DA REDAÇÃO – A trajetória do ator brasileiro residente em New York Gustavo Pace, por si só, já daria uma peça. Advogado, formado em direito no Brasil, largou tudo que tinha no país, há cerca de 6 anos, para vir, do Rio de Janeiro, estudar sua paixão nos Estados Unidos: as artes dramáticas. Para isso, Pace não sonhou baixo. Foi aprovado e se formou no Institute for Advanced Theater Training da Harvard University, uma das instituições de ensino mais prestigiosas do planeta. Durante seus estudos recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Fulbright. Foi o único brasileiro a se formar em um grupo de 18 alunos, tendo sido selecionado entre mais de 2 mil candidatos.
Pace agora tem mais uma oportunidade de mostrar seu talento para o público e evidenciar sua relação apaixonada com o ofício dramático. A oportunidade é a encenação da peça “Discovery”, inspirada no texto do italiano Dario Fo e especialmente escrita para as comemorações dos 500 anos da viagem de Colombo. O espetáculo acontece na quinta-feira (31) no Dorothy Strelsin Theatre, em New York. Mais informações no afo.nyc/afosoco.
Confira a seguir um papo com o ator, que fala sobre “Discovery”, cultura americana e, em semana de quiprocó em palcos brasileiros (ocorrido em uma peça encenada em Minas Gerais, quando um ator fez críticas à presidente Dilma Rousseff e recebeu vaias de uma pequena parte da plateia, sendo impedido de a continuar o espetáculo), sobre a crescente radicalização das preferências políticas no Brasil.
Sua peça trata sobre o descobrimento da América por Cristóvão Colombo. O que te chamou a atenção nesse texto?
O fato do personagem Johan desejar se conectar à cultura da América e acreditar que podemos achar nossa verdadeira “casa”, independentemente de onde estivermos. A peça retrata as aventuras de um dos membros da tripulação de Colombo, Johan Padan, que se envolve em episódios inusitados ao se deparar com a inesperada violência na relação conflituosa entre conquistadores e nativos. Ele se encanta com a cultura dos índios e se alia a eles. A experiência é contada numa roda de amigos após seu retorno da viagem às Américas. A peça apresenta uma visão atualizada dos conflitos gerados na descoberta das Américas, com direção de Lou Liberatore, já nomeado ao Tony Awards numa peça de John Malkovich e reconhecido ator e diretor dos circuitos Broadway e Off-Broadway. Estou muito feliz de estar trabalhando com Lou Liberatore, Michael Wolk, Nicholas A. Cotz e o prestigiado “All For one Theater”.
Há quanto tempo vive nos EUA e o que o trouxe para cá?
Vivo nos EUA há 6 anos. Me formei em direito e vim para os EUA para seguir o meu sonho de ser ator. Estou feliz em ter a oportunidade de trazer o amor e a paixão do Brasil para os EUA e para o mundo. O caminho do ator é longo, com muito trabalho e dedicação, mas os mistérios da carreira e a interação com o público compensam o esforço.
O Brasil vive um momento político delicado. No último fim de semana, durante uma peça em Minas Gerais, o ator Claudio Botelho inseriu uma crítica à Presidente da República em sua atuação. Foi repreendido por uma pequena porção da plateia, que impediu aos gritos que o espetáculo continuasse. O que você, como ator, achou da atitude dele?
Tenho conhecidos nesse espetáculo, então prefiro não julgar. Na página do Facebook o ator pediu desculpas pelo ocorrido. Embora o momento seja conflituoso, temos de avançar no debate das ideias, preservando o relacionamento construtivo e amistoso entre as pessoas, como é típico do nosso país.
SERVIÇO
“Discovery”, com Gustavo Pace
Data: quinta-feira (31)
Local: Dorothy Strelsin Theatre (312 W 36th St, New York, NY 10018)
Preço: grátis
Informações: afo.nyc/afosoco
