DA REDAÇÃO (com Bloomberg)
Na crise que o Brasil atravessa, as empresas brasileiras descobriram onde investir em meio ao caos político e à instabilidade econômica: em qualquer lugar, menos no país.
Um bom exemplo é o da WEG (empresa especializada na fabricação e comercialização de motores elétricos, transformadores, geradores e tintas), com sede em Jaraguá do Sul (SC). Nos últimos dois meses, a empresa abriu sua terceira fábrica na China, aumentou a capacidade no México e anunciou a aquisição de uma fabricante de motores elétricos em Indiana, nos EUA.
Enquanto a receita da empresa de produtos de beleza Natura Cosméticos fora do Brasil aumentou 42% no primeiro trimestre, as vendas domésticas caíram quase 10%. O CEO Roberto Oliveira de Lima atribuiu a culpa à piora do cenário político e à carga tributária.
A Natura, com sede em São Paulo, está se concentrando por enquanto na expansão internacional, disse Lima no mês passado em uma teleconferência com investidores. A empresa está conquistando participação no mercado de outros países latino-americanos e iniciando uma operação online na França, através da qual também poderá vender para clientes em outros países da Europa. “No Brasil, esse ano vai ser para a gente focar nos processos estruturais, para que, quando o país recuperar seu crescimento, estejamos bem posicionados para competir”, disse ele.
Uma grande limitação para as empresas que buscam investir fora do país é a queda de 43% do real frente ao dólar nos últimos três anos, incluindo a recuperação de 11% no ano até agora. Isso significa que elas precisam gastar mais para crescer no exterior. Por outro lado, lucram mais quando repatriam a receita externa, obtida em moedas mais fortes.
Esperança no novo governo
As crises política e econômica do Brasil são as principais razões da relutância das empresas em investir domesticamente. Em uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas com 670 empresas, 81% dos participantes disseram que o ambiente político era a principal influência negativa sobre as decisões, seguido pelo ambiente macroeconômico, com 71%. A demanda externa foi percebida como a maior influência positiva, com 32%.
Há sinais, no entanto, de que as perspectivas empresariais podem estar mudando com o novo governo interino. A confiança industrial deu o maior salto neste mês, quando o vice-presidente Michel Temer assumiu temporariamente a presidência, desde que o indicador começou a ser monitorado, em 2010. A alta foi de 36,8 em abril para 41,3 em maio, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria.