Já cogitei diversas vezes em me mudar para Miami, e um dos motivos que sempre me deixou com um pé atrás é o dos planos de saúde. Ouvi histórias de horror sobre gente que teve que vender tudo o que tinha para cobrir contas hospitalares, pagar médicos e extras que seus planos de saúde não cobriram. E que planos completos custam os olhos da cara e mesmo assim não pagam por todos os gastos.
Esse meu temor aumentou no dia que meu irmão teve pedra nos rins em Miami. Ao chegar no hospital urrando de dor teve que esperar a atendente ligar para o plano de saúde para ver se eles cobririam o atendimento, e só então fizeram alguns exames e deram sedativos. Depois de algumas semanas, recebemos no Brasil uma carta do hospital dizendo que a seguradora não quis cobrir os custos por se tratar de “doença pré-existente” – o valor? Onze mil dólares! Ligamos para a corretora e se recusaram a pagar, e nós também. O hospital mandou a conta para um escritório de cobrança na Suíça e eles tentaram nos cobrar diversas vezes. A minha vontade era a de mandar o hospital e o escritório de cobrança para aquele lugar, junto com aquela conta absurdamente alta. No fim contratamos um advogado aqui no Brasil que ameaçou entrar com uma ação contra a corretora e só então eles assumiram a conta e pagaram tudo. Mas tivemos que morrer com os custos do advogado.
Bom, tem outro lado, há uns dias fui visitar um casal que considero meus pais americanos em St. Petersburg na Flórida. Eles estão com quase 80 anos e além dos médicos e tratamentos para pessoas dessa idade, minha “mãe” teve que implantar dois joelhos de titânio. Perguntei se eles tinham algum plano especial que pagasse pelos tratamentos e cirurgias, e me disseram que seu plano cobre esses gastos e que não custa tanto assim – e também há os gratuitos tipo SUS que cobrem boa parte dos gastos, mas há uma espera maior no atendimento – claro que não como aqui no Brasil, onde de vez em quando alguma pessoa morre nas filas.
Um amigo italiano me contou que lá a maior parte dos hospitais públicos é muito boa e que não há praticamente gasto algum por parte dos pacientes. Fiquei imaginando aqueles hospitais públicos brasileiros, com gente deitada no chão e filas intermináveis, só que não é bem assim como pude comprovar.
Na viagem com toda a família para Savona na Itália em julho deste ano, a Bianca bateu o nariz na cama do hotel ao se abaixar e começou a sangrar muito – parecia que um alien havia saído de uma de suas narinas pela quantidade de sangue que estava na pia do banheiro! Após pressionar o nariz por uns minutos o sangramento parou. Como meu nariz sangrava de vez em quando na infância (ok, porque eu brigava na rua), achei que teria sido uma coisa passageira devido à batida na cama.
No dia seguinte fomos passear no shopping e o nariz novamente sangrou muito, a atendente de uma farmácia viu e chamou uma ambulância. Eles chegaram em menos de cinco minutos e nos levaram ao pronto socorro do hospital público de Savona. Fiquei impressionado com o tratamento na ambulância e depois pelo atendimento inicial no pronto socorro, tudo muito rápido, em um ambiente limpo com aparência de novo e recebido por médicos extremamente simpáticos. A levaram para uma sala onde o otorrino a examinou, disse que era um vaso capilar que havia se rompido e sugeriu cauterizar. A Bianca arregalou os olhos, tentou se teletransportar para casa e quase entrou em pânico – o médico então colocou uma gaze com medicamento na narina e disse para ela me voltar caso sangrasse outra vez.
Ao sair, fiquei esperando a enfermeira que nos levaria de volta à saída – e certamente com passagem pela tesouraria antes… necas. Nos levou até a porta e disse com um sorriso “ciao, buona vacanza”. E eu pensei “Tchau e boas férias??? Sem pagar nada?”. Sim, nada. Meu amigo estava certo, não paguei um centavo.
No dia seguinte, o nariz sangrou um pouco e a levei de volta para cauterizar (digamos que tive um pouco de trabalho para convencê-la). Entramos pela porta principal do hospital desta vez e lá preenchi mais umas fichas, fizeram cópias de nossos passaportes e nos mandaram subir para o atendimento. Demorou um pouco mais para nos levarem à sala onde o procedimento seria feito, mas coisa de 20 minutos. Nesse momento a Bianca já estava totalmente estressada e quando o médico se aproximou, ela afastou sua mão. Aí ele usou o método calabrês de psicologia infantil: “se non si vuole fare, allora ciao!” (se não quer fazer, então tchau!), levantou e saiu. Ela arregalou os olhos, já que não esperava essa reação do médico (porque de mim ela sempre espera…) e após algum convencimento de que ela aceitaria fazer a cauterização ele voltou à sala e fez o procedimento.
Aí na hora de sair do hospital, pensei “agora vão me cobrar alguma coisa…”. Niente!
Tudo bem que sou turista, mas os locais só têm que pagar uma taxa mínima para consultas e cirurgias – e essas taxas são sugeridas no atendimento (entre 25 e 35 Euros), não são obrigatórias caso a pessoa não possa pagar. O mais engraçado foi meu amigo dizer que só tivemos que esperar “muito” porque era época de férias, que normalmente o atendimento é na hora!