DA REDAÇÃO – Foi um choro de apenas 10 segundos no banheiro do consultório onde o diagnóstico de câncer de mama foi confirmado em agosto de 2018. Ao sair, Siluandra Scheffer, 41, nunca mais aceitou passar pelo papel de vítima. “Quando você recebe um diagnóstico deste, você tem duas opções, ser vítima ou ser protagonista. Eu decidi ser protagonista”, diz. A decisão foi tomada ali mesmo. “Ou o câncer te mata, ou você mata o câncer. Eu decidi matar o câncer”.
Quando você recebe um diagnóstico deste, você tem duas opções, ser vítima ou protagonista”
— Silu
Silu, como é conhecida a personal trainer em Pembroke Pines, na Flórida, onde mora com o marido, não parou sua rotina de treinos e a sua vida social durante os quase dois anos de tratamento contra a doença. Continuar com a rotina permitiu Silu manter em alta um importante aspecto para quem enfrenta uma doença grave: a autoestima. “Muitas pessoas iam me visitar já esperando achar uma pessoa derrotada e vitimizada, não foi o meu caso”, relata.
Silu faz parte de um contingente de milhares de mulheres nos EUA que sofrem com o câncer de mama. Segundo dados da Sociedade Americana do Câncer, mais de 300 mil mulheres receberam o diagnóstico em 2017, sendo que 60 mil delas não sobreviveram. Atualmente, mais de 3,5 milhões de mulheres vivem com câncer de mama nos EUA.
A evolução da medicina, as campanhas de prevenção e a conscientização das mulheres na realização de checagem anual, vem derrubando as taxas de mortalidade ano após ano. Em 1992, o índice de mortalidade por 100 mil pessoas era 32. Em 2017 caiu para 19,9.
A carioca Grace Maximo Wasth, 63, moradora de Orlando, na Flórida, foi diagnosticada em 2011 pela primeira vez com câncer de mama. A doença já fazia parte do passado de Grace até que em outubro de 2019, um exame de CT Scan para tratamento de apneia do sono revelou a presença de células cancerígenas espalhadas pelo corpo. “O câncer já havia atingido os ossos e o pulmão”, relata Grace. O diagnóstico não poderia ter sido pior. “O médico disse que eu teria apenas dois anos de vida. Um pouco mais se eu me cuidasse bem”, disse.
Um ano após o diagnóstico, Grace vê com esperança e confiança a possibilidade de manter o câncer sob controle e assim estender por muitos anos sua vida. A medicação vem surtindo efeito em impedir o avanço da doença. Segundo ela, o tumor no pulmão regrediu de 3,5 para 1,5. Nos ossos houve uma estabilização.
Entretanto, as sessões de quimioterapia e as consequências negativas que elas impõem aos pacientes, não são as únicas dificuldades que estas mulheres enfrentam. Os custos astronômicos dos tratamentos nos EUA se somam a uma lista de problemas que tornam a vida de muitas pessoas ainda mais difícil.
Separada e sem condições de saúde para trabalhar, Grace foi morar com o filho e precisou contar com a ajuda de amigos para custear parte do tratamento que o seguro de saúde não cobre. Ela arrecadou pouco mais de 10 mil dólares através de uma campanha. “Eu preciso fazer um tratamento de imunoterapia que custa $500.00 por mês fora as despesas com o próprio seguro de saúde”, diz ela completando que ainda faltam três sessões, mas que o dinheiro já acabou. Sem trabalhar e impedida pelo governo de receber ajuda federal, Grace diz que não sabe como irá pagar pelo resto do tratamento.
Nos EUA os custos de um tratamento de câncer podem chegar a casa dos milhões de dólares dependendo da gravidade do caso. Sem seguro, muitas pessoas são obrigadas a vender imóveis, contrair dívidas ou declarar falência.
A cantora Fabiana Passoni, 43, mineira de Poços de Caldas, Minas Gerais, e residente da Califórnia há 22 anos, precisou de vender um imóvel no Brasil para pagar pelo tratamento de um câncer de mama descoberto há 12 anos. Assim como em muitos casos, o diagnóstico não chegou com a primeira consulta. “Quando eu notei o caroço no meu seio pela primeira vez, eu fui ao médico e ele disse que não era nada”, relata. Incomodada com o caroço, e de passagem marcada para o Brasil, Fabiane resolveu ir ao médico para a retirada do caroço. “Foi quando fizeram a biópsia e descobriram que era câncer em estágio 2A”, disse.
De volta aos EUA, Fabiana passou por um tratamento de mastectomia seguida de quimioterapia e 70 sessões de radioterapia. Dois anos depois o câncer voltaria no mesmo local. Hoje curada, Fabiane diz que o apoio de familiares e estranhos foi essencial para superar a luta contra a doença. “É um tempo demorado, mas passa como tudo na vida. Você precisa estar com a cabeça erguida e acreditar”, aconselha.
A jornada de Silu contra o câncer também passou por um diagnóstico tardio. O câncer, que se instalou no bico do seio esquerdo, não foi detectado nas primeiras visitas ao médico. Na ocasião, sem imaginar que a pele que se soltava no local e o escorrimento pudesse ser câncer, Silu consultou com um dermatologista e um ginecologista. O parecer de ambos os médicos foi o mesmo: alergia. “Eu tratei durante dois anos com uma pomada”, relembra ela que somente após ver o quadro piorar nos anos seguintes uma consulta com outro médico detectou o câncer através de uma biópsia.
Os especialistas são unânimes em afirmar que o diagnóstico precoce pode ser o fiel da balança entre o sucesso e o fracasso na luta contra a doença. Silu pode se considerar uma pessoa de sorte. Dois anos após o início do tratamento e perto de ser considerada livre do câncer, os médicos admitem que a ausência de outros problemas de saúde e a excelente forma física contribuíram para que o câncer não se espalhasse por outras partes do corpo.
A atitude positiva de Silu durante todo o processo é exposta nas redes sociais. O sorriso e o orgulho, mesmo nos momentos mais difíceis, servem como incentivo a outras mulheres que passam pela mesma batalha. “Eu recebo muitos relatos de mulheres dizendo que veem meus vídeos e que eles as fazem sentir melhor e que podem enfrentar a doença com a mesma atitude”.