Diagnosticado com uma broncopneumonia “leve”, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou a viagem que faria à China no domingo (26), seguindo orientação médica. A visita de Lula ao presidente Xi Jinping, planejada antes mesmo da posse do petista, previa uma visita de cinco dias ao país e incluía um jantar com o líder chinês e um ato cerimonial na Praça da Paz Celestial. Lula seria o primeiro aliado estrangeiro convidado por Xi a visitar o país desde sua recondução a um terceiro mandato. Com o cancelamento da viagem, a assinatura de ao menos 20 acordos bilaterais já negociados entre os dois países ficará adiada por tempo indeterminado. A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Uma nova data para a viagem ainda não foi marcada.
Lula estaria acompanhado de uma comitiva de mais de 30 políticos e 200 empresários – incluindo os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, da JBS, maior empresa de proteína animal do mundo. Alguns integrantes do grupo desembarcaram na China na semana passada, incluindo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, único representante do Executivo que manteve os compromissos no país asiático. Segundo ele, um dos principais pontos da visita, a negociação para a queda do embargo chinês à carne bovina brasileira, ocorrida há quase um mês em decorrência de um caso da doença da vaca louca, foi resolvida antes da data prevista para a viagem de Lula à China, com o retorno da exportação do produto aos chineses.
Outro acordo a ser assinado seria referente ao Cbers-6 – primeiro satélite sino-brasileiro para monitoramento da superfície da Terra, com foco em florestas, e a criação de um mecanismo bilateral para avançar agendas de meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Na manhã de domingo, o governo chinês se pronunciou sobre o cancelamento. “A parte chinesa manifesta compreensão e respeito, expressa cumprimentos ao presidente Lula e deseja sua rápida recuperação”, afirmou o porta-voz. O presidente Xi Jinping enviou uma mensagem a Lula desejando melhoras e “solidariedade cordial”.
Parceria com os chineses
Em 2004, Lula foi à China pela primeira vez como presidente do Brasil, acompanhado por mais de 400 empresários e políticos. Naquele momento, o governo chinês pretendia mover 300 milhões de seus habitantes do campo para as cidades até 2020 e se via diante do risco de escassez de alimentos, e o Brasil era um parceiro capaz de ajudar a viabilizar seu plano de desenvolvimento. “A gente pode prover a comida que a China não puder mais produzir por si mesma”, disse à época o então ministro da Agricultura de Lula, Roberto Rodrigues. Cinco anos mais tarde, a China passaria a ser o maior parceiro comercial do Brasil graças, em grande parte, à compra de cerca de 80% da produção de soja brasileira, cuja safra mais que dobrou desde então.
Para os chineses, o Brasil é um importante mercado consumidor, um grande exportador de alimentos e um aliado em assuntos internacionais sensíveis como a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito que se desenvolve no Leste Europeu.