Meu nome é Nicole Calderón Alvarez, tenho 22 anos e estou completando meu último ano na Universidade da Flórida. Meu curso acadêmico consiste em três áreas: ciência política, português e espanhol, com especialização (minor) em Estudos Latino-Americanos. Em 2012, migrei da Colômbia para os Estados Unidos quando tinha 15 anos e, desde então, passei por muitas experiências, que me ajudaram a ser a pessoa que sou.
A minha conexão com o Brasil, o brasileiro e a língua portuguesa surgiu em virtude das mudanças que aconteceram após eu me acostumar com a vida nos Estados Unidos. Principalmente, o fato de entrar no ensino médio em Orlando, onde existe uma grande população brasileira. Isto foi imperativo no meu descobrimento da vida latino americana fora da Colômbia. Até aquele ponto,só tinha tido contato com pessoas como eu – da mesma cidade, cultura, classe social, etc. Curiosamente o brasileiro, que supostamente tem sua própria categoria à parte dos latinos americanos falantes de espanhol, era o que tinha mais em comum comigo em termos culturais.
A partir daí, comecei a achar o idioma português cada vez mais interessante. No meu primeiro ano na universidade eu decidi atuar nessa conexão que eu sempre senti e entrei em uma aula básica de português para bilíngues (para pessoas que já falassem espanhol ou francês, além de inglês). Aí, e graças à paciência da professora Andréa Ferreira, eu me apaixonei pelo português brasileiro e naturalmente tomei outras aulas que me apresentaram à cultura brasileira. Pouco depois eu declarei o português como a minha segunda disciplina acadêmica, e dois anos depois eu fui para o Brasil com o programa UF in Rio. Este ano, voltei ao Brasil com o programa UF in Bahia (ambas experiências inesquecíveis). Uma pequena parte do meu coração orgulhosamente colombiano virou verde, amarelo, azul, e branco.
Agradeço a oportunidade de escrever para a juventude brasileira através do AcheiUSA. Espero que as minhas experiências sirvam como uma ponte, e que eu possa me conectar ainda mais com a comunidade brasileira nos Estados Unidos. O objetivo é que este espaço sirva para explorar temas divertidos, interessantes e relevantes. E assim, espero poder expressar um pouco os sentimentos da juventude imigrante, e contribuir à criação de uma comunidade dinâmica e acolhedora na Flórida.
John Hutton:
Oi, meu nome é John Hutton. Sou estudante na Universidade da Flórida. Estou no meu último ano estudando português e microbiologia. Sou de St. Augustine, Flórida, a cidade mais antiga dos Estados Unidos.
Nasci e cresci na mesma cidade, já viajei para outros lugares nos Estados Unidos, mas depois do ensino médio senti a necessidade de sair do país. Não apenas ir para uma faculdade a uma hora e meia de distância, mas realmente sair. Foi esse querer que me estimulou a fazer um programa maravilhoso chamado Rotary Youth Exchange (Programa de Intercâmbio de Jovens do Rotary) depois do ensino médio. Este programa me deu a oportunidade de morar em Blumenau, Santa Catarina, com famílias anfitriãs. Fui um estudante em duas escolas de ensino médio, uma particular, a Escola Barão do Rio Branco, e a outra, Pedro II, pública. Este ano foi um dos anos mais importantes e formativos na minha vida. Aprendi muito sobre mim e sobre o mundo fora dos Estados Unidos. Eu saí querendo algo novo na minha vida, mas voltei com muito mais: bons amigos em muitos lugares no mundo, uma segunda língua na minha cabeça e (correndo o risco de ser clichê) boas lembranças no meu coração. Foi um prazer conhecer um país tão especial como o Brasil, cujo povo amável me encantou.
Voltando para Flórida e começando meus estudos, senti muito falta do Brasil e da língua portuguesa. Resolvi fazer aulas para manter meu português mas há pouco me dei conta que as aulas ensinaram muito mais que linguagem. Aprendi sobre Machado de Assis na aula de literatura do século XIX, interpretação simultânea na aula de tradução e agora estudamos distopia com foco no 3%, uma série do Netflix. Ao mesmo tempo, tomei aulas de bioquímica e imunologia para me preparar para faculdade de medicina.
Fora das salas de aula, trabalho como voluntário numa comunidade geriátrica e com organizações de ativismo. Uma das organizações é Right Care Alliance que tenta fazer tratamentos médicos mais acessíveis. O outro é Divest UF que encoraja a Universidade da Flórida a ter investimentos mais éticos, especialmente nas áreas de meio ambiente e prisões privadas.
Estou animado para lhes contar mais sobre os acontecimentos na minha vida em Gainesville. Até já!
Lorena Reis:
Meu nome é Lorena Reis e estou no meu último ano na Universidade da Flórida (UF) estudando saúde pública e português com uma especialização (minor) em Estudos Latino-Americanos. Eu tenho 21 anos e nasci e fui criada em Boca Raton, Flórida.
Estou muito feliz em poder ter a oportunidade de escrever para este jornal. Eu tenho uma grande conexão com Brasil e com a população brasileira aqui nos Estados Unidos. Meus pais são do Sudeste do Brasil; minha mãe é de Minas Gerais e meu pai é do Espírito Santo, e ele ainda mora lá. Desde criança eu visitava a minha família no Brasil que está por todas as partes, e cada vez que eu me despedia dela, o desejo de conhecer o Brasil melhor crescia. Eu fui criada com um padrasto americano, e portanto, eu sentia falta da língua portuguesa e da minha conexão com a comunidade brasileira apesar de morar em Boca Raton (uma cidade com muitos brasileiros). Essa lacuna começou a se preencher quando cheguei à UF e decidi fazer aulas de português. Logo depois, tive a oportunidade de fazer um curso de Português e de cultura brasileira, através da UF, no Rio de Janeiro em julho de 2017, que aprofundou o meu entendimento da minha herança e ajudou a me conectar mais com o povo brasileiro. Após o programa, continuei fazendo aulas de português sobre civilização lusófona, tradução e interpretação, e literatura do século XIX. Eu não me sinto mais tão nervosa quando falo português. Agora, tenho mais confiança em afirmar minha identidade brasileira especialmente como parte de uma minoria importante da população americana.
Fora da universidade, estou envolvida em várias outras atividades. Eu faço parte da Danza Dance Company como secretária. Esta organização foca em aulas de dança, como jazz, dança contemporânea e hip hop, e organiza várias apresentações durante o ano. Também, tenho muita paixão em entender e advogar justiça social através da saúde pública. Neste ramo, tenho experiência em países como Colômbia, Haiti e Honduras desenvolvendo programas sustentáveis de saúde através da educação e do alcance comunitário. Um dia quero usar as minhas experiências para auxiliar comunidades do Brasil. Além disso, trabalho como barista em um café que faz parte de um centro de estudos cristãos. Minha fé religiosa e participação na igreja, especificamente na igreja católica aqui em Gainesville, me dá apoio e motivação para alcançar minhas metas escolares e pessoais.
Texto produzido por Nicole Calderón, John Hutton e Lorena Reis – alunos da UF (University of Florida) –, com supervisão da Professora Andréa Ferreira e da redação.