Muita gente apostava em uma final argentina, com Boca Juniors e River Plate repetindo a final da Copa Libertadores da América de 2018 que inusitadamente foi disputada no Estádio Santiago Bernabeu, campo do Real Madrid, na capital espanhola. Porém, os deuses do futebol queriam outro enredo. E a final ganhou contornos verde-amarelo, apesar do susto proporcionado pelo Palmeiras na segunda partida da semifinal contra o River Plate.
Em jogo de 180 minutos, deu Verdão
O Palmeiras fez uma partida antológica na semana passada em Buenos Aires e venceu o River Plate no campo do Clube Atletico Independiente, em Avellaneda, por 3 a 0, gols de Rony, Luiz Adriano e Viña. O domínio foi tão flagrante que o Alviverde paulista poderia ter voltado à São Paulo com um placar ainda mais dilatado. Além do gol de Gustavo Scarpa anulado, após o VAR ter assinalado um impedimento milimétrico de Luiz Adriano, autor do passe para o meia palmeirense, o time brasileiro ainda desperdiçou outras oportunidades, sobretudo depois da expulsão infantil do meia Carrascal.
Com uma vantagem tão significativa, pouca gente acreditava em uma reação da equipe millonaria, a não ser Marcelo Gallardo e seus comandados. Entretanto, o que se viu no Allianz Parque na terça-feira (12) foi um filme de terror para os palmeirenses que estavam preparados para assistir a uma película digestiva, a fim de carimbar o passaporte para a finalíssima da Copa Libertadores da América.
Gallardo modificou a estrutura tática de sua equipe e montou um 3–5-2, com esquema de três zagueiros (Rojas, Diaz e Pinola) a fim de liberar os laterais Montiel e Angelieri para agredir o Palmeiras e ajudar na recomposição do meio campo com De La Cruz, Fernandez e Enzo Perez. Na frente, a dupla de atacantes composta por Matías Suarez e Santos Borré. Com esta formação, o atual vice-campeão da Libertadores partiu para cima do Palmeiras em busca dos gols que lhe dariam a vaga à final. Ficaram expostos ao contra-ataque, que conseguiram neutralizar na maior parte das vezes. Deram sorte também porque Rony ficou cara a cara com o goleiro Armani e falhou na definição. Em vez de chutar de primeira, tentou driblar o arqueiro e perdeu a chance.
Já o time de Gallardo pressionava bastante e conseguiu abrir o placar após um chute primoroso de Rojas, defendido magistralmente por Weverton – o goleiro palmeirense, aliás, foi um dos artífices da classificação. Entretanto, em cobrança de escanteio, o próprio Rojas subiu mais do que todo mundo e cabeceou para o gol, sem chance de defesa para Weverton. Quase ao final do primeiro tempo, o time argentino ampliou o placar. Após o cruzamento de Montiel, Luan disputou a jogada com Suarez e não interrompeu a jogada, com a bola sobrando limpa para Borré apenas escorar para o gol.
Atuação do VAR
Na segunda etapa, o técnico Abel Ferreira tirou Scarpa e colocou Breno Lopes. Porém, a supremacia argentina continuou. Aos 10 minutos da etapa complementar, Montiel faz um golaço ao receber um lançamento livre na esquerda. Porém, o árbitro Ostovich foi chamado pela arbitragem do VAR para rever o lance. A exemplo do gol de Scarpa anulado em Avellaneda, o árbitro verificou que Santos Borré estava em posição de impedimento no início da jogada.
Mais tarde, Suarez penetrou na grande área e supostamente o zagueiro Empereur teria cometido a falta, originando o pênalti, apontado pelo árbitro. Outra vez, o pessoal do VAR chamou a atenção do juiz que foi até o monitor de vídeo para verificar que, na verdade, o atacante argentino havia se atirado sem que o zagueiro brasileiro houvesse tocado em seu corpo. Esta nova anulação irritou ainda mais os argentinos e Rojas acabou sendo expulso por ter cometido uma falta dura sobre Luiz Adriano. Como já havia recebido outro cartão amarelo, levou cartão vermelho. Apesar de estar com um homem a mais em campo, o Palmeiras não soube impor seu ritmo de jogo e Abel foi empilhando zagueiro para garantir o resultado que lhe daria a classificação. No final da partida, outra polêmica. O VAR mais uma vez chamou a atenção do árbitro para revisar um lance envolvendo o zagueiro Kusevich e Santos Borré. Porém, o árbitro constatou impedimento de outro atacante do River Plate e não confirmou a penalidade máxima. Este lance foi praticamente o último do jogo, que terminou com os jogadores do Palmeiras aliviados e se abraçando e os do River Plate chorando inconformados.
Aqui, algumas considerações. O River Plate mostrou ser o melhor time da América do Sul. Tanto que foi campeão em 2018, vice em 2019, quando foi derrotado pelo Flamengo em um jogo onde atuou melhor, e agora chegou à semifinal, eliminado pelo Palmeiras. Gallardo deu apoio aos seus jogadores, lamentou as chances perdidas, não criticou a arbitragem e elogiou o adversário. Abel Ferreira, por sua vez, reconheceu a força do time argentino e afirmou que Gallardo é um técnico com mais recursos do que ele próprio. Já se comenta, aliás, a saída dele e são grandes chances de Marcelo “El Muñeco” Gallardo dirigir alguma equipe europeia.
Agora, o Palmeiras volta suas atenções para o Brasileirão. Por estar em duas finais – Copa do Brasil e Libertadores -, o time paulista precisa fazer uma maratona para colocar seu calendário de jogos em dia. Assim, o Verdão enfrentará o Grêmio na sexta-feira (15) e o Corinthians na segunda-feira (18), ambas partidas no Allianz Parque. No dia 21 de janeiro, vai até Brasília enfrentar o Flamengo. No domingo (24), viaja a Fortaleza para jogar contra o Ceará e na quarta-feira, dia 27 de janeiro, fará o jogo com o Vasco, atualizando a partida referente à 1ª rodada do Campeonato Brasileiro. Ufa!
O jogo contra o Botafogo, marcado para o dia 31 de janeiro, será adiado, porque um dia antes o Verdão estará decidindo a Copa Libertadores da América com o Santos no Estádio do Maracanã. Caso conquiste o torneio, terá de embarcar para o Qatar e disputar o Mundial Interclubes, que tem o Bayern de Munique como favorito. A CBF, neste caso, terá de remanejar mais alguns jogos do Palmeiras, assim como adiar as finais da Copa do Brasil, programadas para o início de fevereiro.
Santos dá show na Vila e despacha Boca Juniors
O temível Boca Juniors não foi páreo para o Santos na segunda partida da semifinal, realizada na quarta-feira (13) na Vila Belmiro, em Santos. Já na partida de ida, o Alvinegro praiano havia jogado melhor e teve um pêrnalti sobre Marinho não marcado pela arbitragem. Desta vez, porém, o time de Cuca partiu com tudo para cima e com um minuto de jogo acertou a trave do goleiro Andrada em chute de Marinho.
Não demorou muito tempo para o Santos inaugurar o placar em um chute de virada de Diego Pituca. Mesmo com a vantagem, o time do litoral paulista continuou ditando o ritmo. Na volta para o segundo tempo, a equipe xeneize mal teve tempo de se organizar em campo e logo tomou o segundo gol, em um chute bem colocado do venezuelano Soteldo. Três minutos depois, Marinho infernizou a zaga do Boca Juniors e serviu Lucas Braga que apenas teve o trabalho de vencer o goleiro e anotar o placar final de 3 a 0 e carimbar o passaporte do Santos à final da Copa Libertadoes da América, garantindo assim a terceira final brasileira na competição – em 2005, São Paulo e Athletico Paranaense fizeram a final e o título ficou com o Tricolor paulista; no ano seguinte o São Paulo fez a final com o Internacional e, desta vez, o clube gaúcho faturou o título.
A exemplo do Palmeiras, o momento é o de se concentrar no Brasileirão. Teoricamente, o Peixe tem uma tabela favorável nas próximasa rodadas: joga contra o Botafogo no domingo (17) na Vila Belmiro, depois enfrenta o Fortaleza na capital cearense na quinta-feira (21), e recebe o Goiás em casa no domingo (24). O clássico contra o Corinthians, programado para o domingo (31) será adiado em virtude da decisão da Copa Libertadores da América um dia antes. Caso fature o título, os jogos contra Grêmio e Atlético-GO serão adiados em razão da viagem do clube ao Qatar para disputar o Mundial Interclubes.
Corinthians renasce sob o comando de Mancini
Quem te viu, quem te vê, que não te conhece, não pode reconhecer. Os versos da canção de Chico Buarque ilustram perfeitamente a transformação do Alvinegro paulista após Wagner Mancini se tornar técnico do clube que fez um primeiro turno horroroso no Campeonato Brasileiro. Em compensação, o time é o líder do segundo turno, deixando de rondar a zona de rebaixamento para ocupar o oitavo lugar, com 42 pontos (junto com o Santos).
As chegadas de Casares e Otero, emprestados pelo Atlético-MG, deram nova vida ao Timão. Também facilitou a mini temporada que a comissão técnica e os jogadores tiveram entre a última partida disputada em 2020, no dia 27 de dezembro (vitória sobre o Botafogo no Rio de Janeiro por 2 a 0), e a primeira jogada em 2021, goleada de 5 a 0 sobre o Fluminense – gols de Jô, Casares, Fagner, Matheus Vital e Luan. Para se ter uma ideia, durante este período de descanso do Corinthians, o Palmeiras conquistou o direito de ir a duas finais: Copa do Brasil e Copa Libertadores da América.
É inegável o crescimento técnico da equipe corintiana, que aplicou a maior goleada da história no confronto entre Fluminense e Corinthians. Hoje, percebe-se um plano de jogo, troca de passes verticais, penetrações, marcação sob pressão e objetividade. Ou seja, tudo que faltava ao Timão na primeira fase da competição. Um jogador, em particular, personifica esta transformação: o médio volante Gabriel. Antes, ele era um mero destruidor de jogadas e errava passes curtos. Agora, ele atua mais à frente e até mesmo constroi jogadas, como se viu no gol de Casares. Olho no Corinthians que pode surpreender e conquistar uma vaga entre as equipes classificadas para a próxima edição da Copa Libertadores da América.