O México triplicou as detenções de imigrantes de outros países. Com as detenções na fronteira dos EUA caindo para o menor nível em quatro anos, todos estão buscando o crédito.
Os democratas destacam as políticas de asilo mais duras do presidente Joe Biden. Os republicanos apontam para as barreiras de arame farpado do governador Greg Abbott na fronteira com o Texas.
Mas uma das principais razões para a queda pode ser vista a 800 milhas ao sul da fronteira na cidade sonolenta e sombreada por palmeiras de Villa Hermosa, mais perto da Guatemala do que dos Estados Unidos. Aqui, ônibus brancos elegantes do governo chegam, um após o outro, para despejar grupos de imigrantes desorientados.
Os estrangeiros foram parados em postos de controle de rodovias ou retirados de ônibus e trens, presos em uma enorme rede de detenção montada pelo México sob pressão dos EUA. Mas, o governo não pode se dar ao luxo de deportá-los. Então, por isso os envia de volta para o sul do México – onde muitos simplesmente dão meia-volta e seguem para o norte novamente.
As autoridades chamam esse processo de “El Carrusel”. O carrossel.
A tática não é totalmente nova, mas, está sendo empregada de forma mais agressiva do que nunca. Desde o início deste ano, o governo mexicano transportou cerca de 10 mil imigrantes por mês para o sul, quase o dobro do número do ano passado, de acordo com dados oficiais obtidos pela ativista imigrante Gretchen Kuhner. Milhares de imigrantes capturados são carregados em aviões ou microônibus para a viagem.
Altos funcionários dos EUA e defensores dos migrantes dizem que a operação é um fator importante na queda impressionante nas apreensões na fronteira dos EUA, uma redução de 77% desde dezembro.
Não está claro, porém, se os resultados são sustentáveis. O número de imigrantes acampados nas cidades mexicanas está aumentando. E defensores e trabalhadores humanitários se preocupam com o custo humano.
“Eu chamo isso de política de desgastar as pessoas”, disse Eunice Rendón, chefe do grupo de defesa sem fins lucrativos Agenda Migrante.
Biden também está tomando medidas para controlar a imigração
Andrew Selee, presidente do apartidário Instituto de Política de Migração em Washington, tem observado as detenções caírem na fronteira dos EUA. “Continuo dizendo que não é sustentável”, disse ele. “E assim mesmo eles o sustentam.”
Isso não se deve apenas ao carrossel mexicano. O governo Biden tem aumentado constantemente as penalidades para os requerentes de asilo que chegam ilegalmente. As autoridades do Texas reivindicam o crédito pela Operação Lone Star – um programa de três anos que fortificou a fronteira com arame farpado, Guarda Nacional e polícia. Analistas, no entanto, observam que outros estados registraram quedas semelhantes nas travessias de fronteira sem tais medidas.
Alguns imigrantes podem ter adiado suas viagens por causa do esfriamento do mercado de trabalho dos EUA ou do esforço do Panamá para reduzir o tráfego através do Darién Gap.
“Tudo isso está acontecendo ao mesmo tempo”, disse Selee. “Pode ter criado fatores de reforço suficientes para manter os números baixos por um tempo.”
O governo mexicano espera que a combinação das políticas dos EUA e sua própria aplicação transforme a dinâmica na fronteira dos EUA. Cerca de 75 mil imigrantes por mês estão entrando nos Estados Unidos por meio de canais legais – muitos usando um aplicativo chamado CBP One para agendar consultas para entrevistas de asilo.
Washington recentemente disponibilizou o aplicativo nos estados do sul do México que fazem fronteira com a Guatemala, além daqueles nas partes central e norte do país. O México prometeu começar a transportar aqueles no sul que têm compromissos para a fronteira dos EUA. “Acreditamos que garantir a imigração segura faz parte do nosso trabalho”, disse a ministra das Relações Exteriores, Alicia Bárcena.
Mas apenas cerca de 1,450 agendamentos estão disponíveis todos os dias por meio do CBP One, muito menos do que o número procurado pelos imigrantes. Muitas pessoas lutam por semanas para conseguir um encontro por meio do aplicativo – e quando o fazem, geralmente são vários meses no futuro, deixando-as esperando no México.
Outros fatores podem frustrar os esforços para manter as chegadas na fronteira de baixo. Os contrabandistas normalmente encontram maneiras de contornar as medidas de fiscalização. Uma nova onda de venezuelanos pode chegar aos Estados Unidos após a eleição presidencial de julho, que foi amplamente denunciada como fraudulenta.
