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Como morar no Nordeste mudou minha percepção do país e da região

Megan com sua família brasileira
Megan com sua família brasileira

Aos dezesseis anos, sentada no auditório da minha escola, ouvi uma apresentação sobre o Intercâmbio de Jovens do Rotary. Para leitores que não conhecem esse programa, oferece aos alunos de ensino médio a oportunidade de morar em um país estrangeiro por um ano letivo. Ao ouvir a palestra, uma parte de mim que sempre gostou de aventura ficou super interessada. No entanto, havia outra parte que pensou que intercâmbio era um sonho inalcançável já que eu nunca tinha viajado longe de casa por mais de duas semanas e, mesmo assim, sempre fui acompanhada de alguém conhecido. O intercâmbio seria a primeira vez na minha vida que embarcaria em uma jornada sozinha a um país cuja língua e costumes eu pouco conhecia. 

Muitas pessoas me desencorajaram de ir, citando todas as experiências que não teria, como minha formatura, já que eu era aluna de último ano. Porém, eu só conseguia enxergar as oportunidades vinculadas ao intercâmbio. 

 Por essa razão, decidi ser uma intercambista do Rotary e fui escolhida para ir para João Pessoa, Brasil. Nos meses antes da minha viagem, recebi orientações para me ajudar a adaptar à cultura brasileira e me preparar para o choque cultural.  

Mesmo assim, ainda me lembro de como fiquei apreensiva quando meu avião chegou ao portão no aeroporto Presidente Castro Pinto. Assim que saí do avião, eu senti o Brasil pela primeira vez. Eu senti novos cheiros, vi novas imagens e ouvi novos sons que agora são parte de quem eu sou. Eu não sabia, porém naquele momento, mas estava prestes a conhecer pessoas que iam virar família, e que mudariam minha percepção do Brasil e de mim mesma.

Quando eu cheguei, senti muito estranhamento, pois naquela época ainda pensava que o jeito estadunidense era melhor. Achei estranho tomar banho três vezes por dia, comer pizza com garfo e faca, se arrumar para passear, colocar papel higiênico no lixo, voltar para casa para almoçar, entre tantas outras coisas. Eu me senti um peixe fora d’água. Ao longo do ano tentei viver segundo dois princípios: “quando em Roma faça como os romanos” e “não tá certo nem errado, só é diferente”. Essas duas frases me encorajaram a lidar com o choque cultural. 

Megan Radney

Visitar um outro país e ter contacto com uma cultura que não é sua nunca é fácil. Mas com o tempo me acostumei com essa nova maneira de viver. De fato, me acostumei tanto que quando encontrei com alguns americanos que tinham viajado para o carnaval percebi que minha identidade tinha mudado. Apesar de ter nascido e crescido nos Estados Unidos, eu não era mais apenas uma americana. Sem perceber, eu me assumi como nordestina. Os costumes que antes eram estranhos para mim, passaram a ser normais. Era difícil imaginar como voltaria a viver à maneira norte-americana.  

Hoje em dia sou muito grata por ter sido escolhida para ir ao Brasil. Mas quando eu soube pela a primeira vez que este seria meu país anfitrião, admito que eu fiquei nervosa. Na época, o Brasil estava em todos os canais de televisão porque o Rio de Janeiro ia sediar as Olimpíadas. A falta de desenvolvimento, a violência e a pobreza do país, assim como o vírus Zika, eram notícia. Eu comprei a ideia do Brasil ser um país de futebol, praias, café e biquínis fio dentais. Através da minha vivência no Nordeste e das várias viagens pelo país, descobri que o Brasil tem muito mais a oferecer. E que, entre brasileiros, há muitos conceitos equivocados sobre a região nordestina, de capacidade intelectual à renda mensal.

Foi por causa da minha família brasileira que eu aprendi a apreciar o Nordeste e o nordestino por suas qualidades. Apesar de eu ser estrangeira, esta nova família me recebeu de braços abertos. Como foram carinhosos e acolhedores! Eu me lembro de um dia em particular, quando eu voltava da escola para casa e a chuva repentina me deu saudades da Flórida. Sentir a chuva me fez sentir como se eu estivesse em casa. Minha mãe brasileira respondeu “mas você está em casa”. Este foi um dos vários momentos de acolhimento e amor que senti no Brasil. Foi na nossa convivência que me inteirei da riqueza da cultura nordestina e como os preconceitos que eu tinha sobre o Brasil e o Nordeste eram falsos.

Desenvolvi um carinho enorme pelo Nordeste, seu calor humano, seu jeito musical de falar. Ainda sinto saudades da brisa constante de João Pessoa, dos abraços fortes, do seu ritmo relaxado de viver. Hoje em dia vivo na Flórida, mas ainda faço uso das lições que aprendi no Brasil pois fazem parte da minha nova identidade. 

Embora eu não tenha passado meu último ano de ensino médio na Flórida, meu intercâmbio me ensinou coisas que não teria aprendido numa sala de aula. Aprendi a confiar na minha força interior e a celebrar a vida. Hoje sou uma pessoa mais aberta, carinhosa e independente. Deixei uma parte do meu coração no Brasil, mas como a antropóloga Miriam Adeney disse uma vez: “Esse é o preço que você paga pela riqueza de amar e conhecer pessoas em mais de um lugar.”

Texto produzido por Megan Radney, com supervisão da Professora Andréa Ferreira e da redação do AcheiUSA. 

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