A eleição de Donald Trump surpreendeu o eleitorado, porque, segundo as pesquisas, a disputa pela Casa Branca seria acirrada. As urnas revelaram outro resultado. E ele vai governar com o apoio do Legislativo e do Judiciário. É o que se pode chamar de barba, cabelo e bigode no Brasil.
Porém, passada a euforia e/ou depressão pelos resultados eleitorais, chegou o momento de discutir como pode ser o segundo mandato do empresário que voltou ao poder, depois de ter perdido a reeleição para Joe Biden.
Como somos brasileiros, o AcheiUSA ouviu alguns especialistas em comércio exterior para saber as opiniões deles sobre as projeções do governante do Partido Republicano em relação ao Brasil.
O sócio-diretor do Center Group nos EUA e presidente do Conselho da Brazilian-American Chamber of Commerce of Florida, Carlos Mariaca, emitiu sua opinião pessoal sobre este assunto e enfatizou não ser uma posição oficial das organizações.
“Acredito que seja um pouco cedo para poder determinar o verdadeiro impacto que a nova administração do presidente Trump terá na relação comercial entre o Brasil e os EUA, pois não sabemos quantas de suas promessas de campanha, e o escopo delas, ele conseguirá implementar. Algumas dessas promessas podem ser implementadas via Ordens Executivas e outras precisam de aprovação do Congresso (Senado e Câmara dos Deputados), e neste dado momento, o resultado das eleições para a Câmara dos Deputados ainda não está finalizado”.
E Mariaca prossegue: “Das promessas que podem ser implementadas via Ordem Executiva, a que provavelmente terá mais impacto nas relações comerciais entre o Brasil e os EUA, seria a implementação das tarifas de importação de 20% para todos os produtos exportados para os Estados Unidos, já que a vasta maioria dos economistas que opinam sobre o assunto dizem que quem paga essa tarifa é a empresa importadora nos EUA. Esse sendo o caso, a empresa americana tem basicamente quatro opções: aumentar seu preço e repassar o custo ao seu cliente, absorver todo ou parte desse custo (mas como as margens praticadas nos EUA são baixas, acredito que isso será bem difícil para os importadores americanos), negociar com o exportador brasileiro para reduzir seu preço de exportação, ou uma combinação desses três.”
Ou seja, o panorama pintado por Mariaca não é muito animador.
Carlo Barbieri tem opinião semelhante no longo prazo
O economista e consultor empresarial Carlo Barbieri Filho, que atua no segmento de empresas que desejam investir nos dois países, acredita que no curto prazo o impacto da administração Trump pode ser benéfica para os empresários brasileiros.
“No curto prazo, acredito até que vai melhorar, uma vez que o foco da taxação maior será sobre a China. Deste modo, o Brasil poderá ser favorecido com a comercialização de seus produtos agrícolas em relação aos chineses. Além disto, os produtores brasileiros poderão vender mais para a China (nosso maior parceiro comercial), porque os chineses não vão querer comprar dos Estados Unidos ou também irão estabelecer sobretaxas para os produtos americanos exportados para lá.”
A longo prazo, isto pode se tornar um problema, porque a China exporta $40 bilhões para os Estados Unidos. “Com a sobretaxa, os produtos chineses certamente ficarão mais caros para os consumidores americanos e isto pode gerar um processo inflacionário. E também os produtos brasileiros terão mais dificuldades para entrar no mercado americano.”
Outro aspecto abordado por Barbieri foi o fato da atual administração brasileira. Hoje, o Brasil integra o bloco do BRICS, que vem a cada ano ganhando contornos de antiamericanismo. Como o Brasil tem viés capitalista, mas atualmente tem um governo de tendência esquerdista, isto pode se tornar um empecilho: “Se houver uma eleição no Brasil, a escolha por um governo mais de centro ou direita certamente vai ajudar a pavimentar o relacionamento com o Brasil. Hoje, em termos de América Latina, a Argentina deve ser a menina dos olhos do novo governo dos EUA. Entretanto, acho que o Brasil deve adotar uma postura mais pragmática e menos ideológica em relação ao próximo governo americano”.
Rodrigo Fonseca elogiou o processo democrático americano
O ex-diplomata e negociador internacional Rodrigo Fonseca fez questão de elogiar a tranquilidade como transcorreram as eleições americanas, sem nenhum tumulto, o que fortaleceu ainda mais o caráter da democracia desta nação.
Em relação à imposição de tarifas alfandegárias aos produtos estrangeiros, Fonseca acredita que o Brasil possa tirar partido desta medida, uma vez que a China deverá ser a maior penalizada: “O Brasil tem uma vasta pauta de exportações e alguns produtos são altamente competitivos no mercado internacional, como carne, café, soja, milho, frango. Mesmo com a sobretaxa, creio que os produtores brasileiros continuarão fortes no mercado internacional, inclusive aqui nos EUA. Talvez produtos mais elaborados, como o aço, por exemplo, possam sofrer mais com as restrições, entretanto estou otimista com a manutenção e até mesmo expansão dos produtos brasileiros aqui para os Estados Unidos”.
Josefina Guedes aposta na manutenção dos acordos bilaterais e globais
A sócia-fundadora da GBI Internacional, especialistas em política industrial e comércio exterior e em diplomacia empresarial, Josefina Guedes aposta que o novo governo não deve interferir com as parcerias e projetos que já estão em andamento.
“Há uma pauta que envolve a maioria das nações em torno de energias renováveis. Participei de encontros na Califórnia, em Dubai, São Paulo, México em em Bogotá sobre aproveitamento do hidrogênio e da energia eólica. No G20 (grupo de países emergentes) deveremos seguir com essas pautas estratégicas. Isto é importante dentro do processo de reindustrialização proposto pelo presidente Trump, que pretende trazer de volta as empresas americanas instaladas na Ásia.”
Josefina Guedes enfatiza que os Estados Unidos é um país com muitos recursos naturais, deste modo, investir em energias renováveis e em pesquisas para descoberta de novos medicamentos pode abrir novas fronteiras para o país e para o mundo. “Minha única preocupação é o atual cenário de confrontação pelo qual o mundo está passando. Se os líderes mundiais não mudarem suas posturas e baixarem o tom, temo que possamos enfrentar a Terceira Guerra Mundial”, comentou a analista, revelando que reza diariamente pelo Brasil e pelos EUA para que estas nações continuem trilhando o caminho da paz.
Amém Josefina, amém!