Ligação no escritório, no fim do dia:
– Pai! Preciso de papel almaço.
– Pra quando?
– Pra hoje, tenho que entregar amanhã.
– @#%#$!
Todo mundo já fez isso, mas eu era PhD quando criança. Minha mãe dizia que eu ainda teria um filho igual – praga de mãe pega e ela lerá este artigo, espero que a Bianca não leia. Eu era um pouco pior que a Bianca, tipo pedindo crina de unicórnio e criptonita em pó no domingo à noite para a segunda-feira de manhã. E lá ia minha pobre mãe madrugar na porta da papelaria perto da escola…
O ruim é que todos sabem que eu era assim e já me dedaram para a Bianca, esse bando de linguarudos. Por esse motivo – e pela possibilidade de ela ler este artigo – que eu evito falar sobre colar nas provas. Cá entre nós e que ela não nos “ouça”, eu tinha certeza que E=MC2 significava Escola=Muito Chata ao Quadrado. Eu até ia fazer uma tese de física para provar que o tempo dentro de uma sala de aula passa em slow motion. Quem não lembra de ficar olhando para aquele relógio estático em uma sala de aula?
Com o passar dos anos percebi que quanto mais chata a matéria, mais precisava estudar para tirar da frente de uma vez. Infelizmente isso só aconteceu na faculdade, se tivesse agido desta forma desde o ginásio teria me poupado de muitas horas extras nas recuperações (e de longos sermões de minha mãe). Até matemática que eu odiava acabei tirando de letra! Se não me esforçasse em aprender, não poderia montar os bancos de dados da empresa, ou mesmo desenho mecânico que gosto de fazer até hoje para projetar móveis (fiz todos de casa e do escritório). A matemática é fundamental para muitas coisas na vida, não dá para sobreviver sem ela. Só a raiz quadrada não me serviu para nada, também não fiz botânica, uai!
Brincadeiras à parte, muitas das matérias chatas da escola que achava que não serviriam para nada acabaram guiando minha vida. Além da matemática, uso o tempo todo geografia e línguas (viajo muito), português (tá, tá… tenho vícios de linguagem, não vá querer fazer análise sintática dos meus textos!), ciências (trabalho com biologia), história (não tem coisa mais interessante que saber sobre os países que visito), física (no mergulho tem várias utilidades), química (basta olhar minhas receitas culinárias, sempre preciso de um antídoto) e até mesmo Estudos Sociais ou sei lá como chamam hoje (todo mundo discute política hoje em dia, e é bom ter uma noção do assunto).
Sempre invejei – no bom sentido – os colegas que já sabiam o que gostariam de ser desde pequenos. Por ser muito inventivo e criativo, achei que engenharia seria minha praia (errei, hoje eu sei que a praia é minha praia). Fiz vestibular e passei – adivinhe onde fui barrado? Pois é, matemática. Não lembro de muitas coisas da faculdade, mas a primeira aula de cálculo vetorial ficou tatuada no meu cérebro. O professor entrou, disse bom dia e começou a alucinadamente escrever na lousa inteira, sem abrir a boca. Nunca pensei que pudesse ter uma aula em klingon como aquela – não só eu, mas todo ficaram olhando com cara de ponto morto. As provas eram terríveis, só não as entregava em branco porque eram impressas em papel colorido – eram zeros seguidos uns dos outros. Repeti dois semestres, e desisti no terceiro quando vi que iria bombar de novo. Entrei muito novo (com 17 anos), então pude fazer outra escolha depois, Administração de Empresas.
Aquela tortura toda para estudar matemática na engenharia, me fez tirar de letra a matemática simplória da Administração. E por ir bem, acabei tomando gosto pela coisa, só tirava notas altas. Em compensação, achava Direito uma chatice insuportável – eu sempre levava uma col… digo, estudava muito para as provas!