AcheiUSA – Fale-me sob o seu lado brasileiro.
Belo Cipriani – Tenho família em São Paulo e Manaus.
AU – O que você sabe a respeito do Brasil? Já esteve lá?
BC – Sim, várias vezes. Minha primeira língua foi o português, e eu costumava passar o verão no Amazonas, com minha tia Delfina.
AU – O que aconteceu com você, como ficou cego?
BC – Fui brutalmente espancado na primavera de 2007 por um grupo de ex-amigos. Chutaram tantas vezes a minha cabeça que as minhas retinas descolaram. Passei por várias cirurgias, mas acabei mesmo ficando cego.
AU – Como conseguiu transformar essa situação em um modo de vida?
BC –Fiquei deprimido por alguns meses, mas me família me ajudou. Minha mãe foi a maior fonte de encorajamento, tirou-me de casa e me levou para uma escola para cegos.
AU –Fale um pouco sobre seus projetos: capoeira, livros, eventos…
BC – Estou trabalhando num segundo livro. Também estou envolvido em campanhas, fazendo palestras em universidades chamando atenção para os problemas de quem tem deficiência.
AU –Qual o seu mais recente projeto?
BC –Meu segundo livro é uma ficção sobre os sonhos. Acho que as pessoas às vezes têm dificuldade de alcançar os seus sonhos porque não acreditam neles. É uma história sobre esperança e fé.
AU –Como foi a superação?
BC –Acho que indo à escola para cegos, e vendo pessoas cegas arrumando trabalho, tendo filhos e vivendo independentes me ajudou a superar minha insegurança
AU – Você acha que a sociedade está preparada para acolher pessoas com necessidades especiais?
BC –Acho que as pessoas precisam saber mais sobre o deficiente. Muita coisa que as pessoas pensam está ultrapassada pela tecnologia. Além disso, Hollywood trata do assunto de um modo completamente distorcido, e somente usa o deficiente como adorno. O meu sonho é ter meu livro traduzido para português e espanhol, de modo que as pessoas na América Latina possam ter uma visão mais atualizada sobre a cegueira. Nas minhas palestras, sempre falo que a deficiência não discrimina ninguém e pode afetar a qualquer um.
AU – Onde conseguiu ajuda para começar essa sua nova carreira?
BC –Frequentei o Orientational Center for the Blind, em Albany (CA), o Lighthouse for the Blind, em São Francisco, e o Guide Dogs for the Blind, em São Rafael, também na Califórnia. Levei por volta de dois anos para me tornar completamente independente.
AU – Qual a sua profissão antes de se tornar escritor?
BC –Antes de me tornar escritor, trabalhei como recrutador técnico no Vale do Silício. Selecionei gente para grandes empresas, como Google, Hitachi, Lucasfilms, Ebay, Yahoo e outras. Poderia voltar para o meu emprego depois de recuperado, mas perdi o interesse por ele. Ingressei na Universidade Notre Dame de Namur e me formei em literatura criativa. Foi uma mudança radical em termos de salário, mas eu me sentia muito melhor escrevendo e ensinado do que trabalhando numa corporação. Eu uso a capoeira como forma de exercício e para me manter conectado com minhas raízes brasileiras.
AU – Que tipo de auxílio você usa? Equipamentos, guia, cães…
BC –Tenho um cão-guia, uma cadela chamada Madge. Ela é uma Labrador Amarelo e vai comigo para toda parte. Fui o principal palestrante da Universidade de Yale durante o Mês da Herança Hispânica em outubro de 2012, e eu ela viajamos de avião por todo o país. Ela ainda não foi ao Brasil, mas espero levá-la para lá em breve. Também uso um laptop que lê o que eu escrevo e fala de volta o que escrevi. Foi assim que escrevi o meu primeiro livro e é assim que me comunico pela internet. Também uso um Iphone. Os produtos da Apple são de uso bem facilitado para o cego. Quem quiser pode conferir no meu canal no youtube algumas demonstrações de tecnologia, ou no meu website www.belocipriani.com.