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Entenda os motivos que influenciam o sobe e desce do dólar

O movimento do dólar depende de uma conjunção de fatores, conforme explica Nadja Heidirich

Nadja Heidrich (Foto: Divulgação)
Nadja Heidrich (Foto: Divulgação)

DA REDAÇÃO – A professora de Economia e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da FECAP, Nadja Heiderich, explica porque alguns motivos influenciam no alto valor do dólar atualmente: incerteza com relação à economia brasileira, crise do coronavírus, teto de gastos públicos e a falta de reformas estruturantes no Brasil fazem com que os investidores fujam do Brasil, aumentando a taxa de câmbio no mercado interno.

Aqui estão alguns pontos importantes sobre o cenário da moeda americana.

O que influi no valor do dólar?

O valor é expresso por meio da taxa de câmbio, que nada mais é do que a taxa de troca entre duas moedas diferentes.

“Usamos o dólar como principal moeda para transações com o exterior. O mercado cambial é um mercado como outro qualquer, onde há a oferta e a demanda. Pela união entre oferta e demanda, a gente tem o valor dessa moeda, que é expresso pela taxa de câmbio”, explica Nadja.

Quem oferta a moeda estrangeira são as instituições que trazem o dinheiro para o país: pode ser o investidor, o turista, ou o exportador brasileiro que vendeu lá fora e está recebendo em dólar: todos os atores econômicos que têm recebimentos no exterior e trazem a moeda para cá.

“Eles estão vindo para o Brasil e precisam trocar essa moeda estrangeira. Quem demanda dólar são todas as pessoas que têm obrigações no exterior que precisam trocar reais por dólar para tirar o recurso daqui: uma pessoa que precisa pagar um empréstimo, o importador que precisa pagar em moeda estrangeira, ou o investidor que vai tirar recursos do País”.

E é pelo movimento entre oferta e demanda que temos o valor da moeda. Quanto mais pessoas precisam de moeda estrangeira e sai uma notícia (como medidas econômicas ou crises) que faz os investidores tirar dinheiro do Brasil por medo do risco de perder investimentos, naturalmente a taxa de câmbio sobe. Por outro lado, se há fluxo mais constante de entrada de dólar no País, a taxa de câmbio baixa.

Como o dólar afeta a economia?

O valor da moeda americana tem impacto diretamente sobre produtos importados. Outro aspecto é que o dólar aumenta o custo de serviços e da produção de empresas que dependem de insumos importados, afetando toda a cadeia econômica.

Por outro lado, exportadores se beneficiam de taxa de câmbio ao vender seus produtos lá fora. No momento da conversão em reais, recebem mais pela produção. O produto nacional fica mais barato e competitivo lá fora, beneficiando certos setores exportadores aqui dentro.

O ‘brasileiro comum’ vai se sentir afetado por conta de produtos importados que serão mais caros. Itens importados pelo Brasil, como a gasolina, também afetam vários preços. Pode haver repique da inflação, conforme o quanto esses itens representam no consumo dos brasileiros.

Dólar a R$ 2,00 nunca mais?

Muita gente deve lembrar que, há não muito tempo, o dólar chegou a valer pouco mais de R$ 2,00. O que mudou no cenário econômico para que a moeda saltasse para quase R$ 6,00 em pouco tempo?

Segundo Nadja, vários fatores contribuíram. A crise de 2015 derreteu as expectativas dos investidores com relação ao Brasil, causando uma saída de fluxo de capital muito grande. Além disso, a queda histórica da Taxa Selic (indicador que remunera os títulos públicos) afastou os investidores que vinham para cá aproveitar a taxa de juros, que era mais alta do que em outros mercados internacionais.

“Perde-se atratividade e o investidor foi procurar outros mercados. Outro fator é a pandemia, que aumentou o risco dos investimentos. Os países que têm risco, como o Brasil, sentem a saída de recurso”.

Uma notícia boa em meio a esse cenário é que o mercado tem criado expectativas sobre as reformas que o Brasil precisa realizar, como a Administrativa e a Tributária, pontos sensíveis que o investidor espera avançar.

“Precisamos de mais solidez para pagar as dívidas. Enquanto isso, não temos condição de oferecer retorno para determinados investimentos. A reforma da Previdência foi um sinal de que não iríamos quebrar em um curto horizonte, mas precisamos de outras reformas. Com a pandemia de covid-19, o governo gastou muito com o auxílio emergencial e outras medidas de estímulo à economia, e o teto de gastos é outro ponto sensível para a confiança dos investidores”.

Como o governo atua para segurar o dólar?

Quando há um movimento de brusca elevação, o Banco Central age por meio de swaps cambiais, vendendo a moeda estrangeira para tentar conter a elevação dos preços.

“O regime cambial brasileiro é de flutuação suja, onde a taxa de câmbio é definida pelo mercado, mas o Banco Central interfere para evitar valorização ou desvalorização excessiva. Mas é claro que ele precisa fazer isso com cautela, porque, se sinaliza ao mercado que em qualquer elevação ele vai injetar dólar, os especulares podem articular um movimento chamado de ‘ataque especulativo’ para fazer com que o BC queime as reservas internacionais. Não é sempre que o BC entra no circuito, mas busca fazer isso em momentos críticos”, explica.

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