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Conexão-UF | A origem da covid-19 e o nosso relacionamento com o meio ambiente

A verdade é que os humanos são os culpados

A covid-19 não é a primeira doença zoonótica que causa problemas para as pessoas (foto: divulgação)
A covid-19 não é a primeira doença zoonótica que causa problemas para as pessoas (foto: divulgação)

Texto produzido por Roberto Ferrer (University of Florida) –, com supervisão da Professora Andréa Ferreira

Qual é a origem da covid-19? Segundo o Centers for Disease Control and Prevention  (CDC), o coronavírus provavelmente foi transmitido pela primeira vez em um mercado de plantas e animais em Wuhan, China. Não sabemos que animal transmitiu o vírus, mas cientistas pensam que pode ser um morcego ou um pangolim (um tamanduá escamoso em extinção). Foi a natureza que trouxe o vírus, mas não é sua culpa. A verdade é que os humanos são os culpados.

A COVID-19 não é a primeira doença zoonótica que causa problemas para as pessoas. Doenças zoonóticas têm atormentado o mundo desde o estabelecimento das grandes cidades. Milhões de pessoas morreram, mesmo assim estas doenças continuam a se espalhar. Os vírus são uma parte importante de um ecossistema equilibrado. Porém, o ecossistema se desequilibra com a introdução de seres humanos. Com o propósito de sustentar populações crescentes, os recursos naturais são extraídos e comercializados. Depois de usar esses recursos, o que realmente facilita a transmissão das doenças é a forma anti-higiênica em que esses animais vivos e mortos são mantidos e vendidos.

Para dar um exemplo recente, cientistas pensam que foram as condições anti-higiênicas no mercado em Wuhan que permitiu a transmissão da COVID-19. A mesma coisa aconteceu com o surto de SARS em 2003 (que também originou na China), o surto de gripe suína em 2009, e o surto de Ebola em 2013. O surgimento desses vírus não foi muito surpreendente para cientistas ambientais. A gente apenas tem que dar uma olhada na história das doenças zoonóticas para saber que algum tipo de vírus acontece a cada par de anos.

Claro, a devastação causada pela COVID-19 certamente não era previsível. Algumas razões pelas quais este vírus está causando mais dano podem ser reduzidas ao aumento da globalização no planeta, respostas governamentais inadequadas, e as percepções negativas das pessoas sobre a mídia. 

Será que o meio ambiente está se recuperando durante a pandemia? 

 Pela primeira vez em muito tempo, nós sentimos que a vida parou. Bilhões de pessoas foram instruídas a ficar dentro de casa, bastantes negócios tiveram que fechar suas portas, e as ruas estavam basicamente vazias. Alguns cientistas se referem a este momento como “antropausa”. Vale a pena mencionar como todo esse tempo dentro de casa levou as pessoas a se sentirem deprimidas. Talvez até você seja uma dessas pessoas. Talvez você também seja uma das pessoas que acreditava que o meio ambiente estava se recuperando porque todo mundo estava dentro de casa. Infelizmente, não é bem assim.

A pandemia arruinou os planos de muita gente. Isso fez com que nós pensássemos no que poderia ter sido. Segundo a psicóloga social Erin Vogel, muitas pessoas queriam acreditar que algo bom poderia vir dessa tragédia. Então, quando fotos de animais retornando a lugares onde eles eram abundantes surgiram nas redes sociais, todos acreditaram nisso. Para muitos, era importante acreditar em algo. Eu me lembro de ter ficado muito feliz quando vi que alguns golfinhos haviam retornado aos canais de Veneza, Itália. Também, me lembro de ter conversas com meus amigos sobre esse assunto e de sentir como o sofrimento humano foi por um propósito maior.

A verdade é que essa foto dos golfinhos não foi tirada em Veneza, foi tirada em Sardenha. A Sardenha, onde há uma concentração maior de golfinhos, fica a centenas de quilômetros de distância. No entanto, várias pessoas têm suas próprias histórias de ter visto ou ouvido mais animais durante a ‘antropausa’. Eu mesmo vi uma raposa num lugar que nunca tinha visto antes. Cientistas pensam que as populações desses animais não mudaram muito.

Segundo o ecologista John Laundre, os animais vivem em uma “paisagem de medo”. Ou seja, os animais naturalmente têm medo de qualquer coisa que possa comê-los. Já que o ser humano pode comer praticamente qualquer animal, e os animais têm medo de nós e tendem a se aproximar apenas à noite. Durante a antropausa, os animais provavelmente se sentiram mais corajosos e saíram mais cedo. É por isso que as pessoas viram mais animais.

Outra possibilidade é que as pessoas estivessem prestando mais atenção ao meio ambiente já que estar fora era mais divertido do que ficar dentro de casa. Se você está procurando algo, você vai encontrar. É como comprar um carro e ver aquele modelo em todos os lugares. Também, as pessoas descreveram ter ouvido mais pássaros em cidades grandes. O ornitólogo Gustavo Bravo da Universidade de Harvard pensa que isso provavelmente teve a ver com a diminuição do ruído de tráfego.

Segundo uma pesquisa sobre ruídos na cidade de Nova Iorque, o ruído de tráfego diminuiu de forma significativa durante o início da pandemia. Mas, não devemos pensar assim. O meio ambiente, e nós mesmos, ainda estamos em perigo.

De acordo com várias pesquisas, muitos dos problemas ambientais aumentaram durante a pandemia. Por exemplo, o desmatamento aumentou de forma significativa em regiões como África, Ásia, e América Latina. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento aumentou 55% no Brasil entre os meses de janeiro e abril em comparação ao ano passado.

A caça furtiva também aumentou. A escassez de fiscais ambientais é uma das razões para o aumento desses crimes contra a natureza.

Como a COVID-19 nos mudou?

Durante a antropausa, sair para andar ao ar livre tornou-se nossa única alternativa segura a ficar em casa. Isso é interessante porque até a chegada da pandemia, muitas pessoas ficavam trancadas dentro de casas e edifícios. Campanhas para garantir que as crianças permanecessem fisicamente ativas e em contanto com o ar livre tornaram-se populares. Muita gente passa menos tempo fora de casa, em parte, devido aos avanços em tecnologia (videogames, redes sociais, televisões, etc.).

Segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan, sair de casa, mesmo no frio, melhora a memória e a atenção. Além disso, muitos outros benefícios existem associados a estar em contato com o meio ambiente. Por causa da pandemia, a divisão entre natureza e estar dentro de casa ficou turva. Isso é importante porque antes da pandemia, a divisão era rígida demais. Nós não achávamos que a calçada era “natureza”, mas agora entendemos um pouco mais que a natureza está por toda parte.

Será interessante ver quanto tempo essas atitudes vão durar. Será que os seres humanos finalmente vão enxergar o meio ambiente como um recurso que deve ser ativamente protegido? 

A pandemia ressalto como alguns lugares pobres ou dentro de cidades grandes sofrem de uma terrível falta de espaços verdes. Às vezes, esta falta de espaços verdes está vinculada a disparidades sociais e raciais. Se estar dentro da natureza ajuda a saúde, é provável que a falta dela tenha o efeito oposto.

Uma coisa que notei durante a pandemia foi como, quando os americanos estavam ficando loucos e não havia papel higiênico ou produtos de limpeza em lugar nenhum, a natureza não mudou muito. Os pássaros ainda cantavam, as abelhas ainda zumbiam e as folhas das árvores ainda estavam verdes. O meio ambiente ofereceu uma sensação de normalidade. 

Como os residentes da Flórida podem se conectar com a natureza?

Durante o começo da antropausa, existia uma polêmica na Flórida em relação ao fechamento de parques estaduais. Os residentes da Flórida ficaram irritados com a decisão de retirar os únicos lugares públicos seguros. Depois de algumas semanas o governador removeu as restrições e as pessoas puderam visitar os parques estaduais de novo. A experiência de visitar esses lugares também ajudou os moradores a valorizar mais sua natureza. Eu pessoalmente passei muito tempo na natureza e em parques estaduais neste verão. Se você mora na Flórida, vá conhecer esses parques. Aqui está uma lista dos parques de cada região da Flórida. A maioria deles oferece várias oportunidades para se divertir, excelentes lugares para acampar e belas paisagens:

·       Centro norte da Flórida (Ocala): Silver Springs State Park

·       Sudoeste da Flórida (Sarasota): Myakka River State Park

·       Sudeste da Flórida (Jupiter): Jonathan Dickinson State Park

·       Florida Keys (Big Pine/Key Largo): Bahia Honda State Park/John Pennekamp

·       Panhandle (Marianna): Florida Caverns State Park

·       Nordeste da Flórida (St. Augustine): Anastasia State Park

·       Centro sul da Flórida (Lake Wales): Lake Kissimmee State Park

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