Marcus Coltro

Canhotos

Canhoto

Quem é canhoto já aprende desde cedo que a vida não será tão fácil como para os destros. Na escola a professora dizia “direita é a mão que vocês escrevem, esquerda é a outra”. Aí eu levantava a mão e ela emendava “menos o Marquinhos, que é ao contrário”.

Na realidade tive poucas dificuldades na infância, exceto quando quebrei a mão esquerda na cara de um… digo, em um acidente. Não pude ficar de molho em casa, ia à escola e assistia às aulas sem precisar escrever nada. Até o dia que a professora me viu desenhando com a mão direita e disse “se pode desenhar, pode escrever!”. Me ferrei, acabei aprendendo a escrever com a mão direita –  bom, tipos. Com a esquerda minha letra era um garrancho, com a direita era um garrancho horroroso. Fiquei com o braço esquerdo enfaixado por um mês, o pior foi escovar os dentes com a mão direita – cansei de enfiar a droga da escova de dentes na goela, argh!

Na escola primária eu não tinha problema com a carteira, já que eram mesinhas e tanto fazia de que lado escrevíamos. Já mais tarde no “colegial”, eu tinha que procurar um assento que tivesse o apoio de braço na esquerda, o que nem sempre tinha na sala. Aqueles preconceituosos! Racistas! Fascistas! Golpistas! Ah, esquece, me empolguei com o politicamente correto.

Fiz cursinho por seis meses, e meu pai me deu na época suas canetas tinteiro antigas que mandei restaurar. Eu achava super legal a forma que escreviam com essas canetas, e resolvi usar uma Parker 51, super bonita. Esqueci de dois detalhes: tanto faz com que eu escrevo, a letra sai horrível de qualquer forma; a tinta não seca na hora, por isso usavam mata-borrão–canhotos passam a mão por cima do texto que acabaram de escrever, então dá para imaginar a meleca que eu fazia… mas não desisti! Me forcei a escrever de trás para frente, de forma que a tinta secava um pouco mais rápido ao mudar de linha. Depois de uns dias, os textos fluíam super bem, e meus amigos pararam de me olhar como se eu fosse pinel. Nem preciso dizer que me enchi depois de um tempo daquele trabalhão todo que tinha para manter a caneta funcionando e limpa. Santa BIC!

Não sou o único canhoto da família, tem minha tia. Só que ela nasceu nos anos 20, e naquela época as professoras batiam na mão dos canhotos e os forçavam a escrever com a mão “correta”. Claro que ela não deixou de escrever com a mão esquerda, mas aprendeu a escrever bem com a direita. Grande coisa, eu teclo com as duas mãos, tá bom?

Dizem que somos 10% da população – e estou bem acompanhado, vários famosos eram/são canhotos: Leonardo da Vinci, Michelangelo, Paul McCartney e Ringo Starr, H.G. Wells, Napoleão Bonaparte, Henry Ford, vários presidentes americanos – Gerald Ford, Ronald Reagan, George Bush (Pai), Bill Clinton e Barack Obama, mais um monte de atores famosos como Charlie Chaplin, Robert DeNiro, Peter Fonda, Whoopie Goldberg, entre outros (hum… 2906 caracteres. Chega, já enchi linguiça demais para ocupar o espaço da minha coluna com outros nomes).

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