Um brasileiro, que não teve a identidade revelada, protocolou uma denúncia no Conselho de Direitos Humanos da Paraíba por ter sido vítima de tortura e violência policial nos Estados Unidos. O objetivo do homem de 50 anos e pai de dois filhos é processar o governo americano e ser indenizado.
A vítima é natural de São Paulo e formado em música, trabalhava como professor e também como serralheiro, produzindo portões. Em 2016, viajou com a família para os Estados Unidos, como turista, e lá resolveu ficar no estado da Louisiana. Ele permaneceu ilegalmente até ser preso em dezembro de 2019.
O homem ficou 10 meses preso, sofreu um grave acidente, perdeu a visão, sofreu humilhações, foi deportado. Traumatizado, optou por uma cidade mais tranquila do que São Paulo, e foi assim que chegou a João Pessoa, onde se fixou desde outubro do ano passado.
O brasileiro conta que foi preso pela imigração no dia em que resolveu ir ao estado do Alabama comprar uma caminhonete. Ele estava ao lado do filho mais velho e no caminho, foi parado numa blitz. “Meu filho e eu fomos presos. Na primeira corte de fiança, dois meses depois, ele foi solto. Mas eu permaneci preso”, relembra.
Na prisão, enquanto a família se mobilizava para tentar tirá-lo de lá, ele tinha uma vida dura, rígida, com muita disciplina e pouco conforto. Ainda assim, o homem explica que era bem tratado. O grande problema aconteceu depois que, em 10 de fevereiro de 2020, ele sofreu um acidente.
O brasileiro relatou ao G1 que estava na área destinada à recreação e ao banho de sol quando levou uma bolada acidental que acertou o seu olho. O homem sofreu uma contusão na retina e perdeu a visão de um dos olhos. Ao pedir para ser medicado, o drama começou.
Ele destaca que saiu do presídio antes do café da manhã, sem se alimentar. Foi levado a uma cidade próxima de van e, no percurso, sofreu uma série de constrangimentos. Ele fala em tratamento racista e humilhante. “Tratam o imigrante como bicho”, lamenta.
Na entrada do hospital, com uma típica roupa laranja de presidiário e com algemas nos braços, nas pernas, no tronco, no pescoço, foi obrigado a caminhar em via pública e a atravessar uma avenida larga sob os olhares dos transeuntes. Sendo obrigado a caminhar de forma rápida mesmo com a mobilidade reduzida por causa das correntes. “Ao todo, foram quase 48 horas sem comer”, denuncia.
Ele seguiu preso, cego de um olho. E só em outubro do ano passado conseguiu voltar para o Brasil, depois de uma audiência na Justiça em que aceitou a condição de ser deportado para ser liberto. Voltou, segundo ele, com transtornos físicos e psicológicos. E é por causa de tudo isso que pede reparações. “Um de meus filhos segue nos Estados Unidos. Ele trabalha e é quem nos sustenta. Não consigo mais trabalhar como serralheiro por causa da perda da visão. E não pude dar aula de música por causa da pandemia. Agora, com o avanço da vacinação, quero ver se retomo as aulas”, finaliza.
As autoridades brasileiras estão em contato com advogados especializados em direito internacional para avaliar a melhor forma de entrar com um processo contra o governo. (Com informações do G1)