Cheguei de viagem cedo no sábado passado, entrei em casa com minhas malas pesadas em silêncio–para variar minha filha estava dormindo às 10:30h. Uma amiga estava deitada dormindo no chão do quarto ao lado dela, cabelos compridos de um lado e cabeça raspada do outro. Não quis acordá-las e fui direto para a feira para abastecer nossa geladeira coco (só tinha água dentro). De lá liguei e elas estavam acordadas, perguntei se queriam pastel e comprei nosso “almoço” (hum… pastel de feira!).
Chegando em casa. cumprimentei a amiga (tadinha, que feia…) com um beijo no rosto e fui para meu quarto finalmente me arrumar depois de um voo de oito horas e mais seis entre aeroportos e táxis. Elas ficaram conversando e eu pensei “Putz, coitada, além de feia, tem voz de homem”.
Dali a pouco, minha filha chega e diz “pai, eu e o Zamber (nome fictício) vamos ao Ibirapuera, volto no fim da tarde, ok?” e eu “hã, como assim O Zamber?? Achei que era menina!” e ela “pai, eu vivo falando dele pra vc (como se eu prestasse atenção em nomes) mas sem problema, ele é gay”. Fiquei meio zurêta, sem entender direito. Essa geração tem que usar um bracelete com cores diferentes para sabermos identificar os sexos, tipo azul para homens, rosa para mulheres e arco-íris para outrox–cá entre nós, coisa idiota essa de “x” no fim das palavras. Tá, meu lado troglodita está se manifestando demais, terei que usar meu taser cerebral nele enquanto escrevo.
Na hora que eles (“eles” ou “elxs”? Nah, nem sei usar isso) estavam saindo, passaram por mim na cozinha e falei “ô cara, não sabia que vc era homem, sorry, ainda estou zonzo da viagem” e ele “não tem problema, tudo bem aí?” e eu enchendo um copo respondi “sem stress, tenho tequila aqui” – ele deu risada e saíram.
Sou de uma geração antiquada que cresceu zoando de tudo e de todos, mas entendo que hoje em dia muitas das brincadeiras soam politicamente incorretas – é difícil me policiar o tempo todo. Ainda chamo alguns amigos de viadón, filho da “piiii” (não vou escrever “puta” aqui, é um jornal com leitores respeitados e… oops, sorry). Essa minha forma arcaica de pensar até já me deu problemas no Facebook. Há uns meses eu via postagens de meus amigos mostrando uma loira esquisita cantando. Até o dia que fiquei sabendo que era um cantor famoso. Postei sobre essa minha ignorância do fato, e usei a palavra “traveco”. Acredita que levei 24 horas de suspensão da minha conta? Se eu tivesse usado “porco chauvinista machista” eles não ligariam, afinal, ofensivo é só o que eles classificam como tal…
Aliás, fiquei sem reação em tentar reprimir a Bianca, já que eu havia avisado que não era para trazer meninos para dormir com ela – afinal, não entendi direito se ela descumpriu minhas regras ou não. Muito confuso tudo issox…