Histórico

Fechar escolas reduziu mortes por gripe em 1918

As cidades que rapidamente suspenderam as aulas e desestimularam reuniões públicas tiveram menos mortes por causa da pandemia de gripe de 1918, disseram pesquisadores na segunda-feira.

Decisiva, a ação imediata pode reduzir os efeitos mais agudos de uma pandemia e manter parte da imunidade natural da população ao vírus, segundo o estudo do governo norte-americano.

Os especialistas consideram praticamente inevitável que haja uma pandemia de algum vírus, provavelmente de gripe — só não se sabe quando e de que vírus.

O pior cenário é uma pandemia de gripe como a de 1918, a chamada “gripe espanhola”, que matou dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Os pesquisadores consultam os prontuários de nove décadas atrás para tentar aprender lições com aquele episódio.

Richard Hatchett, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, estudou 17 cidades dos EUA com seus colegas.

“Cidades em que múltiplas intervenções foram implementadas numa fase inicial da epidemia tiveram um pico de mortalidade cerca de 50 por cento inferior ao das que não fizeram isso”, escreveu Hatchett no estudo, a ser publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Em Kansas City, a lotação de funerais e casamentos foi limitada a 20 pessoas. Em Nova York, as empresas tiveram de adotar turnos escalonados. Em Seattle, o prefeito mandou a população usar máscaras. Nenhuma ação funcionou por si só, segundo eles, e sim o conjunto das medidas.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os governos se preparem para uma pandemia. O vírus H5N1, da gripe aviária, é o principal candidato, caso sofra uma mutação que permita o contágio direto entre pessoas. Nessa hipótese, uma vacina demoraria vários meses para surgir, e há escassez de medicamentos que tratam da gripe.

Por isso, os especialistas buscam as chamadas intervenções não-farmacológicas — sem remédios — na esperança de ganhar o tempo necessário para que os laboratórios desenvolvam e distribuam as vacinas e comprimidos necessários.

Como o vírus se espalha por gotículas de saliva, num raio de aproximadamente 1 metro do paciente contaminado, manter as pessoas afastadas é uma possível estratégia. O estudo de Hatchett sugere que há quase cem anos isso funcionou.

“Os primeiros casos da doença entre civis na Filadélfia foram reportados em 17 de setembro de 1918, mas as autoridades minimizaram sua importância e permitiram que grandes reuniões públicas, especialmente uma parada municipal em 28 de setembro de 1918, prosseguissem”, escreveram.

“O fechamento de escolas, proibições de reuniões públicas e outras intervenções de distanciamento social não foram implementadas até 3 de outubro, quando a difusão da doença já havia começado a sobrecarregar os recursos médicos locais e a saúde pública.”

Já em Saint Louis as autoridades adotaram “uma ampla série de medidas destinadas a promover o distanciamento social” assim que o vírus surgiu.

Filadélfia acabou tendo um pico de mortalidade de 257 pessoas por 100 mil habitantes por semana. Em Sain Louis, o pico foi de apenas 31 por 100 mil. Quando as cidades relaxaram as restrições, as mortes aumentaram.

O governo dos EUA tem planos similares para o caso de uma pandemia. Funcionários seriam autorizados a ficar em casa durante semanas ou meses, trabalhando por computador, por exemplo. Escolas e grandes prédios de escritórios possivelmente seriam fechados.

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