Histórico

Centenas de pessoas na fronteira pedem pelas famílias separadas

Cerca mostra o desespero de familiares dos dois lados: México e Estados Unidos

A fronteira que separa Tijuana e San Diego voltou a ser cenário da vigésima edição da “Pousada Sem Fronteiras”, um ato simbólico que procura evidenciar o drama da separação de famílias causado pelas deportacões de indocumentados.

Cerca de 150 pessoas reuniram-se ali dos dois lados do muro da fronteira neste domingo (15) para pedir “pousada”para as autoridades imigratórias aos indocumentados.

A jornada convocou ativistas e organizações pró-imigrantes, dos dois lados da cerca de metal levantada no Parque Amizade, durante a qual os presentes cantaram, rezaram e lembraram os imigrantes falecidos em sua tentativa de cruzar a fronteira.

O ato ocorrido, como todas as pousadas natalinas, baseia-se em uma tradição de origem religiosa muito arraigada no México e que lembra o peregrinar de Maria e José em sua busca de um lugar para se alojar enquanto esperam o nascimento de seu filho Jesus.”A ideia é pedir ‘pousada’ às autoridades americanas para os imigrantes”, explicou à agência de notícias Efe Esmeralda Siu, porta-voz da Coalizão Pró-Defesa do Imigrante, uma das organizadoras do evento.

Siu assinalou que há três anos, por causa das restrições na concessão de permissões para cruzar a fronteira, assim como pelo levantamento de um muro mais alto na área, as organizações mexicanas e americanas que participaram deste ato permaneceram cada uma de seu respectivo lado. “A cerca de metal não nos permite nos dar as mãos nem nos saudarmos, só nos permite que nos vejamos e nos falemos”, explicou Siu.

Por este motivo, ao contrário dos anos anteriores, os presentes não puderam compartilhar nem bebidas nem pratos típicos com seus pares do outro lado, especialmente diante da significativa vigilância efetuada pelos agentes da Patrulha da Fronteira.
Durante a jornada, alguns imigrantes e pessoas que pretendiam cruzar a fronteira, compartilharam seus testemunhos, e leram os nomes de alguns falecidos em sua tentativa de chegar ao território americano.

Do lado de Tijuana, os organizadores compartilharam doces, tamales e champurrada, a bebida tradicional nas épocas natalinas no México.

Ao longo do evento, desenvolvido sob um céu azul e um clima cálido, familiares que não conseguem reunir-se há anos por causa da condição imigratória de alguns deles protagonizaram cenas muito emocionantes.

Uma mulher, que não via sua filha há sete anos, não podia parar de chorar ao reencontrar-se com ela na cerca. Outros imigrantes tocavam seus entes queridos, entre soluços, através da cerca de metal.

“A Pousada sem Fronteiras” tem servido neste sentido para que os presentes ressaltem a necessidade de uma reforma imigratória que permita regularizar a situação dos onze milhões de indocumentados que moram nos Estados Unidos. “Queríamos que houvesse avanço na reforma imigratória, mas por ora não se vê nada ainda”, lamentou Siu.

Em junho passado, o Senado aprovou uma reforma imigratória com caminho para a cidadania, mas ao chegar à Câmara de Deputados, os republicanos frearam o projeto e bateram o pé para adiar para o ano que vem sua possível votação.

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