Colunista de O Globo, Ricardo Noblat, divulgou diatribe entre os brasileiros no voo da AA para São Paulo
Da redação com O Globo – Imagine uma briga com troca de socos dentro de um avião. Seguida do pânico de parte dos passageiros que confundiram”briga” (fight) com “fire” (fogo).
Foi o que aconteceu na madrugada da terça-feira (7) no voo 995 da American Airlines, que faria a rota Miami-São Paulo.
O avião decolou às 23h30, horário de Miami (0h30, horário de Brasília). Com poucos minutos de voo, uma brasileira começou a passar mal.
O comissário de bordo perguntou se havia algum médico entre os passageiros. Três deixaram os seus lugares para socorrer a mulher. Por recomendação deles, o voo voltou a Miami para que a mulher fosse levada a um hospital.
A aterrissagem de um grande avião com sua carga de combustível praticamente intacta é algo arriscado. Exige perícia dos pilotos e o perfeito estado do sistema de freios.
Deu tudo certo. A mulher desembarcou aos cuidados de uma equipe de paramédicos do aeroporto. E os passageiros foram avisados de que o avião voltaria a decolar dali a duas horas.
Era necessário submeter o sistema de freios a uma nova revisão.
Um brasileiro, que viajava junto com a mulher nos fundos do avião, reclinou a cadeira para dormir. Outro brasileiro, sentado atrás dele, reclamou. Disse que a cadeira reclinada o impedia de ver televisão com conforto.
O ocupante da cadeira em questão respondeu que nada faria. O outro ameaçou:
– Então vou lhe cobrir de porrada.
Prometeu e cumpriu.
Foi quando uma aeromoça, que ouviu o bate-boca dos dois sem entender direito, correu na direção da cabine do comandante gritando “Fight, fight, fight” (briga).
Um expressivo lote de passageiros brasileiros entendeu “Fire” (fogo). E logo acompanhou a aeromoça em sua corrida, amontoando-se na classe executiva.
Abriu-se a porta do avião e entraram três policiais que dali a instantes foram embora levando cinco brasileiros algemados – o autor das porradas e quatro amigos dele, e mais o ocupante da cadeira que reclinou, e sua mulher.
O voo 995 decolou outra vez às 3h33 e não foi registrada nenhuma outra ocorrência.
Posição do consulado
O cônsul adjunto Fernando Arruda emitiu um comunicado em relação ao episódio: “Sobre o caso dos brasileiros retidos após altercação a bordo de aeronave, o Consulado-Geral contatou autoridades locais para eventualmente prestar assistência aos envolvidos. Conquanto não tenham havido maiores desdobramentos do caso (os nacionais teriam sido interrogados e posteriormente liberados), o Consulado-Geral não pode divulgar detalhes adicionais sobre o episódio, no intuito de preservar a privacidade daqueles nacionais”.
O Consulado-Geral do Brasil em Miami continua monitorando a situação, mas tudo indica que as autoridades policiais do condado de Miami Dade não deverão abrir inquérito criminal, por julgar que tudo não passou de um desentendimento entre passageiros.