Por Sonia Ioannides*
Os bons cuidados começam desde cedo. A maternidade, o nascimento, o primeiro ano da vida do bebê são extremamente importantes. Os bebês são muito dependentes e não vêm com bula e nem receita, dependem do meio ambiente, dos cuidados e do bom senso dos adultos para se desenvolver. É claro que há fatores genéticos, anormalidades adquiridas independentes da genética e outras situações traumáticas inesperadas, como perdas e acidentes, mas esse seria tema para outro artigo. Vamos falar aqui das crianças fisicamente normais e potencialmente normais sob o ponto de vista da saúde mental. É exatamente dessa parte do desenvolvimento emocional normal que nós, pais, somos responsáveis.
Tudo vai ter influência na vida do bebê. Se a mãe teve uma gravidez boa, se o bebê era desejado e bem-vindo, já é um bom começo, mas se a mãe desejava um menino e nasce menina, essa criança já vai sofrer, sem necessidade, uma rejeição que foi trazida pela decepção da mãe. Se esta mãe supera a frustração ao ver o bebê sadio e percebe a importância do seu amor, independente das suas expectativas, não haverá maiores problemas.
O bebê se desenvolve por etapas. A primeira fase seria a da amamentação e depois desmame, a segunda seria a do treinamento dos esfíncteres, e a terceira seria a da curiosidade sexual. Em cada uma dessas etapas, há ansiedades e necessidades básicas que precisam ser supridas, que criarão satisfação ou frustração. Por exemplo, se o bebê ficou sem ser amamentado por um tempo muito prolongado ou o desmame foi muito rápido; quando crescer, ele poderá apresentar constante insatisfação com as realizações da vida adulta. O sentimento de estar sendo sempre lesado pode ser por causa disso. O contrário é o manifestado pelo indivíduo que deseja todas as coisas, mas somente está disposto a fazer o mínimo de esforço para obtê-las. Esta pessoa foi acostumada a ter sempre sua vontade satisfeita, bastava um grito, um choro, e lá vinha a mamadeira ou a chupeta.
Esses cuidados dispensados desde o inicio vão ser os fatores que contribuirão para desenvolver o caráter e a personalidade. No final de um ano, o bebê já está mais integrado, é uma pessoa total que percebe as pessoas de uma forma total, o que não acontece nos primeiros meses da vida. De um estado de sentir-se fundida à mãe, o bebê passa para um estado de separar o Eu do não Eu. A saúde mental da criança depende muito do balanço das suas necessidades. Atitudes muito permissivas fazem tanto mal quanto atitudes muito rígidas.
Quando um homem e uma mulher tornam-se pais desenvolve-se uma situação psicológica real entre ambos, porque cada um leva a concepção e esperanças anteriores relacionadas à paternidade. O êxito na possibilidade de renunciar aos papéis originais vai depender da capacidade de cada um. Em geral, os pais estão dispostos a essa renúncia em favor do novo, do bebê, mas há casos onde inconscientemente, um dos pais ou ambos terão dificuldades, permanecendo no papel anterior de filho ou filha e gerando com isso competições e ciúmes em relação ao bebê. Nos casos aonde o pai tem dificuldade em assumir o papel de pai, ficando com ciúmes das atenções e dedicações da mãe em relação ao bebê, exigindo maior atenção da esposa, acarretará um distanciamento do casal em vez de uma aproximação. O mesmo pode acontecer em relação à mãe, que não consegue abdicar do papel de filha. O pai também desempenha um papel muito importante no desenvolvimento do bebê. O apoio do pai à mãe e à criança é muito importante. A mãe que dá colo para o bebê também precisa de colo, de apoio, para se sentir forte e desempenhar bem o seu papel.
Uma criança bem cuidada e amada se sente bem nutrida emocionalmente formando um time com os pais e aí a educação se torna mais fácil. Ao contrário, a criança que é freqüentemente criticada, vai crescer insegura com baixa auto-estima. É esse ambiente de confiança e amor que ajudará na escolha futura das amizades, dos parceiros e da carreira.
A criança que desde cedo sofreu maus tratos, abusos ou foi negligenciada apresentará distúrbios na formação do caráter, que podem ser físicos ou emocionais. Muitas vezes os pais trazem um modelo de criação onde o bater era uma atitude comum, para disciplinar. Um lar onde não havia elogio, mas só recriminação pelo mal feito – e sobreviveu – repetirá inconscientemente o mesmo modelo com os filhos, achando ser este é o procedimento correto. Se os pais estão cientes de que esse não foi o melhor modelo, poderão inovar e evitar nos filhos aquilo que não gostaram na educação recebida dos próprios pais.
Em resumo, há duas formas de criar filhos: por amor ou por temor. A gentileza, a compreensão e a dedicação criarão filhos saudáveis, gratificadores. O temor, o medo dos pais criarão filhos traumatizados, inseguros e com distúrbios de caráter. Podemos citar outro ditado popular: “Quem bate esquece, quem apanha nunca esquece”.
O bom senso, a atenção, a união do casal, o comprometimento dos pais, os dois ajudando-se mutuamente, resolvendo os problemas que surgem, evita a necessidade da interferência do médico, do psicólogo ou do psiquiatra. Não é preciso ter um diploma universitário para criar um bebê, vai depender muito do bom senso, boa integração mãe-bebê, e a criança se desenvolverá emocionalmente mais forte e seguro.
Os pais que procuram ajuda profissional quando percebem as primeiras dificuldades que não conseguem resolver são os que se preocupam com os filhos e querem entendê-los melhor. Se a criança está na idade escolar, pode-se conversar com a psicóloga da escola, numa idade mais precoce, o profissional pode dar o esclarecimento e o apoio aos pais para prevenir e evitar problemas mais graves no futuro.
Aconselhamento dos pais não significa necessariamente dar conselhos. Trata-se de avaliar onde está o problema e a quem pertence e achar a solução mais adequada a cada caso. Oferecer ajuda a uma criança, ou seja, terapia, sem mudar as condições que estão causando o problema e sem acompanhamento dos pais, não é a melhor solução.
O mais importante é saber e oferecer o (a, b, c, d): amor, bom relacionamento, conforto, carinho, confiança, dedicação e disciplina para que possamos nos orgulhar deles e do nosso trabalho.
*Sonia Ioannides e médica e psicanalista, licenciada no estado da Flórida, membro da Florida Psychoanalytic Society, American Psychoanalytic Association e International Psychoanalytic Association.