Eu cheguei a ir trabalhar de bicicleta algumas vezes em São Paulo, na Aclimação onde moro. Para quem não conhece, as ruas do bairro são tipo São Francisco na Califórnia, morros pra todo lado! Ladeiras super íngremes, ruas cheias de curvas e algumas muito estreitas. Para chegar ao escritório eu tinha que dar uma volta enorme a fim de não ter que pegar nenhum caminho cheio de ladeiras.
Aí começaram a encher de ciclovias inúteis pela cidade toda – sem levar em consideração as distâncias enormes que separam os bairros e a impossibilidade geográfica de conectar ciclovias viáveis para quem quisesse usar para trabalhar. Muito louvável sua intenção de querer proporcionar um meio de transporte alternativo saudável, tipo criar uma ShanPaulogri-La – com isso pretendia tirar carros da rua, como se todos fôssemos atletas jovens dispostos a chegar suados e sujos aos nossos destinos. Sem falar que quem mora na periferia nem em sonho viria trabalhar pedalando. A topografia da cidade não é plana como a Flórida.
Aí se vangloriaram de ter tirado mais de 600 mil vagas de automóveis da cidade! E o que colocaram no lugar, mais transporte público? Não…. um meio de transporte que só serve para quem mora ao lado de onde trabalha, e que está disposto a fazer exercício. Tiraram vagas de estacionamento de pessoas que moram, estudam e trabalham nos bairros, acabou com pequenos negócios que dependem de vagas para que seus clientes estacionem na frente – eu mesmo deixei de ir em vários assim, e muitos já fecharam graças ao empurrãozinho do prefeito.
Digamos que vinte mil pessoas usem as inúteisvias, isso dá 0.1% da população – mas sinceramente duvido que haja esse tanto de gente que use, talvez uns cinco ou dez mil façam uso nos fins de semana para seu lazer e não para trabalhar. E para seu lazer, prejudicam quem precisa estacionar para trabalhar, estudar ou fazer compras (que mantêm negócios de rua funcionando). Aliás, com o crescente número de entregadores usando bicicleta, sabe o que percebo? Eles não usam as ciclovias!
Voltando à Aclimação – uma das “obras primas” do Haddad foi uma ciclovia (que leva nada a lugar algum) em uma rua onde havia vários pequenos negócios, a Teodureto Souto, e cheio de casinhas que não tem garagem. Os moradores que se danem para estacionar seus carros à noite, e quem precisa de tanto comércio na rua?
Aí mudamos de prefeito e acreditamos que isso acabaria. Que nada, piorou. O atual está enchendo a cidade de ciclovias mais inúteis ainda! Só que alguns moradores começaram a se manifestar, instalaram uma na Avenida Lacerda Franco (com uma ladeira enorme) e a associação do bairro entrou com uma ação – no bairro já não tem onde estacionar, e muita gente precisa trabalhar ao invés de se exercitar de graça nas ruas. Conseguiram que recolocassem as vagas – sabe o que fizeram? Empurraram as vagas para o meio da rua, ao lado da ciclovia! E claro, será Zona Azul…
Sabe o lado bom de ser ciclista? Só ter direitos e nada de deveres e obrigações. Não paga IPVA, não precisa seguir leis, não tem identificação caso cause um acidente e se mande do local, pode andar em cima da calçada, na contramão, furar semáforo e ofender todos que passem à sua frente. Muitos andam em grupos grandes–um desses costuma correr na Rodovia Helio Smidt que faz o entorno do aeroporto de Guarulhos, onde há placas proibindo bicicletas – os taxistas que me levam para casa sempre comentam a forma agressiva que esses grupos tomam a estrada e os motoristas sabem que não é bom se meter com eles. Policiais multando carros e radares têm de monte, mas coibindo isso, necas.
Minha sugestão? Quem quer usar ciclovia construída com dinheiro dos impostos, que pague uma taxa, tenha identificação na bicicleta, siga as leis e seja multado caso não o faça.
Eu sei que é politicamente incorreto falar mal de ciclistas, mas da mesma forma que eles pensam de quem não usa bicicletas, quero que se lixem. Ciclista é egoísta, pronto, falei!
A maioria dos cidadãos deveria ser beneficiada, não meia dúzia de gatos pingados procurando academia gratuita. Seria como eu exigir que tirassem faixa de ônibus da rua para eu poder andar de skate. Quem anda de carro não o faz por esporte, o faz por necessidade – e paga muito mais impostos do que quem não tem carro.
Quero é pedalar! E quem tem idade, deficiência física ou simplesmente não quiser pedalar? Ora, que fique em casa!
Ah, outro ponto interessante: nove entre dez médicos aconselham fazer exercício pesado entre veículos em metrópoles, o ar poluído faz muito bem!