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CCBU promove 1ª edição do Ciclo de Leituras Dramáticas

Projeto do ator e diretor brasileiro Roberto Lobo quer fomentar cena teatral brasileira na cidade mais latina da Flórida; primeira edição acontece na quarta-feira (27)

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O ator e diretor brasileiro Roberto Lobo, organizador do evento

O ator e diretor brasileiro Roberto Lobo, organizador do evento

DA REDAÇÃO – Miami vem ficando cada vez mais consolidada como polo cultural nos Estados Unidos quando o assunto é artes plásticas. Porém, quando se pensa em teatro, a cidade ainda tem muito a percorrer, especialmente teatro feito por brasileiros (nacionalidade cada vez mais presente na região). Essa foi a percepção do ator e diretor teatral Roberto Lobo, que imigrou do Brasil para Miami há pouco menos de um ano, descontente com o Brasil (“a situação não está fácil”, diz).

Ao chegar aqui, sentiu falta de uma cena teatral mais consistente. Assim, Lobo, que tem em seu currículo trabalhos feitos com nomes icônicos dos palcos brasileiros, como Antônio Abujamra, decidiu construir, ele mesmo, um cenário teatral com foco no Brasil. A seguir, Lobo conta sobre seu projeto Ciclo de Leituras Dramáticas: Panorama da Dramaturgia Brasileira Contemporânea, dividido, a princípio em sete edições e cuja estreia acontece no Centro Cultural Brasil USA (300 Aragon Ave, Coral Gables, FL 33134) na quarta-feira (27), às 7pm. A próxima edição acontece no dia 24 de fevereiro. Mais informações podem ser obtidas no telefone do CCBU: (305) 376-8864.

AcheiUSA: Qual a importância de fazer um ciclo de leituras para a comunidade brasileira residente na Flórida?
Roberto Lobo: É notório que a comunidade brasileira em Miami e região vem aumentando a passos largos. Não tenho os dados estatísticos, mas é o que percebo e ouço amiúde. Muitos desses imigrantes abriram mão de sua área de trabalho no Brasil, de sua vocação, para viabilizar sua permanência e estabilidade nos EUA. Nesse cotexto, muitos artistas, profissionais ou amadores, ligados ou não ao teatro, que aqui estão sentem falta de poder exercer ou acompanhar movimentos culturais ligados às suas raízes brasileiras. Além disso, nos poucos meses em que estou morando em Miami, sinto que os filhos das famílias brasileiras que chegaram aqui muito novos ou mesmo nasceram aqui nos EUA, não demonstram muito interesse pela cultura do país de origem de seus pais. Fique claro, estou generalizando, certamente há exceções. Assim, sendo o teatro uma arte de comunicação tão imediata e onde posso afirmar que tenho considerável experiência profissional, achei bastante pertinente apresentar esse projeto para oferecer à comunidade brasileira (e a quem mais se interessar, naturalmente) uma oportunidade de saborear um pouco deste braço da cultura brasileira que é o teatro. Além disso, pensando nos jovens citados anteriormente e na possibilidade de poder mostrar tendências da recente dramaturgia, optei pelo panorama da dramaturgia contemporânea, no lugar de autores clássicos brasileiros, por exemplo. Tenho o privilégio de ter fácil acesso a maioria dos mais reconhecidos autores cariocas atuais, e com isso a chance de fazer leituras de textos que expressam, em linguagem jovem, as ideias e visões de mundo dos igualmente jovens autores.

AU: Qual foi o critério de seleção dos 7 dramaturgos participantes? Vocês aceitam inscrições para interessados em participar de futuras edições?
RL: O principal critério foi a praticidade. Tenho contato com os 7 autores `Renata Mizrahi, Carla Faour, Rodrigo Nogueira, Julia Spadaccini, Pedro Brício, Daniela Pereira de Carvalho e Jô Bilac`, conheço a importância deles no cenário da dramaturgia carioca e considero um número bastante razoável para estabelecer um panorama realmente representativo. Pedi aos autores textos não muito complexos para leitura. Com elencos de pequenos a médios, evitei musicais, naturalmente, e outras características que o bom senso dos autores determinasse. Como último critério, para garantir a contemporaneidade e sua efetivação como processo teatral, restringi a texto que tivessem entrado em cartaz de 2010 para cá. Este primeiro ciclo carioca já está fechado. Faremos leituras até julho. O próximo deve ser de autores paulistas e paulistanos, mas ainda não batemos o martelo. Até porque esperaremos a realização de algumas leituras para avaliarmos esse ciclo-piloto e eventualmente realizarmos ajustes. Como se trata de um panorama da dramaturgia contemporânea, evidentemente procuramos textos de autores atuais que sejam representativos do movimento dramatúrgico local, ou seja, que já possuam algum reconhecimento de público e crítica, que tenham currículo sólido. Assim, inscrições não serão descartadas a priori, mas terão que satisfazer os critérios de seleção do projeto.

AU: Quais são os destaques da programação do evento na sua opinião?
RL: Todas as peças são destaque! Como escolhi apenas 7 de um universo imenso, não poderia ser diferente! Claro que tenho minhas preferências, mas elas estão guardadas a sete chaves (risos). O que posso dizer é que meu destaque será sempre a próxima leitura. No momento, “Silêncio!”, de Renata Mizrahi. Mas tive, sim, um critério para escolhê-la como primeira leitura. Não critério de valor, mas de cotexto cultural. Renata é uma autora judia que, nesse texto, nos apresenta um shabat de uma família judia carioca em que, além das situações comuns a qualquer família que se reúne, vai nos trazer uma revelação bombástica relativa ao seu cotexto familiar. Temos uma importante comunidade judaica nessa região, acredito que muitos judeus brasileiros também vivam por aqui. Como, em geral, a comunidade judaica aprecia muito as artes, nos revelando, inclusive, tantos grandes artistas, espero que esta característica do texto possa ser mais um atrativo para fazer dessa nossa primeira leitura um grande sucesso de público.

AU: Além das leituras dramáticas, o evento inclui mais alguma outra atração para o público?
RL: Por enquanto não, infelizmente. Estamos nos concentrando nas leituras, o que já não é pouco. Estamos buscando parcerias para que possamos incrementar nossos eventos. Quem sabe possamos sortear alguns jantares para o público presente? Quase tudo é possível, em se tratando de arte. Portanto senhoras e senhores interessados em associar seu nome ou o de sua empresa a um movimento artístico de qualidade e à comunidade brasileira na região, a hora é essa. Estamos de portas abertas.

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