Uma recente reportagem da revista “Veja” mostra que a crise vem fazendo o brasileiro rever seus hábitos de consumo e, em muitos casos, apertar o cinto, deixando de comprar ítens que estava acostumado a adquirir. As quantidades consumidas de itens básicos, como alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza, deram marcha à ré no ano passado e voltaram para os níveis de 2010, informa a revista. Em 2015, o volume desses itens comprados pelas famílias caiu 2% em relação ao ano anterior. Já o valor gasto ficou estável, o que significa uma queda real de cerca de 10%, considerada a inflação.
“Foi a primeira vez que efetivamente andamos para trás”, disse à “Veja” Christine Pereira, diretora da Kantar Wordpanel, empresa de pesquisa que visita semanalmente 11.000 lares brasileiros para tirar uma fotografia do que os 51 milhões de domicílios espalhados pelo país consomem, de fato, de uma cesta com 150 categorias de produtos.
Essa freada interrompeu uma sequência de crescimento de quantidades consumidas de bens não-duráveis que vinha praticamente desde 2008. Em valores, o gasto sempre crescia, ano a ano, na casa de dois dígitos, lembra Christine. “À medida que o brasileiro ganhava mais, ele gastava mais”, afirma a especialista, ressaltando que, em 2015, por causa da crise da economia nacional, esse quadro mudou.
Outro dado que confirma esse cenário ruim foi o desempenho de vendas dos supermercados em 2015, que caíram 1,9%, descontada a inflação. Foi a primeira retração em nove anos.
Para 2016, a tendência do consumo de itens básicos não deve ser diferente. Em janeiro, as vendas dos supermercados brasileiros recuaram 3,38% em comparação com o mesmo mês de 2015, já descontada a inflação do período, que foi de 1,27%, segundo o índice oficial (IPCA). “A queda de vendas de janeiro veio acima do esperado”, afirma o presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, que atribui o péssimo desempenho à alta de preços dos alimentos, que ficaram 2,28% mais caros em janeiro. Diante do cenário de aumento do desemprego e da inflação, Honda espera nova retração nas vendas este ano entre 1,5% e 2%.