Ana Paula Franco
Depois de um ano preso nos Estados Unidos após enviar um email à TAM linhas aéreas em janeiro de 2014 com os dizeres “Flight must not take off. Targeted. It will go down. Retaliation. Cargo is dangerous. Be advised” (Voo não deve decolar. Marcado. Vai cair. Retaliação. Carga é perigosa. Estejam avisados)., o brasileiro Francisco Fernando da Cruz, de 23 anos, foi deportado e chegou ao Brasil na quinta-feira (19). Em entrevista ao AcheiUSA, Fernando afirmou que jamais imaginou que um “trote” fruto de uma aposta entre amigos teria consequencias tão sérias. Ele relata seus medos, ansiedades e o que aprendeu em mais de um ano de confinamento numa prisão americana. Como todo jovem, Fernando, como é chamado pela família e amigos, tem muitos planos pela frente e pretende seguir em frente, com mais maturidade. Confira abaixo a entrevista:
AcheiUSA – Quando você enviou o email, qual a resposta que você esperava receber?
Fernando Cruz – Não tinha nada específico que esperava que me respondessem; entretanto, esperava que me pedissem por mais informações, para que aí eu pudesse informá-los de que foi um trote e que não era algo sério.
AU – Quando te prenderam, o que passou pela sua cabeça?
FC – Eu fiquei com medo, chocado, triste e vários outros sentimentos tudo de uma vez. Não era algo que eu esperava que iria acontecer, então, foi um grande choque.
AU – Como foi a experiência na prisão?
FC – Eu considero a pior experiência que já passei em minha vida. É, em geral, um tédio. É terrível acordar todos os dias e não ter o que fazer e ficar vivendo assim por meses. Sem falar que a comida era terrível e o tratamento era desumano.
AU – Você fez amigos lá dentro? Como era a rotina na prisão?
FC – É claro que convivendo com pessoas assim, você terá algumas associações, apesar de que não chamaria de amizade. Eu conversava com várias pessoas diferentes; assim, tendo mais opções de coisas para fazer. Eu costumava despertar perto das 7 da manhã para tomar banho, depois ia trabalhar às 8am, e almoçava às 11am. Voltava do trabalho às 3pm e de aí em diante ficava na unidade, lendo muito.
AU – Quais foram os piores momentos que você passou neste último ano?
FC – Todos os dias que fui para a Corte. Mas também duas vezes que eu fui à solitária – uma quando cheguei, por não poder ver ao médico para a vacina de tuberculose, e a outra por protective custody na imigração para que pudessem consertar o problema de vazamento de água do meu quarto sem me mudar de unidade.
AU – Nós sabemos que você tem um castigo de dez anos pela frente por ter sido deportado. Você voltaria aos Estados Unidos ou essa experiência foi mais que suficiente?
FC – Eu não tinha planos para voltar ao Estados Unidos quando enviei os emails. Claro que eu poderia visitar ou coisas desse tipo, mas eu já tinha excluído qualquer possibilidade de morar aí. Já estava cansado do país, agora tenho outros países que sim, eu consideraria muito viajar para fazer algum programa de intercâmbio ou trabalho.
AU – Qual foi a principal lição que você tirou dessa história toda?
FC – São muitas lições diferentes, mas eu acho que uma delas é levar as coisas mais a sério. Também aprendi a sempre dar às pessoas uma segunda chance, pois conheci muitas pessoas que estavam presas por motivos ainda mais absurdos do que o meu. E que, no final, a família é quem sempre fica com você, não importa o que aconteça.
AU – A sua história daria um livro ou um filme. Você pensa em escrever algo sobre sua experiência?
FC – Várias pessoas já me sugeriram isso. Apesar de considerar a possibilidade, eu ainda estou incerto. Claro que sim, se a oportunidade surgir, eu estarei mais do que disposto a aproveitá-la.
AU – Quais são seus planos daqui para a frente?
FC – Eu pretendo voltar à universidade e terminar meus estudos e também começar estudos novos já. Também quero me encontrar com todos os amigos e familiares nesse tempo que terei para descansar antes do próximo semestre começar.