Talvez não haja nenhum estereótipo mais conhecido dos universitários do que a indecisão na escolha de uma disciplina. Claro, esta indecisão é natural. Os calouros, assim como os alunos que já estão na universidade há alguns períodos letivos, muitas vezes veem a disciplina de estudo como destino. Com tudo o que eles têm para enfrentar no início da faculdade, a ideia de escolher um caminho permanente parece assustadora demais.
Nesse sentido, há a tendência de passar meses antes de se matricular fazendo cálculos para declarar uma disciplina. Muitos seguem as projeções de demanda para uma profissão, outros seguem os conselhos dos seus pais, e claro, tem gente que sabe que quer ser advogado ou médico desde os cinco anos de idade. Porém, são ainda mais comuns os alunos que não têm nenhuma ideia do que querem estudar. Muitos escolhem uma concentração temporária até terem uma ideia melhor do que querem fazer depois das aulas básicas. Finalmente, tem as pessoas que entram na faculdade sem medo de declarar-se “exploratory”.
A designação de exploratory (“undeclared” em outras universidades) tem um estigma estranho hoje em dia. Havia uma época na qual os alunos aqui na UF não podiam declarar a sua carreira antes de dois anos de estudos. Nos últimos anos, a tendência é uma aceleração da experiência de educação. Agora, muitos alunos chegam ao ensino superior com créditos universitários acumulados durante o ensino médio. Por isso, este período inicial de exploração de interesses está desaparecendo mais e mais a cada ano. Então, a opção exploratory ameniza essa pressão.
É possível que o estigma venha do medo da concorrência constante na vida acadêmica. Para ter as melhores oportunidades, os alunos devem ter a melhor preparação, e cada semestre de indecisão parece um semestre perdido. Eu mesmo tive este medo quando cheguei à universidade. Claro, estive nesta categoria de pessoas que pensavam em seguir advocacia e queria passar os meus anos na faculdade me dedicando a uma disciplina que eu gostasse, mas não necessariamente vinculada ao direito. Comecei como aluno de economia, mas tive uma longa trajetória para chegar onde estou.
Na escola, cursei aulas preparatórias para a disciplina de Economia. Queria aprender espanhol e português, mas não tive esta oportunidade até estudar na UF. A minha confiança no caminho escolhido começou a desaparecer após meros dois meses de aulas. Eu tive dúvidas sobre a Faculdade de Direito, e não queria seguir uma carreira de economista. Migrei para a Faculdade de Negócios e me tornei aluno de Finança. A decisão foi cara, porque com todos os novos requisitos para Negócios não deu para fazer aulas em português e espanhol. Por isso, tive um ano de hiatus do programa de Português, mas espero que fique claro para o leitor que esta situação já foi retificada. Sobretudo, esta mudança de curso veio durante um momento crítico na minha vida. Devido a um acidente enquanto seguia a sua rota de bicicleta, a minha mãe faleceu no final do meu primeiro semestre. Com esta tragédia pessoal, a carga de reajustar a uma cultura profissional completamente diferente da Faculdade de Negócios e ao estranho mundo do “networking” desta área foi insuportável. No fim, eu voltei para a Economia e, desde então, estou feliz com a escolha. Demorei três semestres para chegar a esta altura, e só agora posso dizer com certeza que a minha decisão de não seguir a carreira de advogado foi a decisão certa para mim.
Compartilho a minha história pessoal para apoiar os alunos que tenham que lidar com a pressão de escolher um caminho profissional que pareça permanente, especialmente no contexto de uma tragédia familiar e/ou de uma pandemia global. Além disso, a experiência de estar fora da cidade natal e longe dos pais é muito estressante. Os alunos de primeiro e segundo ano não precisam questionar todas as suas escolhas por não estarem prontos para declarar uma disciplina. Por isso, a categoria de “exploratory” é indispensável.
Aqui vão alguns conselhos para alunos do primeiro ano ou do ensino médio. A primeira dica é fazer um levantamento de profissões vinculadas a cada curso, mas é bom lembrar que há opções além dos caminhos mais óbvios. Ou seja, tem trabalhos que não têm requisitos acadêmicos e reconhecem capacidades colaborativas valorizadas em diversas áreas. Cuidado, pois é possível pesquisar demais e se estressar; mas no início tal ato pode ajudar. Se você estiver planejando a sua experiência na faculdade antes de chegar, é melhor pensar nestas capacidades e como você pode desenvolvê-las sem as limitações da sua disciplina. A segunda dica é encontrar experiências fora da aula. Hoje em dia, há muitas organizações estudantis. Nestas organizações, você pode encontrar experiências que o/a ajudem a explorar seus interesses. Até se você estudar algo sem relação óbvia à organização, participar nestes clubes pode abrir outras portas. Muitas organizações estudantis têm programas de “mentor e pupilo”. Então, você pode se conectar com um aluno veterano para receber conselhos. A terceira dica, por fim, é pensar com calma que tipo de pós-graduação você quer fazer (se planeja fazer pós, é claro). A sua vida vai ser mais influenciada pelo programa de pós-graduação que pela sua área de concentração durante a graduação. Há programas de pós que têm requisitos fixos e outros que são mais flexíveis. É sempre bom consultar os professores e os orientadores acadêmicos para saber sobre a sua área de interesse.
Em suma, é melhor ver a carreira de graduação como uma jornada do que uma missão predeterminada. Um pouco de indecisão é saudável, e na minha opinião é bom ter cuidado e considerar a opção de “exploratory” em vez de sucumbir a pressão de ter tudo na vida coreografado. Espero que esta coluna e minha história possam amenizar a ansiedade dos alunos que buscam ingressar o ensino superior.
Texto produzido por Eric Marsh (University of Florida) –, com supervisão da Professora Andréa Ferreira e redação do AcheiUSA.