Histórico

‘Coiotes’ desempregados no México

As detenções ao longo da fronteira sul diminuíram 53% desde o ano fiscal 2008

No centro da cidade de Tijuana, um grupo de “coiotes” joga cartas em cima do capô de um automóvel estacionado. “Não tem caído nada há dias”, disse um deles que se identifica apenas como Carlos e não quer fotos.

Não muito longe dali está Samuel Salazar, de 52 anos de idade e 39 deles cruzando indocumentados para os Estados Unidos. Tem um posto improvisado de conexões para eletrônicos de todo tipo, sua alternativa para sobreviver porque “dificilmente cai algo”.

Desde a forte segurança na fronteira, reforçada com tecnologia, muros e mais de mil agentes da Patrulha de Fronteira, até o alto custo de seus ‘serviços’, o desemprego nos Estados Unidos e a presença de ‘pseudocoiotes’ que roubam, sequestram e extorquem imigrantes, deixaram os ‘coiotes’ cada vez com menos negócio.

“Em Tijuana os ‘coiotes’ estão desempregados, esta é a verdade”, afirma Víctor Clark Alfaro, diretor do Centro Binacional de Direitos Humanos da Baixa Califórnia, que explica que nem as autoridades sabem com certeza quem e quantos são.

Salazar tem um número mais exato para contabilizar o desemprego entre seu pessoal e explica que para cada cem que havia até antes de 11 de setembro de 2001 ficaram operando 20.

“Desde os 13 anos fui ‘coiote’, mas agora simplesmente não há maneira de cruzar, a fronteira está fechada por todos os lados, temos de tentar 100 vezes para conseguir passar”, disse Salazar.

“Trabalhamos no mercado ambulante, outros são pedreiros, vendem cigarros. Antes vivíamos sem necessidades, agora temos poucas entradas”, afirma Salazar, em cuja família há várias gerações de ‘coiotes’.

O preço da travessia

Após quatro fortes operações de controle fronteiriço que começaram em 1994 com a implantação da Operação Guardiã no condado de San Diego e que se estenderam até Texas e Arizona, a contratação dos ‘coiotes’ era inevitável para cruzar de forma mais segura desertos, rios e montanhas, e eles se reproduziram bastante, incluindo pessoas ligadas às drogas que desconhecem as rotas e copiam o modelo de violência utilizado pelo narcotráfico.

Também as tarifas dispararam. De $250 a $300 que custava uma viagem de Tijuana a Los Angeles antes de 1994, agora é preciso pagar entre $6 mil e $15 mil, dependendo do grau de segurança da travessia para chegar aos Estados Unidos como indocumentado.

“Dos que querem chegar aos Estados Unidos em busca de trabalho é raro aquele que tem este dinheiro no México ou na América Central, os que vêm do sul ficam na fronteira porque não podem cruzar; entre os que são deportados e querem tornar a cruzar, a menos que tenham familiares que respondam por eles, poucos conseguem”, explica Clark Alfaro.

Um estudo recente feito pelo Centro Hispânico Pew, descobriu que o fluxo de imigrantes procedentes do México para os Estados Unidos chegou há zero depois de 40 anos e pode até mesmo começar a reverter-se, isto é, levando-se em conta a quantidade de pessoas que entram de maneira ilegal e os imigrantes indocumentados que são expulsos do país.

Michael Fisher, chefe da Patrulha de Fronteira do Gabinete de Alfândega e Proteção de Fronteiras, afirmou recentemente perante o Comitê de Segurança Nacional do Congresso que “os resultados destes recursos dedicados à fronteira e nossa estratégia reforçada para a segurança são evidentes”.

Fisher informou que as detenções ao longo da fronteira sul baixaram 53% desde o ano fiscal 2008 e são menos de uma quinta parte do que eram no ano 2000.

No entanto, Clark Alfaro considera que o fechamento da fronteira entre México e Estados Unidos é apenas aparente, porque quem possui entre $6 mil e $8 mil consegue atravessar.

“O que estamos vendo agora é mais ‘coiotes’ transnacionais que trazem imigrantes da Ásia ou do Oriente Médio que podem pagar e eles não vão atravessá-los pela montanha ou pelo deserto porque não vão a arriscar a vida de alguém que está pagando até $30 mil, explica.

No mês passado a Secretaria de Segurança Pública Municipal (SSPM) do México deteve nove chineses, que provavelmente desejavam entrar de maneira ilegal nos Estados Unidos pagando os serviços de um ‘coiote’ mexicano que também foi detido. Dois dos detidos quiseram subornar os agentes para evitar a detenção, de acordo com o relatório oficial.

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