Todo mundo sabe que o máximo em tribuna livre hoje é o Facebook. Com um perfil e meia-dúzia de amigos já é possível fazer parte dessa imensa rede virtual, onde cada um é a mídia de si mesmo.
As notícias, falsas e verdadeiras, voam de lá para cá, e se propagam rápido como fogo em papel. Há de tudo, desde fotos do gatinho da família até convocações para passeatas e protestos de todo tipo.
Enquanto a coisa fica só nas fotos de gatinhos e de viagens fabulosas ao oriente, tudo bem. O problema começa quando a mídia é usada como instrumento político.
Aqui cabe uma pequena análise da diferença entre o Facebook e as mídias tradicionais. Nessas últimas, a informação é tratada com cuidado profissional e bem ou mal existe um compromisso com a veracidade da notícia que vai ser divulgada, assim como uma precupação com o efeito que ela vai causar no leitor e na sociedade. É uma mídia “impessoal”, por assim dizer, que assume a responsabilidade de buscar a informação e divulgá-la da melhor forma possível.
Já no Facebook não há nenhuma preocupação ou compromisso com a veracidade da informação: ela apenas precisa corresponder às ideias de alguém para ser imediatamente divulgada, seja falsa ou não. Daí as centenas de notícias escabrosas que vemos diariamente no nosso perfil, falácias que com dois cliques de pesquisa no Google são facilmente desmascaradas.
Por conta dessa falta de compromisso com a idoneidade da informação, fica fácil a propagação de ideias falsas, calúnias e intrigas, de modo a servirem a este ou aquele grupo ideológico.
Ultimamente, o Facebook tem sido usado como plataforma para vários desses grupos, e a força da mídia nesse sentido é tanta que alguns partidos já vêm até criando perfis para monitoramento e doutrinação online. E não apenas os partidos, mas também organizações que surgiram e cresceram dentro da própria mídia, e que se prestam a todas as tendências ideológicas.
Assim é que surgiu no Facebook um grupo sinistro, que defende a volta da ditadura militar como solução para o Brasil. Além da minha surpresa com o absurdo do argumento principal dessa tese, de que só assim o Brasil se ‘livraria dos comunistas’, tive o choque de constatar que muitos da minha rede de amigos apoiam essa iniciativa. Para começar, a contradição contida nesse apoio é óbvia: chega a ser ridículo alguém usar uma tribuna livre para pregar a favor de uma ditadura que tem como instrumentos de legitimação do poder a repressão violenta e a censura à informação.
Muitos dos que defendem a volta da ditadura o fazem por simples ignorância, por total desconhecimento do que seja viver sob um regime que restringe as liberdades básicas dos cidadãos. Outros, mais velhos, ou já se esqueceram ou não precisaram jamais exercer esses direitos, por pura mediocridade ou venalidade pessoal. Quem defende um golpe, seja lá de quem venha, deveria saber que esse tipo de iniciativa lhe renderia uma prisão imediata por subversão, caso estivesse vivendo sob a mesma ditadura que prega.
A ditadura militar foi um dos regimes mais brutais da história do Brasil. Matou e torturou milhares de inocentes, proibiu livros, filmes e peças de teatro, censurou jornais, prendeu e cassou professores, alunos e parlamentares, praticou o terrorismo, como no atentado fracassado a bomba no Riocentro, e o plano de explodir o Gasômetro, no Rio de Janeiro. A ditadura levou o país à ruína e o entregou de volta à sociedade civil em frangalhos, com uma inflação de dois dígitos caminhando para três, dívida externa colossal, uma indústria estatizada e administrativamente anacrônica, além de uma das maiores desigualdades sociais do planeta. Estamos até hoje sofrendo as consequências disso tudo.
Quem apoia um golpe militar no Brasil não merece a democracia.