Colunas Marcus Coltro

Coluna do Marcus Coltro: Carro elétrico? Tô fora!

Pode ser que carros elétricos sejam vantajosos para quem dirige por perto e tem como carregar as baterias em casa, mas se for viajar, esqueça!

Ilustração: Marcus Coltro

Minha primeira viagem ao Equador foi em 1990, com meu irmão José e um casal amigo, Ricardo e Gracy Guerrini. Naquela época o turismo na região ainda era um pouco virgem, sem muita infraestrutura. Alugamos um jipinho – e na locadora nos frisaram para só colocar a gasolina “Super nobenta e dos” (estoy hablando español). Ok.

Saímos de Quito e fomos subindo pela costa. O ponteiro da gasolina começou a baixar, e ao não encontrar sequer um posto de gasolina, começamos a ficar preocupados… perguntamos a uma pessoa na beira da estrada onde poderíamos abastecer “hay uma gasolinera a dos km”. Rodamos um, dois, três, cinco quilômetros e nada! Perguntamos a outra pessoa, “hay uma gasolinera muy cerca, a menos de un km”. Nada! Quando o carro já estava só no vapor da gasolina, paramos novamente e imploramos como poderíamos abastecer – o menino disse “tiene uma gasolinera acá!”. Ele chamou um cara, ele veio e abriu uma casinha de madeira fechada com cadeado, com uns galões de gasolina dentro – pegou um funil e encheu o tanque do nosso carro!

Corta para 2024. Fui buscar o carro alugado na Hertz em Savona, na Ligúria, para ir até o aeroporto de Milão. Meu status me dá a vantagem de poder pegar uns carros legais que eles não têm como alugar em Savona, e precisam ser levados de volta para Milão. Apesar de eu alugar o carro mais básico, já me deram de Audi a BMW – desta vez, o rapaz tinha um Volvo elétrico genérico (marca Chingling chamada Polestar) – eu meio que torci o nariz e perguntei se a carga dava para chegar a Milão. “Claro, está com carga para autonomia de 350 quilômetros, dá tranquilo”. Então tá, então.

Mó carrão, super potente com um arranque impressionante! No começo da estrada tem muitas curvas, nem dá para desenvolver muita velocidade – mas bastava pisar no acelerador que ele respondia na hora. No alto da serra tem uns retões onde o pessoal desce a lenha (eu não, imagina), passam Ferraris e Maseratis a milhão por hora. Eu testei meu Fiat 500 e o limite dele é 165 km/h – obviamente que não viajo nessa velocidade o tempo todo. Aí resolvi testar e pisei fundo no tal Polestar – ele chegou a 164 km/h… tem um limitador de velocidade. Ok, não tinha pressa, meu voo só seria no dia seguinte.

Faltando uns 30km para chegar ao meu hotel perto do aeroporto, o carro acende um alerta no painel “Só há 2% de carga na bateria, o suficiente para andar 15 km. Gostaria de recarregar?”. WTF??? Não, carro idiota, eu quero que acabe a energia e eu fico sentado chorando na guia! Onde cuernos vou encontrar como abastecer? O próprio carro sugeriu alguns locais, mas eram longe – aí eu parei no acostamento e procurei no Maps do celular. Encontrei um posto relativamente perto e programei o caminho..

Cheguei no local e só tinha uma casa com um senhor sentado na varanda. Abri a janela e perguntei onde poderia abastecer a bateria. Ele me informou que tinha uma oficina que fazia de tudo ali perto, abastecia baterias, arrumava o motor… ele não tinha ideia do que eu estava falando! Agradeci e andei mais um pouco, quase sem nada de carga – achei um casal entrando no carro e perguntei onde poderia recarregar, aí ele explicou que tinha um estacionamento a duas quadras com uma estação de carga. A tal “estação de carga”: uma droga de pilar com dois pontos de carga em um estacionamento escondido no meio do nada!

Liguei para a Hertz e me disseram que o cabo de carga estava no porta-malas, nunca havia feito a recarga de um carro elétrico, mas é meio óbvio. Achei e conectei o cabo. Enquanto isso, fui olhar o site do tal Polestar. Diz que carrega em 40 minutos o suficiente para andar 350 quilômetros. Pois bem, fiquei ali estacionado feito um idiota por quase uma hora, e carregou 11%!  Acho que a estação de carga não era Super nobenta e dos. Saí de lá com 11% mesmo e cheguei ao hotel – na manhã seguinte, devolvi o carro com 6% de carga, e reclamei com o atendente – ele mesmo me disse que não entende quem aluga essas porcarias elétricas.

Bom, admito que parte da culpa é minha. Não li o manual, não fiquei prestando atenção na carga – e não andei a 80km/h, um amigo no Facebook disse que em velocidades baixas, o carro rende mais. A velocidade máxima na estrada é de 130km/h – mas eu deveria ter dirigido um carro esportivo elétrico como o motorista de Driving Miss Daisy.

Pode ser que carros elétricos sejam vantajosos para quem dirige por perto e tem como carregar as baterias em casa, mas se for viajar, esqueça! Já imaginaram como eu teria ficado se estivesse atrasado para chegar ao aeroporto? Elétrico? Tô fora!

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