A prometida festa dos horrores, que marcaria o Halloween desse ano, com caracterizações de trump para um lado e de Weinstein no outro, revelou-se na verdade uma chacoalhada nos ânimos para sairmos de vez da catarse do pesadelo americano. Se o ataque terrorista em Nova York, com oito vítimas fatais, foi a cereja do bolo, o vendaval que foi o indiciamento de assessores de Trump pelo conselho especial, que investiga atividades ilegais da campanha presidencial do atual mandatário, serviu como prenuncio da tempestade que está por vir.
Sim, a nova onda de denúncias acerca de assédio sexual em Hollywood continua ceifando reputações e a mais notória da rodada foi a que envolve o, até ontem, queridíssimo Kevin Spacey. Este, sem necessariamente querer se justificar pelo deslize, aproveitou o embalo para se declarar gay e piorou ainda mais sua situação. Não que uma coisa tenha a ver com a outra mas acrescentar o detalhe não solicitado em seu pedido de desculpas só ajuda a disseminação de estereótipos e a comunidade gay se revoltou com razão. Este foi o tópico das conversas nas festinhas animadas durante o fim de semana.
Na segunda, quem meteu o pé na porta e deu o tom do que seria esse Halloween, foi Robert Mueller. Sem nenhuma fanfarronice e amparado pela sobriedade que o atual cargo lhe confere, o de promotor especial, Mueller não perdeu tempo com acusações triviais e lascou logo a suspeita de traição sobre a primeira leva de indiciados no caso. O impacto foi tão forte que até os algozes do presidente, como Hillary, devem ter se benzido três vezes ao saber da notícia. Para se ter uma idéia da gravidade da acusação, a possibilidade, já aventada pela mídia, de Trump emitir um perdão presidencial a seus asseclas, foi descartada antes mesmo de ser sugerida. É mais fácil o presidente dos Estados Unidos perdoar Charles Manson ou até mesmo o próprio diabo, para que volte a ser anjo, do que perdoar alguém por traição.
Para complicar mais ainda a situação, a admissão de culpa por um dos indiciados, que sabiamente preferiu esta opção a possibilidade de encarar a cadeira elétrica, arrancou a máscara de Trump, a quem agora só resta tentar convencer alguém que o infeliz era “aquele-garoto-que-servia-cafézinho-pra-gente-durante-a-campanha”. Pela primeira vez desde o início do mandato, o Tweeter presidencial ficou manso e só produziu alguns disparos. Provavelmente a “marvada” daquela vodka, o elo com a Rússia que o acompanha desde a maternidade e que é consumida por ele em doses industriais antes de entrar nas redes sociais, não esteja mais fazendo efeito. Exatos 49% do eleitorado acreditam que ele cometeu crime e isto é significante. Fala-se de motim na linha de comando e, pela primeira vez começam a falar seriamente na aplicação da vigésima quinta emenda, a que afasta o presidente por motivos de saúde (nesse caso, mental), já que a maioria do Congresso republicano não consegue encontrar uma saída menos humilhante (para eles).
Para encerar as festividades com chave de ouro, o diabo, que não está nem aí para política, deu as caras nas ruas de Nova York e deixou uma certeza: Apesar de toda retórica, a América está mais vulnerável do que nunca. Acéfala, sem liderança, desunida, com um sistema de subvenção do Estado às políticas sociais em colapso e completamente exposta ao primeiro vândalo que ultrapassar o sinal, a qualquer momento, em qualquer esquina…