Antonio Tozzi Esportes

Coronavírus, o craque maldito dos esportes

A temporada 2020 tem um novo e indesejado elemento: o coronavírus, disseminado em todo mundo a partir da epidemia surgida em Wuhan, na província de Hubei, na China.

Inicialmente aterrizou a China, depois outros países da Ásia, espraiou-se pela Europa, onde tem causado um verdadeiro caos, sobretudo na Itália, Espanha, França e Portugal. Agora, está em todo o planeta e chegou com força no continente americano. 

A consequência disso é a suspensão das modalidades esportivas a fim de evitar a propagação da Covid-19. Nos Estados Unidos, após a revelação de que alguns atletas haviam contraído o vírus, a NBA – principal liga do basquete mundial – decidiu suspender os jogos que deverão ser retomados apenas em junho – e sem a presença de público nos ginásios.

A atitude radical da NBA foi seguida pela NHL, liga de hóquei, e pela MLS, liga do futebol (soccer) americano. Na verdade, a medida deve ser aplaudida por ter em mente a preservação da saúde pública em detrimento do entretenimento.

Na Europa, a UEFA, entidade que administra o futebol europeu, decidiu suspender as competições que estão sob sua tutela. Assim, Champions League e Europa League foram paralisadas e ainda não têm datas definidas para retornar. Decidiu-se ainda pelo adiamento da Copa Europeia de Nações para 2021, programada para este ano. A fim de conter a disseminação da doença, as mais importantes ligas europeias suspenderam seus campeonatos. Assim, os amantes do futebol não podem momentaneamente assistir às exibições dos craques que desfilam suas habilidades na Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, França, Portugal e outras ligas do continente.

América do Sul e Brasil também interrompem competições

Na América do Sul, a Conmebol decidiu seguir o que foi decidido na Europa. Assim, a entidade responsável pela organização dos torneios do subcontinente americano determinou a suspensão temporária da Copa Libertadores da América e da Copa Sul-Americana. Decretou ainda a transferência da Copa América das Nações deste ano para 2021, e adiou o início das Eliminatórias para a Copa do Mundo Qatar-2022, que deveria ter início neste mês de março com dois jogos válidos pela primeira rodada. 

Após alguma relutância, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) determinou a interrupção de todas competições organizadas por ela. Desta forma, estão suspensos todos campeonatos de futebol masculino e feminino em todas divisões e categorias. Assim como da Copa do Brasil, que está na Terceira Fase, e da Copa do Nordeste que estão suspensas por tempo indeterminado.

A determinação da CBF foi acompanhada pelas principais federações estaduais. Portanto, não há jogos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além dos campeonatos organizados pelas demais federações de futebol do Brasil.

Outros esportes e indecisão para Olimpíada

Assim como foi feito em outros países, o esporte brasileiro paralisou suas atividades. Esta decisão pode comprometer o calendário para obtenção de índice olímpico que permitiria a participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio este ano.

Até mesmo a temporada de Fórmula 1 foi atingida. Depois da suspensão do Grande Prêmio da Austrália, os GPs do Vietnã, China e Mônaco estão ameaçados de não ser realizados. Aliás, por ser um esporte essencialmente europeu, tenho dúvida se haverá realização de corridas na temporada 2020 da F1. De qualquer forma, os organizadores confirmaram o Grande Prêmio do Uzbequistão, em Baku, como aquele que deverá abrir a temporada 2020 da F1.

Os principais torneios de tênis também estão ameaçados. Dois dos principais torneios dos circuitos ATP e WTA – Indian Wells, na Califórnia, e Miami – não foram disputados e até mesmo os três torneios de Grand Slam que ainda restam (Roland Garros, em Paris; Wimbledon, em Londres, e US Open, em New York) podem ser cancelados ou adiados.

Consequências nefastas

As consequências nefastas dessa pandemia atingem diversos setores. No âmbito esportivo, um possível cancelamento ou adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio causará decepção em diversos atletas, uma vez que a programação deles em algumas modalidades, sobretudo as individuais (ginástica, natação, atletismo etc.), prevê o ápice no momento em que será disputada a Olimpíada. A alteração do cronograma poderá ser fatal para alguns atletas e para a quebra dos recordes.

No âmbito econômico, o adiamento dos Jogos Olímpicos poderá causar um enorme prejuízo para Tóquio e para o Japão, que ainda tenta se recuperar dos estragos provocados pelo tufão Hagibis, que deixou um rastro de destruição e morte no país em outubro de 2019. As projeções dos organizadores e do governo japonês apontavam a presença de cerca de 40 milhões de turistas para assistir aos Jogos Olímpicos de Verão. Diante desse nível de incerteza, está claro que esses números dificilmente serão atingidos. 

O Comitê Olímpico Interrnacional (COI) está em contato frequente com o Comitê Olímpico Japonês para se chegar à um acordo. Chegou-se até a cogitar a disputa das competições sem a presença de pública, opção rechaçada pelo COI. 

Diante disso, surgem três possibilidades: 

• Em vez de disputar os Jogos Olímpicos entre julho e agosto (verão no Hemisfério Norte), seriam disputados entre outubro e novembro (outono no Hemisfério Norte). Isto, com certeza, alteraria as programações das delegações estrangeiras, além de ser em uma temporada propícia aos tufões. Além disto, os Jogos Paralímpicos (disputados por pessoas com deficiência física) teriam de ser disputados no final do ano (inverno no Hemisfério Norte), portanto, muito frio para algumas modalidades que participam de esportes ao ar livre.

• Manter a data atual. Isto, porém, terá desfalque de vários atletas que já declararam não ter intenção de viajar neste período de incerteza. A ausência das principais estrelas diminuiria o interesse do público e da imprensa, além de comprometer a seleção de equipes e atletas que ainda buscam índice olímpico para participar do evento. Para piorar, os Comitês Olímpicos da França, Itália e Espanha já pediram o adiamento dos Jogos Olímpicos.

• Transferência do evento para 2021 ou 2022, quando esta crise de saúde já tiver sido dissipada. Claro que isto prejudicaria alguns atletas, no entanto, me parece alternativa mais sensata. Espera-se que no próximo ano este pesadelo já se tenha dissipado e tudo voltado ao normal. Logicamente, quem já adquiriu ingressos teria seus direitos preservados ou, então, pediria ressarcimento junto aos organizadores. Algo similar ao que vem sendo feito pelas companhias aéreas.

A paralisação das atividades esportivas profissionais também tem deixado órfãos pessoal do staff dos clubes que vivem em função dos atletas. Alguns jogadores de basquete da NBA, como Kevin Love, estão doando dinheiro para ajudar o pessoal que trabalha no ginásio do Cleveland Cavaliers a diminuir as agruras destes funcionários. Alguns clubes também estão seguindo este exemplo.

Por fim, há o âmbito de saúde. Todos devem estar preparados para cumprir as determinações das autoridades sanitárias a fim de se proteger e também proteger as pessoas que vivem à sua volta. A ordem é circular pouco e evitar aglomerações, além de cuidar da higiene, lavando as mãos e usando álcool gel para impedir a disseminação do Covid-19.

Como amante do esporte de modo geral, só me resta torcer para que esse caos passe logo e possamos voltar a vibrar com quebras de recordes na natação e no atletismo, com determinação e graciosidade dos ginastas, com cestas magníficas no basquete, com cortadas certeiras no vôlei, com dribles e gols fantásticos no futebol e, sobretudo, com um ippon e/ou nocaute dos lutadores sobre este vilão invisível.

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