Eu deveria estar abrindo esta coluna parabenizando o Palmeiras pela ótima campanha que levou o clube ao seu nono título nacional e quebrou a sina de 22 anos sem conquistar o Campeonato Brasileiro de Futebol. E também congratulando o novo campeão da Copa do Brasil – título que está mais para o Grêmio do que para o Atlético Mineiro. Entretanto, tudo ficou adiado por causa do mais infausto acontecimento no esporte brasileiro: o acidente aéreo que matou quase toda delegação da Chapecoense – apenas três jogadores ainda lutam pela sobrevivência -, os jornalistas que acompanhavam a equipe (somente um escapou da morte) e dois tripulantes que conseguiram se salvar desta tétrica contabilidade de 71 pessoas mortas.
Infelizmente, esta coluna precisa ser diferente. E assim será. Não cabe aqui discutir as péssimas condições da empresa aérea Lamia contratada para fazer um voo charter entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellin, na Colômbia, que não chegou ao seu destino e deixou nos corações e mentes de todos os torcedores uma dor inexplicável que contagiou o esporte mundial.
Na quarta-feira (30) à noite, torcedores do Atlético Nacional lotaram o Estádio Atanasio Girardot para assistir ao jogo que não houve, levando velas, flores e terços para homenagear o adversário que deveria estar em campo. Além disso, os colombianos entoaram o grito de guerra “Vamos, vamos Chape!”, repetindo o que os jogadores da Chapecoense cantaram no vestiário após empatarem em 0 a 0 com o San Lorenzo de Almagro, da Argentina, e se classificaram para a final da Copa Sul Americana de Futebol.
Enquanto os colombianos davam esta lição de civismo e solidariedade, os torcedores da Chapecoense lotaram a Arena Indio Condá, no mesmo dia e horário, para chorar seus mortos durante a realização de uma missa e para demonstrar a união entre dois clubes que compartilham até mesmo as cores escolhidas. Ambos são verde e branco. A torcida do Atlético Nacional é conhecida como “los hinchas verdolagas”, enquanto os fãs da Chapecoense chamam esta jovem equipe de “Verdão do Oeste”, em referência à localização do clube de Santa Catarina.
ϒ Clubes de todo mundo se solidarizam
A tragédia, pelo menos, serviu para demonstrar que os clubes de todo mundo estão unidos para minorar a dor da Chapecoense, que perdeu quase todo seu elenco – se salvaram aqueles que estavam lesionados e não puderam viajar -, a comissão técnica, dirigentes, além de 20 jornalistas que estavam no voo para narrar as glórias de um pequeno clube que soube engrandecer o futebol brasileiro. E a solidariedade estendeu-se por todo o planeta. Jogos de futebol na Europa, no México, na Argentina e em todos lugares serviram como palco de homenagem às vítimas do mesmo esporte que eles praticam. Até mesmo a rodada da NBA tinha um símbolo de luto no placar em solidariedade aos esportistas que foram vítimas de uma fatalidade.
ϒ Clubes brasileiros unidos pela Chape
Todos clubes brasileiros se uniram para manter a Chapecoense no lugar que ela merece. O presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, foi autor da proposta prontamente aceita pelos demais. Eles disponibilizarão alguns atletas para que a nova comissão técnica do clube catarinense possa remontar seu elenco, sem cobrar nada por isto. Além do mais, foi proposta a manutenção da Chapecoense na Série A por três anos seguidos (até 2019), independente de sua classificação final no certame. Neste caso, o clube rebaixado será aquele que terminar em 16º lugar. Até mesmo os clubes argentinos estão dispostos a participar desta iniciativa de emprestar jogadores à Chape.
ϒ Todos colocaram escudos em preto em sua webpages
Chocados, os co-irmãos brasileiros colocaram o escudo da Chapecoense em preto como forma de homenagem e luto. O campeão brasileiro Palmeiras, última equipe a enfrentar a Chapecoense, solicitou à CBF autorização para usar o uniforme da equipe de Santa Catarina em seu último jogo contra o Vitória, em Salvador. Até mesmo a patrocinadora e a fornecedora de material esportivo do clube, Crefisa e Adidas respectivamente, concordaram com o pedido. O São Paulo quer atuar de preto em sinal de luto e o Corinthians quebrou seu paradigma ao usar o verde e branco em sua webpage, algo quase proibido em função de sua rivalidade com o Palmeiras. Enfim, todos de uma forma ou de outra demonstraram estar solidários com a tragédia que se abateu sobre Chapecó.
ϒ CBF transfere rodadas
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu adiar os jogos finais das competições coordenadas por ela. Desta forma, a final da Copa do Brasil reunindo Grêmio e Atlético Mineiro foi transferida para o dia 7 de dezembro, enquanto a rodada final, prevista para 4 de dezembro, será realizada no dia 11 de dezembro. Todos concordaram com esta decisão em razão do clima de tristeza que tomou conta do futebol brasileiro. O presidente Michel Temer decretou luto nacional de três dias,a CBF decretou sete dias de luto e o presidente da Fifa, Gianni Infantino, vai a Chapecó prestar sua solidariedade em nome do futebol mundial.
ϒ Galo não jogará contra Chapecoense
O presidente do Atlético Mineiro, Daniel Nepomuceno, decidiu em nome da diretoria e jogadores não viajar para Chapecó a fim de enfrentar a Chapecoense na partida da última rodada do Brasileirão 2016. Ele inclusive já conversou com Marco Polo del Nero, que concordou com a decisão. Assim, a equipe mineira perderá os pontos por W.O. e a Chapecoense ficará com os três pontos. Além de ser uma atitude sensata e solidária, o resultado nada alterará em termos de Campeonato Brasileiro, pois o Galo já está classificado para a Pré-Copa Libertadores da América do próximo ano e a Chapecoense já tem presença garantida na Copa Sul Americana de 2017.
ϒ Chapecoense convidada para disputar o Ramón de Carranza
Como forma de ajudar financeiramente e prestar homenagem para as vítimas do voo que levava a delegação da Chapecoense e vários jornalistas para a Colômbia, que caiu perto de Medellín deixando 71 mortos, a prefeitura de Cádiz, na Espanha, e a equipe local que carrega o mesmo nome da cidade informaram que o clube brasileiro será convidado para participar da próxima edição do Troféu Ramón de Carranza., com todas despesas pagas.
ϒ Nota dissonante
Dentro dessa onda de solidariedade, a nota dissonante ficou por conta Fernando Carvalho, diretor de futebol do Internacional. Sem noção, ele ousou comparar a tragédia da Chapecoense à do Internacional, que está ameaçado de ser rebaixado para a Série B, e discordou do adiamento da.última rodada da competição. Após a enxurrada de críticas, o clube e o próprio Carvalho se retrataram, e o dirigente admitiu ter sido bastante infeliz na comparação.
ϒ Chape pode disputar a Libertadores
Aliás, a equipe de Santa Catarina poderá disputar a Copa Libertadores da América em 2017, pois o Atlético Nacional, em uma atitude muito digna, solicitou à Conmebol – entidade que dirige o futebol sul-americano – que a Chapecoense fosse decretada campeã da Copa Sul-Americana 2016. Caso a Conmebol confirme a decisão, ela terá garantida sua participação na principal competição subcontinental. Entretanto, a Conmebol ainda não decidiu o que fazer, alegando compromissos comerciais com patrocinadores e outras pendências, algo que sinceramente não faz sentido diante do tamanho da tragédia.
ϒ Atlético Nacional tem a torcida dos brasileiros
Agora, o Atlético Nacional está preparando-se para disputar o Mundial Interclubes no Japão, e o grande adversário será o Real Madrid – outra equipe que também se solidarizou com a Chapecoense. Entretanto, a manifestação de carinho demonstrada pela torcida, jogadores e dirigentes do Atlético Nacional transformou el equipo verdolaga no time preferido para vencer o Mundial Interclubes de Futebol. Agora, todos somos Atlético Nacional!