A Taça Libertadores da América e a Copa Sul-Americana chegaram às suas fases decisivas. E uma realidade inconteste salta aos olhos dos fãs do futebol: os clubes brasileiros estão à frente de seus congêneres sul-americanos e, portanto, passaram a dominar o cenário subcontinental.
Recentemente ainda havia a concorrência dos clubes argentinos, porém, a cada ano a diferença aumenta, com a balança pendendo para o lado verde-amarelo. Isto pode ser constatado inclusive nos elencos dos clubes brasileiros, recheados de jogadores da América do Sul. Até algum tempo atrás era mais difícil tirar os destaques dos clubes da Argentina, mas, com o processo de empobrecimento da nação vizinha, os atletas têm aceitado propostas para atuar em equipes do Brasil. E isto não se resume apenas aos grandes clubes brasileiros. Mesmo equipes medianas têm em seus elencos sul-americanos, inclusive argentinos, a demonstrar que o poderio econômico e financeiro tem sido preponderante para contratar os melhores do continente. Ou, pelo menos, aqueles que estão sem mercado na Europa, o Eldorado dos jogadores da América do Sul.
A internacionalização do futebol brasileiro estende-se até mesmo aos treinadores. Hoje, o Palmeiras tem no comando o português Abel Ferreira, enquanto o Fortaleza faz boa campanha dirigido pelo argentino Juan Pablo Vojvoda. O Athletico-PR também conta com o português Antonio Oliveira, enquanto o Bahia, que demitiu Dado Cavalcanti, contratou o argentino Diego Debasi. E o São Paulo apostou as fichas no argentino Hernán Crespo, que conquistou o Campeonato Paulista, tirando o São Paulo da fila de quase dez anos sem ganhar um título.
Esses são os atuais, mas há pouco tempo o Santos contou com o argentino Ariel Holan e com o português Jesualdo Gomes e sobretudo com o argentino Jorge Sampaoli. O Vasco da Gama trouxe o português Ricardo Sá Pinto e o Botafogo contratou o argentino Ramón Diaz – ambos com trabalhos deploráveis.
O Internacional também contratou o argentino Eduardo Coudet, que trocou o clube gaúcho pelo Celta de Vigo da Espanha, e depois o espanhol Miguel Ángel Ramirez, que não fez um bom trabalho.
Sem dúvida, o trabalho mais marcante foi o do português Jorge Jesus no Flamengo. Em poucos meses, o Mister, como era conhecido, venceu os principais títulos e sobretudo fez com que o Rubro-Negro carioca jogasse um futebol fascinante, até mesmo aos olhos dos adversários. Ao receber o convite do Benfica para retornar à sua terra natal, ele decidiu voltar e assumir a direção técnica dos “Encarnados”. Entretanto, os resultados em campo não foram entusiasmantes. Decidido ao apostar em outro estrangeiro, o Flamengo foi buscar o catalão Domenéc Torrent para dar sequência ao trabalho do português. O desempenho da equipe, no entanto, foi decepcionante no primeiro momento e a pressão da torcida e dos conselheiros praticamente expulsou Dome da Gávea.
A questão está provocando debatres acalorados. Será que os estrangeiros são mais capacitados do que os brasileiros? Evidente que não. Porém, muitos aceitam ir para o Brasil com um salário menor do que o de seus colegas brasileiros. Talvez seja o caso de os brasileiros se readequar ao mercado para não perder mais espaço de trabalho.
Supremacia brasileira na Libertadores e na Sul-Americana
Para comprovar a supremacia brasileira na Taça Libertadores da América, basta olhar os semifinalistas da principal competição do continente: De um lado da chave estão Palmeiras e Atlético-MG. Ou seja, um deles estará na final da Libertadores em Montevidéu. Do outro lado, o Flamengo já carimbou sua passagem à semifinal e seu adversário saiu do confronto entre Barcelona de Guayaquil e Fluminense (infelizmente, não podemos divulgar o nome do classificado porque o jogo foi à noite quando o jornal já estava fechado).
Os três classificados demonstraram estar mesmo fortes. O Palmeiras eliminou o São Paulo nas quartas de final com autoridade. Após um empate em 1 a 1 no Morumbi, o Verdão dominou completamente o rival no jogo de volta, disputado no Allianz Parque. A vitória de 3 a 0 (gols de Rafael Veiga, Dudu e Patrick de Paula) foi categórica e revelou a diferença de categoria entre as duas equipes. Teve ainda um efeito catártico porque o Tricolor paulista era o único rival paulista que incomodava o Alviverde, com direito até mesmo a um tabu de três eliminações na Taça Libertadores da América em outros anos. E Abel Ferreira ainda não havia vencido Hernán Crespo no duelo particular entre os dois técnicos estrangeiros. A vitória detonou todos os tabus e ainda manteve um: o de Dudu nunca ter sido derrotado pelo São Paulo como jogador do Palmeiras.
A quarta de final que reuniu o Flamengo e o Olimpia do Paraguai foi uma das mais desquilibradas da competição. Apesar de ser um clube tradicional de Assunção, com quatro conquistas de Libertadores, o time paraguaio é muito fraco. Somente se classificou graças a uma jornada infeliz do Internacional no jogo de volta em Porto Alegre. Como o Rubro-Negro carioca não tem nada a ver com isto, fez o que dele se esperava: aplicou duas goleadas – 4 a 1 no Paraguai e 5 a 1 em Brasília – totalizando 9 a 2 no placar agregado. Serviu também para praticamente sacramentar Gabigol como o artilheiro desta edição da Libertadores ao totalizar 10 gols – sendo quatro deles anotados contra o Olimpia.
O Atlético-MG classificou-se no sufoco nas oitavas de final contra o Boca Juniors, passando nos pênaltis, após dois empates. Aí veio o River Plate, outro gigante portenho. Para surpresa de muitos, o Galo prevaleceu com categoria, com duas vitórias: 1 a 0 em Buenos Aires, com gol de Nacho Fernandez, ex-jogador do River, e 3 a 0 em Belo Horizonte, com dois gols de Zaracho e um de Hulk. O bom futebol apresentado pelo Alvinegro das Alterosas fez com que os analistas apontem a equipe de Minas Gerais como favorita na semifinal contra o Palmeiras – o atual campeão da Libertadores. Até porque, na ocasião – os jogos estão previstos para os dias 22 e 29 de setembro -, O Galo terá à disposição o centroavante Diego Costa, a mais nova contratação do Atlético-MG.
Brasileiros se destacam na Sul-Americana
O Red Bull Bragantino já é um semifinalista da Copa Sul-Americana, juntamente com o Peñarol do Uruguai. Nesta quinta-feira à noite, foram conhecidos os outros dois semifinalistas, com possibilidade de ter mais dois brasileiros nas semifinais.
O Santos, finalista da última Libertadores, enfrentou o Libertad do Paraguai e levou com ele a vantagem do empate por ter derrotado o time paraguaio por 2 a 1 na Vila Belmiro. Além do Alvinegro praiano, o Athletico-PR pode também estar em uma da semifinais, caso tenha revertido o resultado negativo de 1 a 0 ocorrido em Quito na derrota para a LDU.
A massacrante presença brasileira (e também argentina) tem provocado a queixa de presidentes de outras federações sul-americanas. Segundo eles, é injusta a participação de tantos clubes brasileiros e argentinos enquanto os clubes de outros países entram com poucos representantes.
Trata-se de um pleito difícil de a Conmebol (entidade máxima do futebol sul-americano) atender, porque os clubes mais poderosos estão na Argentina e sobretudo no Brasil. Ou seja, seria um nivelamento por baixo.
Somente a título de suposição, o Brasil tem direito a quatro vagas diretas na Taça Libertadores da América, que são (ou deveriam ser) ocupadas pelos quatro melhores classificados do Brasileirão. Os quinto e sexto colocados têm direito à Pré-Libertadores – um torneio classificatório para a chave principal. Some-se a isto, a vaga automática obtida pelo campeão da Libertadores, outra vaga conquistada pelo campeão da Sul-Americana, e finalmente a vaga relativa ao campeão da Copa do Brasil. Nesse cenário, o Brasil pode classificar até nove equipes para disputar o principal torneio do continente. Ou seja, se os clubes brasileiros forem os campeões nestas competições, eles confirmam sua participação na Libertadores 2022.