Histórico

Editorial: Desrespeito aos cidadãos

Antonio Tozzi

São Paulo-SP – Deprimente é o adjetivo que serve para resumir o que fez a torcida do Corinthians no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na noite de segunda-feira, 03 de dezembro. Os vândalos tomara conta do aeroporto cantando consignas e provocando os passageiros que nada tinham a ver com o fato da equipe corintiana estar embarcando para o Oriente onde vai disputar o Campeonato Mundial Interclubes da FIFA.

Não se trata de tolher a liberdade de os torcedores demonstrarem carinho para com os atletas do time para o qual torcem, mas sim da falta de desconfiômetro das autoridades que são responsáveis pela segurança pública. Ora, todos sabem que os aeroportos são áreas de segurança nacional, portanto, nunca deveria ter sido permitida uma manifestação deste tipo num local tão sensível.

O irônico é que a declaração de amor dos corintianos foi garantida e até mesmo coordenada por agentes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária e da Polícia Militar esta última, inclusive, teve de agir por causa dos excessos cometidos pelos “fiéis torcedores”, que levaram garrafas de bebidas alcoólicas para, digamos, comemorar a partida de seus heróis. O adeus aos jogadores deveria ter sido realizado no Centro de Treinamento da equipe, um local reservado exclusivamente para os corintianos.

Em qualquer país civilizado, isto seria inadmissível. Ora, já é difícil controlar a circulação normal dos passageiros, agora, imagine três mil pessoas a mais, cujo único objetivo era gritar palavras de ordem (muitas rimas obviamente continham palavrões), exibir cartazes e faixas e agitar bandeiras, pouco se importando para quem estava embarcando ou desembarcando nos voos domésticos e internacionais.
Eu fui uma das vítimas ao ter tido a infelicidade de desembarcar em Guarulhos de um voo procedente de Salvador. Graças aos “fiéis torcedores” demoramos cerca de duas horas para conseguirmos chegar à locadora de automóveis e retirar o carro que havia sido previamente alugado.

Se quem chegou enfrentou muitos transtornos, dá para imaginar quem estava a caminho do aeroporto para tomar um avião para outro destino. Deve ter tido o dissabor de perder o voo e ter de aguardar que a empresa aérea o colocasse em outro voo. Isto é um verdadeiro desrespeito aos cidadãos. A tua liberdade não pode impedir a liberdade dos outros, esta é uma regra básica que deveria ter sido seguida neste episódio.

Além do descalabro dos torcedores sobretudo da indigitada torcida uniformizada Gaviões da Fiel, com vários atos de vandalismo nas costas -, devemos destacar a falta de visão das autoridades policiais que jamais deveriam ter permitido tamanho desatino. Pior, ainda fecharam vias de acesso para permitir que os ônibus e os carros dos torcedores pudessem transitar livremente e consequentemente dificultaram o trânsito para os demais neste importante terminal aeroviário.

Outro destaque negativo vai para a imprensa. Não por ter noticiado o fato, que, queiram ou não, era notícia, mas, sim, por exaltar este tipo de comportamento, como uma demonstração de carinho para com o clube do coração. Pensando em ser talvez a única voz a condenar isto, considerei um dever relatar e denunciar o que ocorreu dentro do aeroporto de São Paulo e em suas imediações, onde os canteiros foram tomados por carros sem que ninguém aplicasse sequer uma multa.

Está mais do que na hora das autoridades terem medo de se indispor com os torcedores/eleitores e governar levando em conta os interesses de todos os cidadãos e não de apenas um punhado de desvairados que infelizmente ainda convergem para um clube de futebol seus recalques e frustrações. Ou seja, se alguém fosse pedir para eles fazerem um trabalho voluntário em um hospital de pessoas carentes mais da metade provavelmente diria não.

O pior ainda pode vir. Se o Corinthians conseguir o tão almejado título, coitado do Aeroporto de Guarulhos e da cidade de São Paulo. Com certeza, estará aberta a temporada de vandalismo explícito. Tudo com o beneplácito das autoridades e com o obsequioso silêncio das vítimas, quer dizer, dos cidadãos.

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