e o que está acontecendo na prática.

A University Church of Chicago tem uma longa história de santuário para abrigo de perseguidos. Durante os anos 1980 e 90 a igreja acolheu várias pessoas que fugiam das guerras civis na Guatemala e em El Salvador.

Embora a experiência de morar numa igreja seja nova para Jose, ele não tem planos de se mudar. “Tem sido difícil, mas somos uma família que pretende permanecer unida até o fim”, disse.

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