Morales disse que Bolívia não pode ‘subvencionar gás para o Brasil’
A Cúpula do Mercosul terminou nesta sexta-feira com poucos avanços em relação às “assimetrias”, diferenças entre as economias do bloco, e acabou expondo divergências ainda maiores entre os integrantes.
Na pauta oficial, os presidentes aprovaram os primeiros projetos do Fundo de Convergência para a Estrutura (Focem), que beneficiarão em especial o Paraguai e o Uruguai. O Brasil também anunciou o fim da cobrança dupla da TEC (Tarifa Externa Comum) de produtos do Paraguai e do Uruguai.
No entanto, questões mais polêmicas – como a situação do Uruguai e o ingresso da Bolívia – ficaram sem resposta, como ficou evidente nos discursos dos chefes de Estado na reunião de sexta-feira, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
A criação do Banco do Sul, uma instituição de fomento nos moldes do BNDES para todo o bloco, também foi alvo de divergências.
Na quinta-feira, primeiro dia do evento, a polêmica declaração do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de que pretendia “descontaminar o Mercosul do neoliberalismo” dominou a repercussão do encontro.
Nesta sexta, as atenções se voltaram para o presidente boliviano, Evo Morales, que, diante dos demais chefes de Estado, sustentou que o Brasil deveria pagar mais pelo gás do seu país, alegando que a Bolívia não pode “subvencionar o gás para o Brasil”.
Uruguai
A maior insatisfação foi expressa pelo Uruguai, que no passado já havia ameaçado deixar o bloco.
Agora, na véspera de assinar um acordo comercial com os Estados Unidos que poderia provocar a saída definitiva do país do Mercosul, o presidente Tabaré Vázquez fez duras críticas ao tratamento que recebe no bloco.
“O que o Uruguai reclama é por justiça no tratamento das assimetrias do Mercosul”, disse o uruguaio, que reclamou que o bloco, para o seu país, é deficitário.
“Que se cumpram as promessas e os compromissos adquiridos nesses anos (de formação do Mercosul). Se não, continuaremos escutando nas próximas cúpulas os mesmos discursos.”
Bolívia
O pedido de ingresso da Bolívia no Mercosul também contribuiu para mostrar as discordâncias dos países no tema das assimetrias. Diplomatas e presidentes não conseguiram chegar a um consenso sobre o pedido de regalias de La Paz na adoção da Tarifa Externa Comum.
No discurso da Cúpula, os presidentes de Argentina, Brasil, Paraguai e Venezuela defenderam o ingresso da Bolívia, mas silenciaram sobre o pedido.
A proposta do presidente venezuelano de criar um Banco do Sul – de fomento para a região – recebeu apoio explícito do argentino Nestor Kirchner.
“Dois projetos são fundamentais para a integração do Mercosul. A criação do Banco do Sul, que ainda tem o ceticismo de alguns, e o Gasoduto do Sul”, disse o argentino.
Antes da cúpula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia dito que o projeto poderia trazer dificuldades na hora de ser executado.
“Vamos formar uma comissão para discutir a idéia, com todos os ministros de Economia. Alguns defendem a idéia, mas outros ainda resistem. Vamos discutir”, pediu Chávez aos demais presidentes.
Durante a reunião, o Brasil defendeu algumas propostas para pôr fim às assimetrias. O governo brasileiro anunciou o fim da cobrança dupla da TEC de produtos do Paraguai e do Uruguai com componentes internacionais e defendeu concessões à Bolívia para ingresso no bloco.
“Nunca existiu um clima político tão favorável à integração”, disse Lula. “Estou plenamente convencido de que a convergência da CAN e do Mercosul será em benefício de todos.”
O presidente também confirmou que Brasil e Argentina vão abandonar o dólar nas transações comerciais entre os dois países.
Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reconheceu que o Mercosul precisa de “uma boa dose de autocrítica”, mas ressaltou que no Rio houve “uma discussão muito profunda sobre as frustrações que os países menores têm em relação ao Mercosul”.