– Marquinhos, quem você gostaria de namorar, uma loira ou uma morena?
Era comum nos perguntarem essa abobrinha, como se pudéssemos escolher a namorada em um catálogo (tem alguns homens que fazem isso, mas deixa pra lá). Nunca mencionavam as ruivas–as de verdade são raras aqui no Brasil. Dizem que as ruivas e as loiras daqui tem algo em comum: as raízes castanhas, hehehe!
Se fosse hoje, a pergunta seria:
– Marquinhos, que cor de cabelos você acha mais legal nas meninas? Alizarina, Âmbar, Aspargo, Azul ardósia, Azul flor de milho, Azul força aérea, Bordô, Borgonha, Carmim, Ciano, Feldspato, Fúchsia, Grená, Herbal, Índigo, Jade, Jambo, Jabuti preto, Laranja, Lilás, Magenta, Ocre, Quantum, Rosa profundo, Roxo, Rútilo, Salmão, Siena, Terracota, Tijolo refratário, Triássico, Verde espectro, Vermelho indiano, Vermelho violeta ou Violeta puro? Talvez os meninos de hoje em dia conheçam esses nomes de cores que copiei da internet, eu só conheço cores básicas. (Dá um tempo, que cuernos é “Triássico”???)
E no fim isso é uma tolice, elas nos enganam e só ficamos sabendo da cor verdadeira depois de passar muito tempo junto.
A Bianca tem mudado a cor de seus cabelos com mais frequência do que eu mudo de fuso horário em minhas viagens. O pior de tudo é que fica inventando moda ao usar corantes que não são para os cabelos, porque viu na internet. E se está na internet, deve ser bom, né? Ao perguntar se não estava se intoxicando, a resposta foi “Pai, você não sabe de nada, TOOODAS as meninas fazem isso, e as cabelereiras blablablabla, e uma amiga disse que não fazia mal e……” (já havia perdido a atenção quando o assunto se estendeu muito).
Caso os cabelos caiam com essa melecada que ela passa, o máximo que posso fazer para ajudar é comprar um boné. Aliás, ela passa a tinta nos cabelos, no pescoço, nas mãos, no chão do banheiro, no box, na toalha, na porta do quarto e na geladeira (sim, já encontrei um tom de rosa no puxador).
Cheguei esta semana em casa e ela estava parecendo o Hellboy. “Pai, me sujei toda!”. Sugeri que ela usasse uma bucha metálica de lavar louça para tentar se limpar, mas nãããão… pai não sabe de nada e ela não aceitou! Nem mencionei a lixadeira elétrica, acho que também não iria querer usar. Antes de dormir ela entrou novamente no banho e se esfregou até não dar mais, saiu uns 20%.
E há uns dois meses ela resolveu cortar sozinha a franja. Odiei o resultado, tive que gastar uma grana na cabelereira para ela arrumar a porcaria que fez. Vivo dizendo para ela deixar os cabelos em paz e curtir a cor natural. O tempo passa e eles ficarão brancos, aí ela poderá escolher a cor que quiser. E vem a resposta padrão “Pai, você não sabe de nada!”. O que sei é que adoro ser homem e não tenho que passar por esses estresses capilares desnecessários, já basta encontrá-los no chão e grudados no sabonete.
Meus cabelos até os sete ou oito anos eram quase brancos de tão loiros, aí ficaram castanhos, depois ficaram acinzentados. Hoje eu só quero que eles fiquem, mas têm ido embora com bastante frequência. Estou pensando em me converter ao judaísmo, assim posso usar um quipá para esconder a clareira que está se abrindo no cocoruto. Shalom!