Jovani Furlan deixou o Brasil aos 17 anos e aos 20 já é considerado uma promessa dentro da companhia americana
Joselina Reis
Enquanto as duas irmãs jogavam futebol, o menino Jovani Furlan tinha como hobby as sapatilhas de balé. A família, principalmente o pai ex-jogador de futebol, não achou nada estranho na escolha do filho e incentivou o menino que hoje, dez anos depois, é uma das grandes promessas do Miami City Ballet. Ele fará um dos papéis principais no show Episodes que estará em cartaz a partir do dia 14 de fevereiro no Adrienne Arsht Center for the Performing Arts em Miami.
Jovani conta que assim que veio para os Estados Unidos pela primeira vez sua carreira começou a deslanchar rapidamente. “No ano de 2010 participei do International Ballet Competition em Jackson, Mississippi, onde o fundador e antigo diretor do Miami City Ballet, Edward Villella, estava presente e procurando por novos bailarinos. No fim da competição recebi a notícia de que ele gostaria de me oferecer uma bolsa integral para o Miami City Ballet School”, conta esse catarinense de Joinville.
Na companhia até hoje, sendo este seu primeiro e único emprego na carreira artística, Jovani lembra que tudo foi resultado de muito esforço e estudo. No Brasil, ele iniciou seus estudos de balé ainda criança na Escola do Teatro Bolshoi onde ficou por sete anos. Lá ele aproveitou tudo o que podia, estudou balé clássico, dança folclórica russa e brasileira, teatro, ginástica, piano, flauta doce, história da música e da dança, inglês e dança contemporânea.
“Minha dica para bailarinos iniciantes é que uma base forte desde o início vai fazer tudo mais fácil para ter uma carreira longa e feliz, fortalecimento, alinhamento e flexibilidade são cruciais na vida de todos os bailarinos e vão evitar muita dor de cabeça no futuro. Tudo o que o seus maestros tentam fazer você entender é importante e deve ser absorvido para te ajudar a criar uma boa técnica. A arte, musicalidade e sentimento vem de dentro”, revela o bailarino que agora faz parte do primeiro escalão do MCB.
A passagem de aprendiz até a inclusão de seu nome no corpo principal de bailarinos foi bem rápida. Ele se mudou para Miami no fim do ano de 2010 e iniciou os estudos com o Miami City Ballet School em janeiro de 2011. Já no mês seguinte, conta ele, foi convidado para participar de uma aula com a companhia e em março do mesmo ano fazia parte do elenco da turnê para Paris no verão de 2011. “Depois disso fui promovido para Company Apprentice no início de 2012 e em janeiro de 2013 fui efetivado como corpo de baile. Completei três anos em Miami agora e um ano como corpo de baile do MCB”, comemora.
A temporada 2012-2013 foi ótima para Jovani, mas é a temporada 2013-2014 que ele planeja brilhar ainda mais nos palcos com os outros bailarinos. Ele fez Cavalier, no Nutcracker e se prepara para viver um personagem central em Episodes, uma das peças dentro do Programa III. “Estou muito ansioso e animado para o Programa III onde farei o solo de Paul Taylor em Episodes e Tony em West Side Story Suite, são dois papéis que nunca imaginei que estaria fazendo”, conta.
West Side Story Suite se passa em New York nos anos 50 e mostra a rivalidade entre duas gangues, Jets (americanos) e Sharks (portorriquenhos). Bem ao estilo Romeu e Julieta, o personagem de Jovani vai se apaixonar pela irmã de um rival. Em Episodes ele vive Paul Taylor, o brasileiro é o terceiro bailarino a encarnar o papel criado por Balanchine. Por quase vinte anos nenhum outro bailarino havia sido escolhido para fazer esse solo de balé devido à dificuldade dos movimentos.
Já que o papel é uma oportunidade única na sua carreira, o jovem Furlan não mede esforços para se preparar. Depois de passar por uma por uma cirurgia no seu tornozelo esquerdo em junho de 2013, ele começa seu dia com 30 minutos de alongamento em casa, faz outros vinte minutos quando chega nos estúdios do MCB, às 10am tem início as aulas, às 11:35am ele ensaia até as 2:30pm, e volta a ensaiar das 3:30pm às 6:30pm. “No fim do dia ainda faço exercícios de alongamento e três vezes por semana faço levantamento de peso na academia dentro do Miami City Ballet, basicamente essa é minha rotina diária”, conta ele sem reclamar de nada.
Mesmo com agenda lotada – a companhia faz em média 70 shows por ano – sem previsão de retorno ao Brasil e ainda tão jovem, Jovani faz planos para a aposentadoria como bailarino. “Meu objetivo como bailarino seria me tornar um Principal Dancer com o Miami City Ballet e passar minha carreira aqui, gosto muito do repertório e das pessoas dessa companhia, não tenho planos de sair por enquanto. Depois de me aposentar ainda não tenho certeza, gostaria de poder passar o que aprendi e vou aprender ao longo da minha carreira, não sei ao certo onde a vida vai me levar após o término da minha carreira como bailarino”, disse ele que viaja ao Brasil apenas nas férias e, mesmo assim, mantém a dança como atividade diária quando está em Joinville.