Quem viaja muito não pode ter frescura com comida (“não gosto disso”, “não como aquilo”, nhén-nhén-nhém), mesmo ser vegetariano nem sempre é viável quando se está em um local muito isolado. Imagine perguntar em um restaurante no meio da estrada no Quênia se eles têm comida vegana. Eu namorei uma vegetariana numa boa, mas acho que não daria para sair com uma vegana, tem muita limitação e chatice na hora de escolher onde comer.
Quando vou para países exóticos onde não sei se encontrarei restaurantes em todo o percurso, levo macarrão instantâneo, enlatados e outras porcarias para saciar a fome em caso de emergência. Mas prefiro experimentar a cozinha local, a menos que o cardápio seja como o servido no Indiana Jones e o Templo da Perdição (cobras vivas, sopa de olhos, sorvete de cérebro de macaco, etc.). Foram poucos os lugares onde eu realmente não consegui achar um restaurante “comível” ou em ultimo caso um Mcdonalds – onde só vou se estiver desesperado.
O ideal é procurar por restaurantes onde os habitantes locais comem, é uma garantia de que o que pedir será típico e não deve fazer mal ao estômago ou ao bolso. Só fica difícil quando não se fala absolutamente nada no idioma local, como aconteceu comigo na Coréia do Sul em 2013. Apesar do país ser um dos mais bonitos e interessantes onde já fui, o turismo de ocidentais é quase inexistente. Em Seul até que deu mais ou menos para me virar, mas quando fui para o interior do país ficou complicado – eu era o único estrangeiro em diversos locais, portanto nada de inglês ou outra língua que não o coreano.
Em alguns restaurantes nem fotos tinham no cardápio – para pedir uma cerveja, tive que acompanhar o garçom até o refrigerador e apontar (ele não fazia ideia do que “beer” queria dizer). A bebida eu resolvi relativamente fácil, mas na hora de pedir a comida foi mais complicado. Por morar na Aclimação onde há vários restaurantes coreanos, eu já sabia dizer alguns poucos nomes de pratos como bibimbap (um prato de arroz com carne, ovo e vegetais preparado em uma cumbuca de pedra), bulgogui (carne adocicada que vem crua e é preparada em um fogareiro na mesa) e kimchi (conserva de nabo, bem apimentada). Só que tudo que eu conhecia eles não tinham – ou olhavam para mim como se estivesse pedindo um carburador mal passado. É mais ou menos como entrar em um restaurante de beira de estrada no Acre e pedir Acarajé – a Coréia do Sul é grande e cada região tem sua especialidade. Por sorte sei a linguagem do indicador, então apontei o prato de uma mesa vizinha e o garçom me trouxe um igual. Estava bom, mas não faço ideia do que eu comi.
Essa foi uma das viagens onde comi as coisas mais exóticas até hoje. Nunca fui (até hoje) para a China continental, onde dizem que os mercados têm de tudo quanto é tipo de animal à venda, inclusive alguns que ocidentais mantêm na sala de casa, e não dentro da geladeira… Na Coréia do Sul havia uma grande variedade de peixes e frutos do mar em mercados – muitos oferecidos vivos dentro de aquários abastecidos com água do mar bombeada diretamente. Dentro destes mercados haviam restaurantes onde vários itens do cardápio eram retirados do aquário na hora do preparo. Parece cruel, mas faz parte de sua cultura – e quem sou eu para criticar? Sem falar que seria hipocrisia eu reclamar disso e comer em restaurantes que oferecem as mesmas coisas que vêm congeladas dos pescadores.
Eles adoram peixes e outros frutos do mar desidratados, alguns ficam expostos nos mercados ou mesmo pendurados do lado de fora dos restaurantes. Para nós ocidentais alguns parecem algo vindo de filme de alienígenas – eu experimentei um monte deles e eram muito saborosos! Só não tive coragem de comer insetos e larvas. Quer dizer, acho que não comi, já que muitas vezes eu nem sabia o que estava dentro do prato…