Alertados pelo presidente Trump de que o Immigration and Customs Enforcement (ICE) começaria neste domingo (14) uma operação em dez cidades americanas para prender cerca de 2 mil famílias com ordem de deportação, os imigrantes em situação irregular no país prepararam-se da melhor forma possível par receber uma eventual visita da polícia imigratória.
Mas, de acordo com instituições de apoio a imigrantes, a promessa do presidente não se cumpriu. Enquanto passavam as horas neste domingo, advogados de imigração e instituições de defesa a imigrantes não detectaram nenhuma atividade do ICE diferente da rotina normal. Trump disse que as batidas visariam apenas os imigrantes condenados por algum crime, ou os que tinham ordem de deportação emitida, informou o jornal USA Today.
Camila Alvarez, advogada para o Central American Resource Center, de Los Angeles (CA), disse ao jornal que “ficou claro que se trata de um instrumento político para espalhar o medo entre a comunidade imigrante”.
Na igreja de St. Lucy, em Newark (NJ), cidade com grande concentração de imigrantes brasileiros, mais de 50 pessoas ouviram uma palestra sobre como proceder caso os agentes do ICE batam na porta de casa. Carlos Garay, morador da cidade, disse ao USA Today que diariamente pensa duas vezes antes de sair de casa para trabalhar. Ele contou ao jornal que já instruiu sua cunhada americana sobre como cuidar dos filhos dele, nascidos nos EUA, caso ele seja detido e deportado pela imigração. “A gente fica muito apreensivo, porque as crianças estão crescendo”, disse Carlos ao USA Today, ressaltando que não possui nenhuma ordem de deportação emitida contra ele.
Em Baltimore, o reverendo Bill Gohl Jr., bispo luterano do Sínodo Delaware-Maryland, ficou atento à movimentação do lado de fora da igreja do Sagrado Coração de Jesus, no bairro de Highlandtown, uma área com grande concentração de imigrantes latinos. Era a terceira igreja que ele visitava no domingo, como parte do seu trabalho ligado a uma rede ecumênica de líderes espirituais que monitoram a atividade do ICE. “Estamos vigilantes para que as pessoas possam ir aos cultos sem medo”, disse o religioso ao jornal.
Por todo o País, telefones das entidades de apoio aos imigrantes receberam ligações de pessoas ansiosas, buscando informações. “E muitas mensagens de ódio também, a maioria vociferando retóricas anti-imigrante”, disse à reportagem do USA Today Hamid Yazdan Panah, diretor regional do Northern California Rapid Response & Immigrant Defense Network, entidade local de proteção a imigrantes. A rede detectou um ligeiro aumento na atividade do ICE no norte da Califórnia desde o domingo passado, disse Panah.
Os partidários do presidente concordam com a decisão de remover do País os que entraram ou permanceram ilegalmente aqui, argumentando que milhões de pessoas tornaram-se cidadãos seguindo a lei, em vez de atravessar ilegalmente a fronteira. Já os defensores dos imigrantes dizem que o sistema está totalmente quebrado e incapaz de proteger pessoas que buscam escapar da violência que grassa em seus países de origem.
Autoridades do ICE permaneceram em silêncio sobre os planos para o domingo. Ken Cuccinelli, diretor em exercício do U.S. Citizenship and Immigration Services (USCIS), não respondeu se as batidas haviam ou não começado durante uma entrevista que concedeu à CNN no domingo: “Não posso falar sobre operações específicas e não vou”, disse o diretor.
O governo Trump argumenta que as leis imigratórias dos EUA há muito tempo vêm sendo ignoradas e que é preciso reforçar a vigilância, porque os Democratas não aprovaram uma reforma imigratória abrangente. Críticos da política governamental dizem que a postura linha-dura do presidente visa agradar à base conservadora que forma o núcleo de apoio ao presidente. Chamam as batidas de arbitrárias e desumanas, e lembram o histórico dos EUA como uma nação acolhedora de refugiados e imigrantes.
A American Civil Liberties Union (ACLU) entrou com uma ação na Justiça para barrar as batidas e deportações, sob o argumento de que muitas das pessoas procuradas não sabem sequer que têm uma ordem de deportação (final order of removal) contra elas, porque as autoridades federais não fizeram um bom trabalho na comunicação das datas de comparecimento à corte.
“Esses refugiados não compareceram à corte por causa de imensos erros burocráticos e, em alguns casos, por receberem instruções deliberadamente contraditórias das agências imigratórias”, diz a ação impetrada pela ACLU na quinta-feira (11). “O erro flagrante das agências tornou impossível para as pessoas saberem quando seriam suas audiências [em corte].”