DA REDAÇÃO, COM REUTERS – O programa de vistos H-1B do governo americano, criado para atrair trabalhadores temporários com alta especialização, pode mudar no governo Trump. O senador Jeff Sessions, cotado para procurador-geral, é há muito tempo um crítico do programa.
São 65 mil vistos para trabalhadores e outros 20 mil para trabalhadores pós-graduados por ano. A área tecnológica – a que mais usa o programa e que tem lutado para expandi-lo – vai ter que encontrar alternativas caso haja mudanças.
O presidente eleito não foi claro sobre o assunto durante a campanha. Criticou o H-1B algumas vezes e em outras disse que era um importante instrumento para o aproveitamento de talentos estrangeiros.
Sessions, entretanto, há tempos vem criticando o programa. No ano passado entrou com um projeto de lei para tornar o visto menos acessível para grandes companhias de outsourcing, como a Infosys, por exemplo. Essas empresas, de longe as mais beneficiadas pelo visto, fornecem trabalhadores temporários para companhias americanas que querem cortas custos.
“Milhares de trabalhadores americanos estão sendo substituídos por estrangeiros”, disse Sessions em fevereiro deste ano.
O visto H-1B é voltado especialmente para ocupações que requerem nível universitário. Médicos, cientistas, analistas de sistemas e programadores de alto nível estão nessa categoria. As empresas usam-no para contratar mão-de-obra estrangeira.
Um porta-voz do senador Sessions não respondeu uma solicitação de comentário da Reuters, e a equipe de transição do presidente eleito não quis comentar o assunto.
Empresas de tecnologia, como Microsoft e Google, tipicamente empregam trabalhadores estrangeiros com alta especialização e bem pagos, difíceis de encontrar. Elas acabam contribuindo para esses trabalhadores obterem a residência permanente depois de um certo tempo.
Em contrapartida, empresas como Infosys e Tata Consultancy, ambas com sede na Índia, usam o visto para sub-contratados a baixo custo que raramente conquistam o gree card.
Consultadas pela reportagem da Reuters, as duas companhias não quiseram comentar.
Loteria
Os vistos H-1B são sorteados numa espécie de loteria feita pelo USCIS, já que o número de pedidos (236 mil em 2015) é muito maior que os 85 mil disponíveis por ano e estabelecidos por lei. Eles são fornecidos aos empregadores – e não aos empregados – e associados a determinada posição específica na empresa.
Parlamentares dos dois partidos têm denunciado que companhias têm usado o programa para acabar com seus departamentos de tecnologia, substituindo-os pela mão de obra barata dos sub-contratados pelas empresas de outsourcing que usam o H-1B para isso.
Em 2013, o departamento de Justiça aplicou uma multa de $34 milhões à Infosys, por fraude em vistos.
Os investigadores federais acusaram a Infosys de usar vistos de negócios, mais fáceis de se conseguir, para importar trabalhadores que precisaria de um H-1B.
Mudanças
Várias instituições já pediram por mudanças no programa, incluindo o prestigiado Institute of Electrical and Electronics Engineers, a maior associação profissional do ramo tecnológico. O IEEE quer que o sorteio favoreça as companhias que oferecem maiores salários, diz Russ Harrison, diretor da associação.
Até mesmo o FWD.us – o grupo de pressão pela imigração associado ao co-fundador do Facebook, Mark Zuckerberg – apoia um aumento nos salário mínimo exigido para os profissionais portadores do visto e para as empresas patrocinadoras de green cards para os trabalhadores com o H-1B.
“Vamos trabalhar pela expansão do programa, mas também pela sua reforma”, disse o presidente da FWD.us, Todd Shulte.