Há dois anos, a administração Obama se referiu à onda de crianças desacompanhadas e famílias que tentavam entrar clandestinamente nos EUA como “crise humanitária”. Em 2016, o volume aumentou e patrulheiros prendem cada vez mais imigrantes hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos que solicitam asilo. Entretanto, devido ao atraso nos tribunais, há menos possibilidade de que eles sejam deportados.
“O obstáculo está no sistema judiciário da imigração, com 800 mil casos no momento”, disse o antigo comissário interino do Departamento de Alfândega e Proteção (CBP), David Aguilar. “Então, esse atraso, a incapacidade básica de mandar essa gente embora, removê-los de volta a seus países de origem, está atraindo mais dessas pessoas ao país”.
Conforme os últimos dados do CBP, os agentes detiveram 27.754 menores desacompanhados naturais da América Central nos seis primeiros meses do ano fiscal, quase o dobro dos 15.616 do ano passado e próximo ao recorde de 28.579 em 2014. O número de imigrantes viajando em famílias é ainda mais alto, com 32.117 detidos, quase o triplo do total de 13.913 e muito além da “enxurrada” de 19.830 em 2014. Somado, o êxodo da América Central representa a maior imigração em massa rumo aos EUA desde a navegação Mariel fora de Cuba em 1980.
“Essas pessoas recebem permissão para permanecer aqui. Elas recebem autorização de trabalho, portanto, enviam a mensagem para casa: ‘venham”, comentou Aguilar.
Existem vários fatores que influenciam o fluxo migratório, entretanto, especialistas migratórios destacaram alguns:
- Devido à falta de espaço nos centros de detenção, pode demorar 5 anos ou mais antes que um imigrante indocumentado que pede asilo tenha uma audiência com um juiz para que seu caso seja resolvido. Nesse meio termo, crianças e famílias são geralmente liberadas sob a custódia de um parente ou ONG, onde eles se integram ao país; poucos são deportados. Essa situação intermediária torna-se incentivo para que mais pessoas venham, apesar dos esforços da administração em desestimular os centro-americanos de tentar cruzar a fronteira.
- Violência, pobreza e o desgoverno em El Salvador, Honduras e Guatemala estão forçando as famílias a buscarem por uma vida melhor. Gangues de rua e cartéis de drogas geralmente focalizam em crianças, ou seja, aliciando os meninos ao narcotráfico e as meninas à prostituição.
- Os agentes dizem que muitos imigrantes detidos alegam que tentam “chegar antes das eleições”. Em outras palavras, eles querem entrar nos EUA o mais rápido possível em caso Donald Trump seja eleito presidente e construa uma cerca ao longo da fronteira mexicana ou Hillary Clinton seja eleita e consiga realizar uma reforma migratória ampla. Eles querem estar incluídos em qualquer mudança migratória. Os agentes demonstraram preocupação de que o sistema esteja tão sobrecarregado que os antecedentes de poucos imigrantes sejam verificados de forma devida, portanto, pondo a população em risco.
“Nós não sabemos quem estamos liberando e não sabemos do que eles são capazes”, disse Shawn Moran, agente da Patrulha da Fronteira na Califórnia e sindicalista. O colega de trabalho Art Del Cueto expressou opinião parecida: “Você não consegue descobrir se eles cometeram homicídio ou abusaram sexualmente de menores”.
O fluxo migratório não se restringe somente à fronteira com o México, pois, segundo o Departamento de Segurança Interna (DHS), quase 500 mil imigrantes que entraram legalmente nos EUA em 2015 permaneceram no país após o vencimento do visto. Ainda assim, o Departamento de Imigração (ICE) deportou menos de 3 mil estrangeiros, ou seja, menos de 1%.
“Mais de 40% das entradas ilegais, pessoas ilegais que permanecem nos Estados Unidos entram com o visto e simplesmente ficam”, disse Aguilar. “Então, a habilidade de localizá-los, identifica-los e coloca-los em processo de remoção e finalmente removê-los o mais rápido possível do país é fundamental”.
Os EUA não possuem métodos fáceis de rastrear aqueles que não respeitam o prazo dos vistos, apesar de uma lei e milhões de dólares liberados pelo Congresso para que isso aconteça.