Estados Unidos

Empresa de Miami dá nova vida aos tênis descartados e contribui com a redução de resíduos

A Sneaker Impact revende os seminovos no mercado interno, exporta parte dos calçados e ainda recicla os materiais

Estima-se que mais de 300 milhões de pares de sapatos são descartados anualmente nos Estados Unidos (Foto: Seth Werkheiser/Wikimedia)
Estima-se que mais de 300 milhões de pares de sapatos são descartados anualmente nos Estados Unidos (Foto: Seth Werkheiser/Wikimedia)

Todos os dias, milhares de tênis são descartados ou doados sem uma destinação adequada, e grande parte acaba em aterros sanitários onde podem levar mais de mil anos para se decompor.  Estima-se que mais de 300 milhões de pares de sapatos são descartados anualmente nos Estados Unidos. Com o intuito de resolver essa problemática, o empresário Moe Hachem desenvolveu um modelo de negócio que recicla e reutiliza tênis descartados. Ao prolongar a vida útil dos calçados esportivos, a  Sneaker Impact, sediada em Miami, contribui para a redução da pegada ambiental e climática dessa indústria. Além disso, ajuda a mitigar as críticas ligadas ao “colonialismo de resíduos” –  termo usado para denunciar a destinação inadequada de materiais descartados para os países em desenvolvimento.

A empresa conta com pontos de coleta espalhados por todo o país – desde academias e clubes de corrida, como a FootWorks Running e o Brickell Run Club, até instituições de ensino, como a Universidade de Miami. A família de Hachem atua no ramo de produtos usados ​​no varejo há décadas, mas o tênis passou a ser o foco a partir de 2020.

Na Sneaker Impact o processo de reutilização se inicia pela classificação rigorosa dos produtos. Os que estão em bom estado e são de marcas famosas, como Nike Air Force 1, Jordan e HOKA, por exemplo, podem ser revendidos como seminovos.

Já os tênis considerados no fim da vida útil – com sulcos acentuados ou danos severos – seguem para a trituração. Um dos maiores desafios enfrentados na reciclagem é separar as pilhas multicoloridas geradas pela trituradora, já que cada par pode conter mais de 15 materiais distintos, com plásticos e adesivos que dificultam o processo.

Além de reciclar, a companhia também está explorando o reaproveitamento dos materiais. A espuma e a borracha extraídas são utilizadas na fabricação de pisos – os escritórios da sede da companhia têm o piso feito inteiramente de borracha e espuma de tênis reciclados. A Sneaker Impact também desenvolveu parceria com empresas californianas, Community Made e Blumaka, para desenvolver protótipos de novos produtos, como tênis, chinelos (com conforto comparável ao dos Crocs) e botas.

Outra faceta do negócio é a revenda internacional. Calçados em bom estado, mas que não se enquadram ao padrão de consumo do mercado interno, são exportados para países como Haiti, Honduras, Guatemala e Bolívia. Cada contêiner de 20 pés carrega até 10 mil pares de calçados. Mesmo os tênis considerados “sujo” ou com danos superficiais são enviados para reparos ou lavagem, ganhando nova vida em mercados de segunda mão.

 “Você não está apenas reduzindo o desperdício, mas também criando oportunidades de micronegócios. Em países em desenvolvimento, esses calçados são uma necessidade”, comenta o empresário.  

No entanto, os críticos da indústria de resíduos questionam a prática de enviar material para mercados menos desenvolvidos. A instrutora de moda sustentável na Universidade de Columbia, Francesca Belllumini, alerta para o risco do “greenwashing corporativo” e do “colonialismo do lixo”, destacando que muitas roupas e calçados descartados nos Estados Unidos acabam se tornando resíduos em países de baixa renda.

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