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Brasileiros nos EUA mostram rejeição à vacina contra o coronavírus, aponta pesquisa

Teorias conspiratórias e desinformação pesam na avaliação das vacinas pelos brasileiros residentes dos Estados Unidos

Para vacinar é preciso apresentar documento de identificação (foto: pixabay)
Para vacinar é preciso apresentar documento de identificação (foto: pixabay)

“Eu conheço dois cientistas que trabalham na Pzifer. O objetivo é acabar com vírus fabricado pelos chineses”. É assim que a catarinense Rosângela Estefani, 54, residente de Stonington, Connecticut, explica o motivo de confiar somente na vacina que está em fase de desenvolvimento nos EUA pela gigante Pfizer. O vírus, segundo ela, teria sido desenvolvido em um laboratório na China financiado pelo ex-presidente Barack Obama.

Rosângela faz parte de um grupo de pessoas que, influenciado por teorias da conspiração, enxergam nas vacinas, em especial as de laboratórios chineses, uma forma de controle da população mundial.

Rosângela Estefani acredita que o ex-presidente Barack Obama ajudou a financiar a criação do novo coronavírus em laboratório da China (Foto: Arquivo pessoal)

Ela não está sozinha quando o assunto é a rejeição às vacinas. Pesquisa feita pelo AcheiUSA mostra que de um total de 580 pessoas que responderam à pesquisa, 42.2% dizem que não tomaria nenhuma vacina, 29.9% somente de laboratório com acordo do governo dos EUA, 34.5% tomaria qualquer vacina desde que fosse segura e 2.4% não tomaria vacina de laboratório da China.

O medo da eficácia, e dos supostos efeitos colaterais, está presente em grande parte das pessoas. Muitos acreditam que não é possível produzir uma vacina em menos de um ano e que os laboratórios, em parceria com governos, estão preocupados em anunciar uma vacina para que a economia volte ao normal, mesmo que ela não seja segura.

Carlos Fidalgo, residente de Nova York, é um dos que dizem não confiar em nenhuma vacina devido ao prazo recorde de conclusão na qual os governos estão prometendo. “Você vai tomar e depois vai sofrer as consequências dos efeitos colaterais dessas vacinas fajutas”, escreveu ele.

O movimento antivacina não é novo e existe antes da pandemia do novo coronavírus surgir. Segundo o respeitado jornal científico The Lancet, um estudo realizado pelo Centro para Combate ao Ódio Digital (CCDH na sigla em inglês), as plataformas de rede social são as maiores culpadas por permitir que grupos que pregam a rejeição as vacinas se proliferem. O relatório da CCDH aponta que 31 milhões de pessoas seguem grupos antivacina no Facebook e 17 milhões se escrevem em canais similares no Youtube. Desde 2019 o número aumentou em 7,8 milhões de pessoas.

Toda vacina, após ser aprovada pelos órgãos competentes, são totalmente seguras.”

— Daniela Sartori

Com a atual crise sanitária, o risco de milhões de pessoas ao redor do mundo não tomarem a vacina tem preocupado especialistas em infectologia ao redor do mundo. Se uma vacinação massiva não acontecer, a chamada imunidade de rebanho pode não ser possível, causando mais mortes e prejuízos para a economia global e estendendo o prazo de uma tão desejada volta à normalidade.

“Seria uma tragédia se uma vacina segura e eficaz fosse desenvolvida, mas as pessoas se recusassem a tomar. Nós precisamos desenvolver um esforço robusto e sustentável para lidar com a hesitação da vacina e construir confiança da população nos benefícios da imunização”, diz Scott Ratzan, médico da Universidade de Nova York e co-autor de um estudo sobre a aceitação da vacina nos EUA.

A brasileira Daniela Sartori, residente da Flórida, é biomédica com mestrado em microbiologia e imunologia e trabalha na área de saúde há 30 anos. Ela acredita que toda vacina, após ser aprovada pelos órgãos competentes, são totalmente seguras. Para provar ela, o marido e os filhos participaram dos testes da Pfizer como voluntários. “Vacinas são seguras. O que não é seguro? Esses vírus!”, escreveu ela.

Na Europa, membros do parlamento inglês já falam em retaliações àqueles que se recusarem a tomar a vacina. Tom Tugendhat, membro do partido conservador britânico, disse que as pessoas que se recusarem a receber a vacina podem ficar impedidas de frequentar bares, restaurantes e até mesmo locais de trabalho.

Nos EUA, o presidente Donald Trump ajuda a propagar desinformação sobre o vírus, acirrando a batalha entre negacionistas e aqueles que acreditam na ciência. Em agosto o Facebook apagou um vídeo postado pelo presidente que sugeria que as crianças eram “quase imunes” ao SARS-CoV-2. O twitter foi mais longe e suspendeu a conta de Trump por postar o mesmo vídeo.

A propagação de desinformação, notícias falsas e teorias da conspiração nas redes sociais mostra ser um dos principais influenciadores das pessoas que se colocam contra as vacinas ou rejeição as vacinas da China e Rússia.

Rosângela, que acredita na fabricação do vírus pelos chineses, compartilha um vídeo do médico Shiva Ayyadurai, formado pelo MIT, onde ele desacredita toda a política sanitária da Organização Mundial da Saúde no combate ao coronavírus, na qual diz estar sendo tratada de forma desproporcional a letalidade do vírus. Ele ataca o principal imunologista dos EUA, Dr. Anthony Fauci, desafeto do presidente Trump. Dr. Shiva é famoso por propagar diversas teorias da conspiração. Filiado ao partido Republicano, ele foi pré-candidato em Massachusetts ao senado, mas perdeu a indicação para Kevin O’Connor.

Em comum, brasileiros que possuem um perfil mais conservador tendem a acreditar em teorias da conspiração e rejeitar a ciência. Parte devido à influência dos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro e dos EUA Donald Trump que durante a pandemia preferiram desacreditar a comunidade científica quanto a gravidade da crise, rejeitar a eficácia das medidas de prevenção como uso de máscara facial e distanciamento social além de promover remédios sem eficácia comprovada. Especialistas alertam que a demonização da China, taxada como criadora do vírus, também ajudou no surgimento de uma enxurrada de teorias na internet, promovendo o medo a uma possível vacina desenvolvida em laboratório chinês e colocando em risco a saúde, não somente das pessoas que se recusam a serem vacinadas, mas da população de uma forma geral.

A maioria das pessoas que responderam à pesquisa do AcheiUSA diz que não tomaria nenhuma vacina. Grupo é influenciado pelas teorias da conspiração espalhadas pela internet (Gráfico: Breno DaMata)
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