Reportagem da revista Época expõe divergências entre conselheiros e pode provocar mudanças
Não repercutiu bem entre os membros titulares do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) a matéria publicada pela revista Época esta semana, que acusa a entidade representantiva das comunidades brasileiras pelo mundo de ter discutido apenas questões irrelevantes nos cerca de quatro meses de atuação. Segundo a reportagem, foram membros suplentes que tornaram públicos os e-mails passados entre o grupo e os jornalistas acabaram destacando no texto os pontos negativos das conversas.
“A revista prestou um desserviço ao país, pois não falou dos aspectos positivos e da atuação dos conselheiros, talvez porque isso não seja notícia para eles”, alfinetou o pastor Silair Almeida, integrante do CRBE pela América do Norte. Nesse sentido, ele lamenta que um trabalho que ainda está no seu início possa ser prejudicado antes mesmo de dar os frutos desejados o Conselho, com 16 titulares e 16 suplentes, tomou posse em dezembro, na 3ª Conferência Brasileiro no Mundo, no Rio de Janeiro.
Mas a reportagem, intitulada ‘Um conselho desaconselhável’, deve causar ainda mais estragos, pois expôs a crise no grupo. Os membros têm uma reunião agendada no Itamaraty entre os dias 2 e 6 de maio (semana que vem), inclusive com uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff, e não será surpresa se os conselheiros suplentes que divulgaram as mensagens para os jornalistas forem destituídos do cargo.”Houve falta de ética neste caso, mas a troca de farpas e o desrespeito entre alguns membros já vem de muito tempo”, admitiu Silair.
Polêmicas sobre passagens aéreas e cartões de visita
Na reportagem, os jornalistas Eliseu Barreira Junior e Letícia Fenili afirmam que os conselheiros eleitos para assessorar o Itamaraty em temas relevantes têm usado o tempo para debater questões irrelevantes para os três milhões de brasileiros que vivem no exterior. Um dos casos citados é o da discussão sobre o tipo de passagem aérea a que cada membro tem direito para ir às reuniões no Ministério das Relações Exteriores.
De acordo com o regimento, será disponibilizado apenas um tíquete de classe executiva por ano a cada conselheiro titular. Segundo a matéria, um dos suplentes sugeriu que o governo desse passagens nas classes econômicas para que todos os 32 integrantes do CRBE pudessem participar dos encontros. Outra discordância entre os membros foi em relação aos cartões de visita, pois ventilou-se que uma das conselheiras da América do Norte, Esther Sanchez-Naek, gostaria de incluir neles um versículo bíblico.
Para o presidente do Conselho, Carlos Shinoda, que vive no Japão, “as atividades desempenhadas pelos membros foram além do que está estabelecido no Decreto nº 7.214”. Silair concorda: “A matéria não falou que eu fui para Cuba para encontros com a comunidade local e cineastas brasileiros, ou que o Shinoda saiu do Japão para uma reunião em Barcelona. E tudo sem custar um tostão aos cofres públicos”, disse o pastor da Primeira Igreja Batista do Sul da Flórida. Ele acrescenta que outros membros têm trabalhado duro em prol da comunidade e cita também o representante do Suriname, João Paulo Ribeiro, que até conseguiu marcar uma audiência com o presidente daquele país. Estamos trabalhando, mas os resultados demoram a aparecer, resumiu.
Para o conselheiro suplente Rui Martins, de Berna (Suíça), a reportagem não está distante da verdade. Em um artigo, ele lamenta que o Conselho está destituído de qualquer possibilidade de decisões. Só resta mesmo aos membros do CRBE discutir cartões de visita, se viajam em classe econômica ou executiva e se os suplentes se equivalem ou não aos titulares, polemizou Martins, que defende a criação de outro órgão institucional, independente do Itamaraty, para cuidar dos interesses das comunidades brasileiras no Exterior.
CRBE é órgão consultivo do Itamaraty
O CRBE é composto de 32 brasileiros (16 titulares e 16 suplentes) que vivem no Exterior e sua criação atende ao programa de ações que o Ministério das Relações Exteriores desenvolve com o objetivo de aprimorar a assistência consular e o apoio aos emigrantes. Este é o primeiro conselho deste tipo no Brasil, mas outros países já têm esta representatividade. De acordo com o Embaixador Eduardo Gradilone, subsecretário-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, a principal função deste novo grupo é ajudar o governo a organizar melhor um sistema de prestação de contas às diversas reivindicações das comunidades espalhadas pelo mundo.
O grupo foi formado por meio de uma eleição democrática, sendo quatro representantes, com mandato de dois anos, para cada uma das quatro regiões do mundo estabelecidas pelo Itaramaty Américas do Sul e Central; América do Norte e Caribe; Europa; e Ásia, África, Oriente Médio e Oceania. Vale lembrar que os conselheiros não estão vinculados oficialmente ao Itamaraty e nem recebem salário. “Trata-se de um órgão consultivo e não executivo”, explica Silair.