Oficiais do Immigration and Customs Enforcement (ICE) estão sendo acusados de torturarem requerentes de asilo da República dos Camarões e da Nigéria para forçá-los a assinarem suas próprias ordens de deportação.
A denúncia foi publicada na última quinta-feira (22) pelo jornal The Guardian a partir de relatos feitos por advogados e ativistas da causa migratória. O documento informa que a maioria dos supostos casos de tortura ocorreu no centro de detenção Adams County Correctional Facility, no Mississippi. Mas também há indícios da mesma prática em centros de detenção do ICE em Washington, D.C., e Louisiana.
“De acordo com vários relatos, os detidos foram ameaçados, sufocados, espancados e receberam jatos de spray de pimenta na face. Alguns foram algemados e tiveram suas impressões digitais coletadas à força no lugar de suas assinaturas em documentos”, diz a nota.
O documento que eles estão sendo obrigados a assinar é o ‘stipulated orders of removal’ que funciona como uma renúncia aos direitos de um não cidadão em risco de deportação de falar com um juiz e ter seus caso analisado, independentemente de ser elegível para permanecer nos EUA.
Segundo os advogados, camaroneses e nigerianos têm seus pedidos de asilo ou liberdade condicional “rotineiramente negados pelos tribunais de imigração dos EUA”. Eles relatam que, nas últimas semanas, os casos de deportação de imigrantes desses países aumentaram exponencialmente “com a proximidades das eleições e a possibilidade de o ICE estar em breve sob nova direção”.
A queixa apresentada pela FFI e pelo Southern Poverty Law Center (SPLC) cita oito casos de assinaturas ou coletas de impressões digitais obtidas sob tortura pelos agentes do ICE.
Em uma deles, um dos detentos identificado pelas iniciais BJ relata: “no dia 27 de setembro de 2020, os oficiais do ICE pulverizaram-me com pimenta nos olhos e [um oficial] estrangulou-me quase ao ponto de desfalecer. Continuei dizendo a ele: ‘Não consigo respirar’. Como resultado da violência física, eles conseguiram à força obter minha impressão digital no documento”, disse BJ.
Outro detido apresentado como DF, disse que foi obrigado a assinar sua ordem de deportação em 28 de setembro do mesmo ano.
“Recusei-me a assinar. Ele pressionou meu pescoço no chão. Eu disse: ‘Por favor, não consigo respirar’. Perdi minha circulação sanguínea. Então me levaram para com algemadas mãos por trás para onde não havia câmeras ”, disse DF.
Ele relatou que foi levado para uma ala punitiva do Adams County Correctional Facility, conhecido como Zulu, e submetido a novos agressões.
“Eles me colocaram de joelhos e disseram que iam me matar. Eles pegaram meu braço e o torceram. Eles estavam colocando os pés no meu pescoço. Enquanto estávamos no Zulu, eles pegaram minha impressão digital em meu documento de deportação e tiraram minha foto ”, disse ele.
O alto índice de pedido de asilo por parte de cidadãos da República de Camarões é devido ao fato de ser um dos países com maior índice de violência do mundo. Atualmente o paíse enfrenta uma guerra interna entre a população falante da língua francesa e os falantes de inglês, que querem separar a população em duas nações diferentes.